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Mexicanos marcham por tortilha barata
Além de protestar contra aumento de preços, sindicalistas e camponeses pedem mais emprego e aumento de salários
Em dois meses, tortilha subiu 40%; López Obrador quis discursar, mas líderes preferem apresentadora de tevê para não "politizar" o evento
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
Um protesto para reclamar
do aumento dos preços de produtos alimentícios, principalmente a tortilha, reuniu 200
organizações de sindicalistas e
camponeses ontem na Cidade
do México.
Chamada de "marcha da tortilha", é a primeira manifestação contra o presidente Felipe
Calderón, que tem apenas dois
meses no cargo. Andrés Manuel López Obrador, o candidato esquerdista derrotado nas
eleições presidenciais do ano
passado, quis discursar, mas
movimentos camponeses vetaram o discurso dele para não
"politizar" o evento.
Uma bela apresentadora de
TV, Verónica Velasco, seria a
única oradora, e leria a "Declaração do Zócalo, compromisso
de unidade".
O aumento do preço da tortilha gerou a primeira crise inesperada do governo Calderón.
Nos primeiros 45 dias de governo, o quilo da tortilha subiu
cerca de 40%. Há séculos, ela é
base da culinária mexicana.
Há duas semanas, o governo
negociou um limite de preços
com a maior produtora de tortilhas do país, a Maseca, que
controla 70% da produção,
além de redes de supermercados e associações de tortilherias (lanchonetes especializadas em tortilhas). Além disso,
ordenou a importação de 650
toneladas de milho dos Estados
Unidos sem impostos.
Na última semana, a Procuradoria Federal do Consumidor (Profeco) multou diversas
tortilherias por desrespeitar o
tabelamento de preços e suspendeu a comercialização em
20 tortilherias que não justificaram o aumento. Quase 500
tortilherias foram autuadas por
não exibir o preço do quilo ou
usar balanças desreguladas.
Mas o protesto foi mantido,
enquanto a alta dos preços motivou um jogo de empurra sobre quem teria a culpa.
No início, os EUA foram culpados. Com o aumento do uso
de milho na produção de etanol, seu preço subiu muito.
Com o fim dos subsídios ao milho do México no início dos
anos 90, a produção entrou em
crise e o México passou a importar milho americano.
Mas, ironicamente, o México
só importa dos EUA milho
amarelo, usado em rações. O
milho branco, utilizado na tortilha, não é importado.
"Monopólios que produzem
tortilhas aproveitaram o início
do governo Calderón para ver
até onde dava para aumentar os
preços", disse à Folha o economista Macario Schettino, professor do Instituto Tecnológico
de Monterrey.
"Mas a tortilha ficou em segundo plano na marcha. Os sindicatos querem se posicionar
para futuras reformas do Calderón, e o López Obrador tentou pegar carona", diz.
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