São Paulo, terça-feira, 01 de março de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANÁLISE

Arsenal militar egípcio motiva preocupação entre israelenses


REVOLUÇÕES MOSTRAM QUE O PODER TERMINA NAS MÃOS DOS GRUPOS MAIS BEM ORGANIZADOS. PODE SER ESSE O CASO DA IRMANDADE MUÇULMANA NO EGITO


RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Assim como ninguém previu o que ocorreu no Oriente Médio, não há consenso sobre o que poderá acontecer a países passando por revoltas populares, como Egito e Líbia, a médio e longo prazos.
O risco de surgirem regimes islamistas anti-Ocidente e hostis a Israel existe, por mais que o temor seja visto por muitos observadores apenas como reflexo da tradicional política americana e israelense de optar pela estabilidade política proporcionada por ditadores.
Afinal, a história de revoluções costuma mostrar que o poder acaba nas mãos dos grupos políticos mais bem organizados e estruturados.
Poderia ser o caso da Irmandade Muçulmana no Egito. Ou não. Mas um regime abertamente contra Israel viraria de cabeça para baixo a geopolítica regional.
O receio fica maior quando se analisa o vasto arsenal à disposição dos militares egípcios e, em menor grau, líbios. Um Egito hostil seria o pior pesadelo para Israel, ainda mais do que um Irã que detenha a bomba atômica.
Depois de lutar várias guerras com Israel utilizando armamento de origem soviética (Guerra do Sinai de 1956, Guerra dos Seis Dias de 1967, Guerra de Atrito de 1969-1970, Guerra do Yom Kippur de 1973), o Egito assinou acordo de paz com o seu tradicional inimigo.
E passou à esfera de influência dos Estados Unidos, aos poucos substituindo seu arsenal feito na União Soviética por armas ocidentais, especialmente americanas.
O resultado atualmente são Forças Armadas convencionais muito mais poderosas do que as das guerras árabe-israelenses.
Israel conseguia prevalecer em combate por apostar na qualidade em vez de quantidade (isto é, empregar militares mais bem treinados), mas também por contar com equipamento ocidental em geral mais moderno do que o do bloco soviético.
O Exército egípcio tem hoje a segunda frota do planeta do tanque americano M1 Abrams, considerado o melhor existente, empregado com resultados devastadores pelos EUA nas duas guerras com o Iraque.
São cerca de mil desses carros de combate, que pesam 62 toneladas. Israel conta com um tanque excelente e comparável, o Merkava, também em grande quantidade, cerca de 1.600; mas a maior parte ainda é dos primeiros modelos de produção, Merkava 1 e Merkava 2, com uma minoria dos mais modernos 3 e 4.
A Força Aérea Egípcia também foi trocando seus velhos MiG soviéticos por caças ocidentais; o principal deles é o americano F-16 Fighting Falcon -exatamente o mesmo avião empregado por Israel como seu principal caça-bombardeiro.
Ironicamente, os militares de Israel nos últimos anos tinham se concentrado em dois extremos tecnológicos: combater a guerra "assimétrica" de grupos terroristas ou buscar uma defesa antimíssil para fazer frente aos mísseis balísticos do Irã.
Foi planejado reduzir o tamanho de forças convencionais, como blindados e aviões. O novo cenário geopolítico poderá fazer o país rever suas opções.


Texto Anterior: Raio-X: Ellis Goldberg
Próximo Texto: Al Qaeda assiste à história passar ao seu lado nos protestos árabes
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.