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Putin vai à TV pedir que os russos votem amanhã
Opositores apontam indícios de fraude na eleição parlamentar de dezembro e dizem que há risco de ela
se repetir na presidencial
IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU
Sob acusações generalizadas
de fraudes e manipulações no
pleito de domingo, o presidente
Vladimir Putin fez ontem um
discurso na TV que, para dizer
o mínimo, visava induzir os
eleitores que o apóiam a ir às
urnas votar no seu candidato à
sucessão, o vice-premiê Dmitri
Medvedev.
"Três meses atrás nós elegemos um novo Parlamento. Depois de amanhã, vocês irão votar para o novo presidente. O
movimento para frente da Rússia não pode parar, e as mudanças para melhor têm de continuar", disse Putin.
Com efeito, o partido criado
para apoiar o Kremlin, o Rússia
Unida, abocanhou 64% dos votos no pleito de dezembro. Todas as pesquisas dão a Medvedev algo em torno de 70% dos
votos para a eleição de amanhã,
e os estrategistas de Putin sabem que uma alta abstenção
colocaria dúvidas sobre a legitimidade do processo. Em toda
Moscou, apareceram novas faixas pedindo o comparecimento
dos eleitores às urnas.
Enquanto isso, continuam
surgindo acusações sobre suspeitas de fraudes. O jornal "The
Moscow Times" trouxe ontem
um estudo de dois cientistas-blogueiros analisando dados de
todas as zonas eleitorais russas
na eleição passada.
A descoberta, algo turva porque os blogueiros não quiseram
dar detalhes ou entrevistas,
mostrou que tanto o Rússia
Unida como o comparecimento às urnas em 2 de dezembro
não obedeceram a curvas estatísticas comuns.
Segundo eles, houve muitas
zonas eleitorais com número
de votos redondos (final 0 ou 5)
no país todo, distorcendo o resultado final e indicando suposta fraude. A Comissão Eleitoral não comentou o caso.
O jornal britânico "The
Guardian" publicou em sua
versão online uma reportagem
afirmando que haverá fraude,
amarrando os vários casos que
vêm aparecendo com a pressão
de autoridades sobre servidores públicos para que usem o
voto em trânsito em suas repartições.
"Isso tudo dá um quadro
muito ruim para o país. Mesmo
que não indique uma fraude explícita, joga sombra sobre o
processo. E, de quebra, temos
mais um caso sobre liberdade
de imprensa em vista", diz Lilia
Petrova, do Centro de Estudos
Estratégicos.
Ela citava a situação da jornalista Natalia Morar, da Moldávia. Ela foi considerada persona non grata no país após escrever na revista "The New Times" que o Kremlin estava
bancando secretamente partidos políticos no ano passado.
Na quarta-feira, ela tentou
ingressar no país, agora casada
com um colega russo, Ilia Barabanov. O casamento é um estratagema para tentar convencer as autoridades de que ela
poderia ser considerada russa,
mas o Ministério do Exterior
disse que isso é indiferente.
A agência oficial RIA-Novosti disse que ela foi alimentada e
deverá ser deportada. Está no
aeroporto Domodedovo, a 60
km de Moscou.
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