São Paulo, terça-feira, 01 de março de 2011

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Al Qaeda assiste à história passar ao seu lado nos protestos árabes

Rede não tem papel na queda de líderes que sempre denunciou

SCOTT SHANE
DO "NEW YORK TIMES"

Os líderes da Al Qaeda vêm há quase duas décadas denunciando os ditadores do mundo árabe como hereges e marionetes do Ocidente e pedindo a sua derrubada.
Agora, populações de um país após o outro vêm promovendo levantes para depor seus líderes -e a Al Qaeda não tem exercido simplesmente nenhum papel nisso. Na verdade, os movimentos oposicionistas que surgiram de modo tão repentino e vêm se mostrando tão fortes têm evitado as duas bases fundamentais do credo da Al Qaeda: a violência assassina e o fanatismo religioso.
Os opositores vêm usando a força defensivamente, tratando o islã como consideração secundária e proclamando sua adesão à democracia, que é repudiada por Osama bin Laden e seus seguidores.
Portanto, para a Al Qaeda -e, possivelmente, não menos para as políticas americanas formuladas em função da ameaça que esta representa-, as revoluções democráticas que vêm chamando a atenção do mundo representam uma encruzilhada.
A rede terrorista irá pouco a pouco se encolher e tornar-se irrelevante? Ou encontrará uma maneira de explorar o caos suscitado pela turbulência política e o desapontamento que inevitavelmente se seguirá às esperanças neste momento tão grandes?
Para muitos especialistas em terrorismo e no Oriente Médio, as últimas semanas têm tudo para representar um desastre de grandes proporções para a Al Qaeda, fazendo jihadistas parecerem observadores passivos da história, e, ao mesmo tempo, oferecendo a jovens muçulmanos alternativa ao terror.
"Até agora -e enfatizo que é até agora-, a situação parece péssima para a Al Qaeda", opinou Paul R. Pillar, que estudou o terrorismo e o Oriente Médio e atua na Universidade Georgetown.
"A democracia é má notícia para terroristas. Quanto mais canais pacíficos as pessoas tiverem pelos quais expressar suas reivindicações e buscar alcançar suas metas, menor é a probabilidade de recorrerem à violência."
Se os líderes da Al Qaeda esperam aproveitar este momento, eles têm demorado. Bin Laden tem se mantido em silêncio. Seu vice egípcio, Ayman al Zawahri, emitiu três comunicados confusos.
Declarações que pareceram estranhamente fora de sintonia com as notícias, nem sequer tomando nota da derrubada do presidente egípcio Hosni Mubarak, cujo governo prendeu e torturou Zawahri na década de 1980.
"Afastar Mubarak do poder era a meta de Zawahri há mais de 20 anos, e ele não conseguiu alcançá-la", disse Brian Fishman, especialista em terrorismo. "Agora, um movimento pró-democracia, não violento e não religioso, livrou-se do egípcio em questão de semanas. Isso é um problema para a Al Qaeda."
"Esses levantes mostram que a nova geração não está muito interessada na ideologia da Al Qaeda", disse Steven Simon, do Council on Foreign Relations, descrevendo os comunicados de Zawahri como "desconsolados".

Tradução de CLARA ALLAIN


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