São Paulo, quinta-feira, 01 de fevereiro de 2007

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País é o que mais desconfia do Congresso

DA REDAÇÃO

Uma declaração dada pelo presidente equatoriano, Rafael Correa, em entrevista à Folha logo após sua eleição, em novembro, ilustra à perfeição o tipo de relação que o país mantém com seu Congresso. "Oitenta por cento do que o país precisa independe do Congresso. Quero reestruturar o Congresso porque é um foco de instabilidade, usado como instrumento de máfias políticas para desestabilizar governos que não se deixam subjugar."
Correa não é o único a pensar assim em seu país: na última pesquisa do Latinobarómetro sobre a democracia na América Latina, só 9% dos equatorianos diziam confiar em seu Congresso, o pior índice da região.
Tamanha descrença não vem de hoje. Em 2004, o então presidente Lucio Gutiérrez foi destituído por um Congresso acuado, numa votação feita às pressas e sem casa cheia porque a população estava literalmente às portas da Câmara única, ameaçando invadi-la. Em meio a acusações de conchavo político, corrupção e manobras para votações e para formação de blocos (não tão distintas das que eclodem agora), o presidente do Congresso à época também foi destituído, e seguiu-se uma depuração da Casa.
A frase "Que se vayan todos" (que saiam todos -em alusão ao Congresso) tomou os muros de Quito então. Já não era inédita na história recente do país, repetiu-se nos meses seguintes e ainda hoje persiste em pichações. Correa, ciente desse ranço, não lançou nenhum candidato ao Congresso por seu partido.
Tal desconfiança advém de um quadro de instabilidade política que talvez seja o mais convulsivo da América do Sul na última década. Em dez anos, nada menos que nove pessoas diferentes ocuparam a Presidência do Equador, e pelo menos três delas, destituídas, ainda enfrentam processos. A confiança nos partidos políticos, que se reflete na descrença no Congresso, bate em 8% segundo o Latinobarómetro-de novo a pior da região.
O rescaldo é o velho dilema do ovo e da galinha: desconfiança gerando instabilidade que por sua vez só alimenta mais desconfiança.


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