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SUCESSÃO NOS EUA / FEBRE NO MÉXICO
Primárias do Texas levam "obamania" ao sul do Rio Grande
Mudança de imagem resultante da chegada de um negro na Casa Branca beneficiaria México, diz escritor Jorge Castañeda
A intelectual de esquerda Guadalupe Loaeza se queixa de que amigas feministas são "obamaníacas"; grupo musical faz ode a senador
JOÓLLE STOLZ
DO "MONDE", NO MÉXICO
Chapéus mexicanos, trompetes, guitarras e violinos: os
"Amigos de Obama" recorreram ao mariachi, gênero musical tipicamente mexicano, para
cantar as loas ao candidato negro à Presidência dos Estados
Unidos. Ao som da melodia de
"Viva México", o cantor do grupo de músicos emigrados destaca as origens modestas do senador democrata, que promete
a seguridade social para o "povo trabalhador".
Será que também o México
vai sucumbir à "obamania"?
A febre se intensifica com a
aproximação das primárias de
4 de março no Texas, onde os
latinos formam mais de um terço do eleitorado. Na última segunda-feira, 100 sindicalistas
mexicanos foram de ônibus para a texana El Paso para um encontro com Barack Obama. É
ali que a polícia de fronteira dos
EUA começará, a partir desta
semana, a aplicar contra os imigrantes ilegais o programa draconiano "não passe".
As declarações recentes de
Obama sobre os vícios do Nafta
(Acordo de Livre Comércio da
América do Norte), que desde
1994 liga o México aos EUA e ao
Canadá, despertaram interesse
ao sul do Rio Grande.
A esquerda intelectual já fez
sua escolha: no diário "Reforma", a escritora Guadalupe
Loaeza se queixa de que suas
amigas feministas mexicanas
se bandearam para o campo
"obamaníaco", enquanto ela se
mantém fiel a Hillary Clinton.
O fator racial
"É engano pensar que os hispânicos não estariam dispostos
a votar num candidato afro-americano em função de preconceitos raciais", escreveu
Jorge Ramos, editorialista do
"Reforma", embora a competição entre as duas comunidades
seja inegável na sociedade americana. "Para os negros, Obama
é um deles. Do ponto de vista
latino, porém, ele é moreno",
observou Jorge Castañeda, antigo chefe da diplomacia mexicana e autor de um livro recente sobre a metamorfose da comunidade emigrada, "Ex-Mex", publicado nos EUA.
Os mexicanos têm muita
consciência do peso da população latina. A mídia cita projeções do Pew Hispanic Center,
segundo as quais os latinos formarão 29% da população dos
EUA em 2050 (128 milhões de
habitantes), sendo que em
2005 eram 12%. Os emigrados,
em 2007, remeteram cerca de
US$24 milhões a seu país de
origem, formando a segunda
maior fonte de divisas do México, depois do petróleo.
Um milhão de imigrantes
mexicanos pediram a nacionalidade americana em 2007, um
número 59% superior ao ano
anterior. Para defender seus
emigrados, o México multiplicou seus consulados nos EUA e,
sem aguardar o veredicto final
das primárias, procurou todos
os candidatos democratas e republicanos envolvidos na disputa pela Casa Branca.
Para as elites mexicanas,
John McCain seria, a priori, o
candidato ideal: republicano,
natural de um Estado de fronteira com grande componente
hispânico (o Arizona) e promotor de uma reforma da imigração cujos detalhes ele conhece
a fundo. Mas Hillary Clinton ou
Barack Obama parecem igualmente promissores, ou mais.
Para Casteñeda, o México só
poderá se beneficiar "da mudança [positiva] de imagem que
resultaria da eleição de um presidente negro nos EUA.
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