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Irã paga custo de exportar a Revolução Islâmica
Trinta anos após volta do aiatolá Khomeini ao país mudar a região, Teerã enfrenta paradoxo
Apesar de sua influência se expandir no Oriente Médio e em países muçulmanos, regime é considerado pária por boa parte do Ocidente
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Há exatos 30 anos, o aiatolá
Ruhollah Khomeini descia de
um Jumbo da Air France na
pista do aeroporto de Teerã,
vindo do exílio nos arredores
de Paris, e era aclamado por milhões de pessoas em transe,
num gesto que simboliza a volta triunfal do clérigo e prenuncia a revolução iraniana.
Em junho de 1979, nasceria a
República Islâmica do Irã, que
ostenta no título suas raízes ao
mesmo tempo republicanas
-inspiradas pela tradição revolucionária e antimonárquica
ocidental- e religiosas.
Depois de varrer a monarquia pró-ocidental do xá Reza
Pahlavi, a revolta civil acabou
confiscada pelos clérigos, que
transformaram o país numa
teocracia xiita (vertente minoritária no islã, mas majoritária
no país persa) que convive mal
com as instituições políticas republicanas iranianas.
A Revolução Islâmica abriu
uma nova era geopolítica no
Oriente Médio. A primeira reviravolta se deu em 1979, com o
apoio do governo dos aiatolás à
tomada de reféns por militantes islâmicos na embaixada
americana em Teerã, que durou um ano e meio e selou o fim
das relações entre Irã e EUA.
Em plena Guerra Fria, o governo proclamou sua independência dos blocos americano e
soviético e inundou o mundo
islâmico, incluindo os países de
maioria sunita (facção rival e
majoritária no islã), com livros
e fitas cassete contendo discursos incendiários instando ao levante contra governos "infiéis".
A Revolução Islâmica coincidiu com a decadência dos projetos nacionalistas e panarabistas que predominaram no
Oriente Médio dos anos 50 aos
70. Militantes muçulmanos reprimidos por governos que
consideravam o islã uma ameaça -na Turquia, na Síria, no
Egito- ganharam autoconfiança com o êxito da revolta iraniana em derrubar o regime abertamente antirreligioso e pró-americano do xá.
"A revolução no Irã permitiu
ao fundamentalismo tornar-se
uma força que mudou a concepção do islã político do Marrocos à Malásia", disse à Efe Vali Nasr, do americano Council
on Foreign Relations.
Meses após a revolução no
Irã, radicais sauditas tomaram
a mesquita de Meca, num sequestro que terminou em banho de sangue no lugar mais sagrado do islã. Em 1981, um jovem soldado religioso metralhou, a mando de oposicionistas radicais, o ditador egípcio
Anuar Sadat, em represália ao
acordo de paz com Israel.
No ano seguinte, logo após a
invasão israelense do Líbano
para expulsar de lá a liderança
laica da Organização para Libertação da Palestina (OLP),
surgia o Hizbollah, grupo xiita
inspirado na Revolução Islâmica que hoje, misto de milícia e
partido, participa do governo
libanês. Com ojeriza ao regime
de Teerã, o Ocidente forneceu
armas e dinheiro ao Iraque de
Saddam Hussein em sua longa
guerra com o Irã.
O poder de inspirar e apoiar
grupos islâmicos em outros
países teve um alto custo político e não trouxe ganhos concretos para os aiatolás, que seguiram governando o país após a
morte de Khomeini, em 1989.
"A revolução é responsável
direta pelo isolamento internacional de Teerã", diz Trita Parsi, presidente do Conselho Iraniano-Americano, citando as
várias rodadas de sanções econômicas e comerciais impostas
ao Irã e até hoje em vigor.
Concorda Fariba Adelkhah,
do Centro de Estudos e Relações Estratégicas de Paris. "O
islã radical pode até ter proliferado após 1979, mas o Irã continua sozinho." Ela chama de
"circunstancial convergência
de interesses" a boa relação entre os governos sírio e iraniano.
Mesmo assim, o Irã é visto
como incontornável -devido a
seu tamanho e localização, seus
recursos naturais e seus contatos privilegiados com grupos
radicais influentes. "O governo
sente a pressão externa, e muitos segmentos da sociedade iraniana estão em descompasso
com os aiatolás. Mas o regime
está firme e forte", afirma Parsi.
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