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País é o que mais desconfia do Congresso
DA REDAÇÃO
Uma declaração dada pelo
presidente equatoriano, Rafael Correa, em entrevista à
Folha logo após sua eleição,
em novembro, ilustra à perfeição o tipo de relação que o
país mantém com seu Congresso. "Oitenta por cento do
que o país precisa independe
do Congresso. Quero reestruturar o Congresso porque
é um foco de instabilidade,
usado como instrumento de
máfias políticas para desestabilizar governos que não se
deixam subjugar."
Correa não é o único a
pensar assim em seu país: na
última pesquisa do Latinobarómetro sobre a democracia na América Latina, só 9%
dos equatorianos diziam
confiar em seu Congresso, o
pior índice da região.
Tamanha descrença não
vem de hoje. Em 2004, o então presidente Lucio Gutiérrez foi destituído por um
Congresso acuado, numa votação feita às pressas e sem
casa cheia porque a população estava literalmente às
portas da Câmara única,
ameaçando invadi-la. Em
meio a acusações de conchavo político, corrupção e manobras para votações e para
formação de blocos (não tão
distintas das que eclodem
agora), o presidente do Congresso à época também foi
destituído, e seguiu-se uma
depuração da Casa.
A frase "Que se vayan todos" (que saiam todos -em
alusão ao Congresso) tomou
os muros de Quito então. Já
não era inédita na história
recente do país, repetiu-se
nos meses seguintes e ainda
hoje persiste em pichações.
Correa, ciente desse ranço,
não lançou nenhum candidato ao Congresso por seu
partido.
Tal desconfiança advém
de um quadro de instabilidade política que talvez seja o
mais convulsivo da América
do Sul na última década. Em
dez anos, nada menos que
nove pessoas diferentes ocuparam a Presidência do
Equador, e pelo menos três
delas, destituídas, ainda enfrentam processos. A confiança nos partidos políticos,
que se reflete na descrença
no Congresso, bate em 8%
segundo o Latinobarómetro-de novo a pior da região.
O rescaldo é o velho dilema do ovo e da galinha: desconfiança gerando instabilidade que por sua vez só alimenta mais desconfiança.
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