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Petróleo também motiva França e Rússia
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Não é simplesmente por razões
humanistas e por respeito ao direito internacional que alguns
países, como a França e a Rússia,
resolveram se opor a uma guerra
preventiva ao Iraque. A questão
econômica e geoestratégica também têm um peso fundamental.
As companhias petrolíferas TotalFinaElf (francesa) e Lukoil
(russa) seriam as principais beneficiárias de contratos já assinados
pelo governo iraquiano com empresas de vários países e que
aguardavam o fim do embargo
econômico ao Iraque para serem
postos em prática. Esses contratos, segundo o Deutsche Bank, seriam da ordem de US$ 38 bilhões.
Se Saddam Hussein for derrubado, é bastante provável que os
EUA criem um governo provisório no país que favoreceria as
companhias americanas e britânicas na exploração do petróleo
do Iraque, a segunda maior reserva do mundo.
"Se os EUA se instalam no Iraque, não serão nem os russos nem
os franceses que terão os contratos, mas as companhias americanas", diz André Pertuzio, ex-conselheiro jurídico de energia do
Banco Mundial e consultor internacional sobre petróleo.
Segundo o relatório do Deutsche Bank, feito em 2002, "o Iraque
aferrou a França, a Rússia e a China a contratos lucrativos, de bilhões de dólares, de modo a influenciar os cinco membros do
Conselho de Segurança da ONU".
O presidente da TotalFinaElf,
Thierry Desmarest, manifestou
preocupação a respeito. "Se nós
quisermos ser um ator durável na
indústria petrolífera, devemos
nos posicionar no Oriente Médio", declarou ele, durante apresentação dos resultados financeiros do grupo. O valor de negócios
da TotalFinaElf caiu 3% em 2002.
Curiosamente, 50% das ações da
companhia são controladas por
capital estrangeiro, inclusive fundos de pensão americanos.
A produção iraquiana atual e
oficial é de 2,5 milhões de barris
por dia. Cerca de 70% são adquiridos por empresas ocidentais,
sobretudo americanas, por intermédio da Rússia. Apenas 24 dos
73 poços do país estão funcionando normalmente. As instalações
são antigas ou se encontram em
mau estado.
A revista "Time" divulgou que
as empresas americanas Halliburton, Slumberger, Bektel Group e
Baker Hughes, prestadoras de
serviço para as petrolíferas, poderiam dividir entre si contratos de
US$ 2 bilhões para a reconstrução
da infra-estrutura iraquiana.
De posse das reservas iraquianas, os EUA terão adquirido uma
vantagem sem par no controle da
energia mundial e no jogo de forças geopolítico, contendo os
avanços da Rússia e sobretudo da
China.
"O objetivo americano não é
unicamente petrolífero, mas estratégico de maneira geral", diz
Pertuzio. "A partir do momento
em que os EUA disporem das reservas iraquianas, eles podem fazer frente à Opep e relativizar a
importância do petróleo da Rússia, diminuindo a relevância desse
país. Seria também uma arma estratégica contra a China, porque
ela, o Japão e outros países asiáticos importam a metade de seu petróleo do Oriente Médio".
Em compasso com os EUA, a
Rússia, que não pertence à Opep,
está utilizando sua enorme produção para contrabalançar o preço do petróleo ambicionado por
esta organização. A Rússia depende dos EUA por razões financeiras, mas as tensões entre os dois
países têm subido com relação às
reservas petrolíferas descobertas
em Estados da Ásia Central que
antes estavam ligados à URSS.
A Geórgia, o Uzbequistão, a
Ucrânia, o Azerbaijão e a Moldova se reuniram num organismo
que tem por objetivo facilitar a
cooperação econômica e militar
com os EUA. O Casaquistão pode
ser o próximo país a se associar.
Segundo Pertuzio, as reservas
petrolíferas encontradas nos últimos anos no Azerbaijão e no Casaquistão já são superiores às dos
EUA e poderiam alcançar um
quarto das do Oriente Médio,
com exportações de cerca de 1,3
milhões de barris por dia. Oleodutos, porém, precisam ser construídos para levar o petróleo da
região do mar Cáspio para o mar
Negro ou o mar Mediterrâneo.
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