São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2009

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De aliados a antagonistas, Teerã e Washington ensaiam distensão

DA REPORTAGEM LOCAL

Coincidindo com os 30 anos da Revolução Islâmica, a chegada de Barack Obama à Casa Branca abre caminho para uma distensão nas relações entre Washington e Teerã.
Aliados entre os anos 50 e 70, Irã e EUA romperam relações diplomáticas depois que militantes, em represália ao asilo dado pelo então presidente Jimmy Carter ao xá deposto, tomaram 52 reféns na embaixada americana em Teerã, em 1979. O sequestro durou 444 dias e abriu a era de sanções comerciais contra o Irã.
A tensão se acirrou no início dos anos 80, com o apoio da Casa Branca ao ataque lançado pelo vizinho Iraque de Saddam Hussein contra o Irã para aniquilar a Revolução Islâmica e conquistar territórios ricos em petróleo e gás. A guerra durou oito anos e deixou, segundo estimativas, 1 milhão de mortos.
Sob Bill Clinton (1993-2001), os EUA estiveram próximos da retomada do diálogo com o Irã, então presidido pelo reformista Mohammed Khatami.
Mas George W. Bush, sucessor de Clinton, incluiu o país no "eixo do mal", com Iraque e Coreia do Norte, e acusou Teerã de fomentar o terrorismo e de desenvolver um programa nuclear secreto. O Irã nega as alegações, mas houve nos últimos meses vários relatos de um possível ataque aéreo israelense ou americano contra as centrais atômicas iranianas.
Cumprindo promessa de campanha, Obama reiterou após a posse sua disposição de conversar com o Irã. O presidente linha dura Mahmoud Ahmadinejad respondeu listando condições -entre as quais um pedido de desculpas pelos "crimes contra o Irã" e o improvável fim do apoio da Casa Branca a Israel.
Outros líderes iranianos, como o ex-presidente Akbar Hafsanjani, foram mais comedidos, dizendo-se na expectativa de que Obama mude a política americana de estimular a "mudança de regime" em Teerã.
A maioria dos analistas acredita que uma negociação direta só deve começar de fato após as eleições presidenciais iranianas de junho, nas quais Ahmadinejad, candidato à reeleição, enfrentará rivais mais e menos pragmáticos que ele.
"É uma tremenda oportunidade que está se abrindo entre os dois países", diz Trita Parsi, presidente do Conselho Nacional Americano-Iraniano. "O caminho da diplomacia é complicado e lento, mas é o único possível para dissipar de vez o risco de um conflito militar envolvendo o Irã", afirma.

Pérsia
Boa parte da força do Irã como interlocutor das grandes potências vem do papel peculiar que o país teve na história. Ao contrário da maioria dos vizinhos, como o Iraque e o Paquistão, não foi colonizado nem "criado" por estrangeiros.
O Irã de hoje descende diretamente do Império Persa de 2.500 anos atrás -um dos maiores na Antiguidade- e até 1935 era conhecido internacionalmente como Pérsia.
Isso explica, apesar de existirem minorias árabes e curdas, a relativa coesão territorial, linguística e cultural da nação iraniana, descrita na literatura como altiva e orgulhosa.
Ao longo do século 20 o Irã ensaiou alianças -com a Alemanha nazista na Segunda Guerra e com os EUA na Guerra Fria-, mas sempre buscou manter autonomia. (SA)


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