São Paulo, sábado, 01 de março de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / FEBRE NO MÉXICO

Primárias do Texas levam "obamania" ao sul do Rio Grande

Mudança de imagem resultante da chegada de um negro na Casa Branca beneficiaria México, diz escritor Jorge Castañeda

A intelectual de esquerda Guadalupe Loaeza se queixa de que amigas feministas são "obamaníacas"; grupo musical faz ode a senador

JOÓLLE STOLZ
DO "MONDE", NO MÉXICO

Chapéus mexicanos, trompetes, guitarras e violinos: os "Amigos de Obama" recorreram ao mariachi, gênero musical tipicamente mexicano, para cantar as loas ao candidato negro à Presidência dos Estados Unidos. Ao som da melodia de "Viva México", o cantor do grupo de músicos emigrados destaca as origens modestas do senador democrata, que promete a seguridade social para o "povo trabalhador".
Será que também o México vai sucumbir à "obamania"?
A febre se intensifica com a aproximação das primárias de 4 de março no Texas, onde os latinos formam mais de um terço do eleitorado. Na última segunda-feira, 100 sindicalistas mexicanos foram de ônibus para a texana El Paso para um encontro com Barack Obama. É ali que a polícia de fronteira dos EUA começará, a partir desta semana, a aplicar contra os imigrantes ilegais o programa draconiano "não passe".
As declarações recentes de Obama sobre os vícios do Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte), que desde 1994 liga o México aos EUA e ao Canadá, despertaram interesse ao sul do Rio Grande.
A esquerda intelectual já fez sua escolha: no diário "Reforma", a escritora Guadalupe Loaeza se queixa de que suas amigas feministas mexicanas se bandearam para o campo "obamaníaco", enquanto ela se mantém fiel a Hillary Clinton.

O fator racial
"É engano pensar que os hispânicos não estariam dispostos a votar num candidato afro-americano em função de preconceitos raciais", escreveu Jorge Ramos, editorialista do "Reforma", embora a competição entre as duas comunidades seja inegável na sociedade americana. "Para os negros, Obama é um deles. Do ponto de vista latino, porém, ele é moreno", observou Jorge Castañeda, antigo chefe da diplomacia mexicana e autor de um livro recente sobre a metamorfose da comunidade emigrada, "Ex-Mex", publicado nos EUA.
Os mexicanos têm muita consciência do peso da população latina. A mídia cita projeções do Pew Hispanic Center, segundo as quais os latinos formarão 29% da população dos EUA em 2050 (128 milhões de habitantes), sendo que em 2005 eram 12%. Os emigrados, em 2007, remeteram cerca de US$24 milhões a seu país de origem, formando a segunda maior fonte de divisas do México, depois do petróleo.
Um milhão de imigrantes mexicanos pediram a nacionalidade americana em 2007, um número 59% superior ao ano anterior. Para defender seus emigrados, o México multiplicou seus consulados nos EUA e, sem aguardar o veredicto final das primárias, procurou todos os candidatos democratas e republicanos envolvidos na disputa pela Casa Branca.
Para as elites mexicanas, John McCain seria, a priori, o candidato ideal: republicano, natural de um Estado de fronteira com grande componente hispânico (o Arizona) e promotor de uma reforma da imigração cujos detalhes ele conhece a fundo. Mas Hillary Clinton ou Barack Obama parecem igualmente promissores, ou mais.
Para Casteñeda, o México só poderá se beneficiar "da mudança [positiva] de imagem que resultaria da eleição de um presidente negro nos EUA.


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