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De aliados a antagonistas, Teerã e Washington ensaiam distensão
DA REPORTAGEM LOCAL
Coincidindo com os 30 anos
da Revolução Islâmica, a chegada de Barack Obama à Casa
Branca abre caminho para uma
distensão nas relações entre
Washington e Teerã.
Aliados entre os anos 50 e 70,
Irã e EUA romperam relações
diplomáticas depois que militantes, em represália ao asilo
dado pelo então presidente
Jimmy Carter ao xá deposto,
tomaram 52 reféns na embaixada americana em Teerã, em
1979. O sequestro durou 444
dias e abriu a era de sanções comerciais contra o Irã.
A tensão se acirrou no início
dos anos 80, com o apoio da Casa Branca ao ataque lançado
pelo vizinho Iraque de Saddam
Hussein contra o Irã para aniquilar a Revolução Islâmica e
conquistar territórios ricos em
petróleo e gás. A guerra durou
oito anos e deixou, segundo estimativas, 1 milhão de mortos.
Sob Bill Clinton (1993-2001),
os EUA estiveram próximos da
retomada do diálogo com o Irã,
então presidido pelo reformista Mohammed Khatami.
Mas George W. Bush, sucessor de Clinton, incluiu o país no
"eixo do mal", com Iraque e Coreia do Norte, e acusou Teerã
de fomentar o terrorismo e de
desenvolver um programa nuclear secreto. O Irã nega as alegações, mas houve nos últimos
meses vários relatos de um possível ataque aéreo israelense ou
americano contra as centrais
atômicas iranianas.
Cumprindo promessa de
campanha, Obama reiterou
após a posse sua disposição de
conversar com o Irã. O presidente linha dura Mahmoud
Ahmadinejad respondeu listando condições -entre as
quais um pedido de desculpas
pelos "crimes contra o Irã" e o
improvável fim do apoio da Casa Branca a Israel.
Outros líderes iranianos, como o ex-presidente Akbar Hafsanjani, foram mais comedidos, dizendo-se na expectativa
de que Obama mude a política
americana de estimular a "mudança de regime" em Teerã.
A maioria dos analistas acredita que uma negociação direta
só deve começar de fato após as
eleições presidenciais iranianas de junho, nas quais Ahmadinejad, candidato à reeleição,
enfrentará rivais mais e menos
pragmáticos que ele.
"É uma tremenda oportunidade que está se abrindo entre
os dois países", diz Trita Parsi,
presidente do Conselho Nacional Americano-Iraniano. "O
caminho da diplomacia é complicado e lento, mas é o único
possível para dissipar de vez o
risco de um conflito militar envolvendo o Irã", afirma.
Pérsia
Boa parte da força do Irã como interlocutor das grandes
potências vem do papel peculiar que o país teve na história.
Ao contrário da maioria dos vizinhos, como o Iraque e o Paquistão, não foi colonizado
nem "criado" por estrangeiros.
O Irã de hoje descende diretamente do Império Persa de
2.500 anos atrás -um dos
maiores na Antiguidade- e até
1935 era conhecido internacionalmente como Pérsia.
Isso explica, apesar de existirem minorias árabes e curdas, a
relativa coesão territorial, linguística e cultural da nação iraniana, descrita na literatura como altiva e orgulhosa.
Ao longo do século 20 o Irã
ensaiou alianças -com a Alemanha nazista na Segunda
Guerra e com os EUA na Guerra Fria-, mas sempre buscou
manter autonomia.
(SA)
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