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Centros de imigração têm condição sub-humana
LAETITIA VAN EECKHOUT
DO "MONDE"
"We are humans!" (Somos
seres humanos!). Agarrados às
barreiras de arame farpado que
cercam o centro de detenção de
Hal Far, em Malta, migrantes
rabiscaram essas palavras num
tecido branco que agitavam como quem lança uma garrafa ao
mar. A viagem de um número
cada vez maior de africanos para o Eldorado europeu acaba
em Malta, muito antes da costa
da Itália, seu objetivo inicial.
Mais de 800 deles encalharam aqui desde janeiro, vindos
das costas da Líbia. Indesejáveis, esses migrantes são sistematicamente trancados, assim
que chegam, em um dos três
centros de detenção da ilha.
No campo de Hal Far, os homens são alojados em barracas,
muitas vezes furadas, sem
aquecimento nem eletricidade,
expostos ao frio do inverno e ao
calor sufocante do verão. No interior das barracas, duas fileiras de beliches coladas umas às
outras, diante das quais os migrantes estendem lonas de
plástico ou cobertores sujos para se protegerem da poeira ou
criarem alguma privacidade.
As mulheres sozinhas e as famílias com crianças são alojadas num prédio de muros decrépitos e que exalam umidade.
Ao longo de corredores iluminados por janelas com grades,
sem vidros, se alinham pequenas peças sem portas. Abertos
aos homens e às mulheres, o estado de higiene dos sanitários
sem água quente ou porta (duas
duchas e duas privadas para 60
pessoas) é desastroso.
Os migrantes não podem sair
desses campos por no mínimo
dois ou três meses. Vindos
principalmente da Somália,
Eritreia, Etiópia ou Sudão, mas
também da Costa do Marfim,
Nigéria ou Congo, todos têm
que passar esse período de espera na esperança de conseguir
asilo. Muito poucos (19 em
2008) conseguem o status de
refugiados. Um bom número
(1.387 de 2.692 em 2008) acaba
conseguindo o equivalente a
uma autorização de estadia
concedida por um ano e que pode ser renovada.
Integração, trabalho e moradia são coisas raras para os migrantes, vistos pela população
local como "pombos que devoram os grãos". Panfletos assinados "Ku Klux Klan" pedem
que não "roubem o trabalho
dos malteses" nem "estuprem
suas mulheres".
Centros de expulsão
Em Lampedusa, pequena faixa de terra italiana mais próxima da Tunísia que da Sicília, a
situação não é menos explosiva. Entre 11 e 14 de março cerca
de 600 imigrantes desembarcaram ali. Até dezembro, os migrantes que chegavam à ilha
não permaneciam ali, sendo rapidamente transferidos para a
península, para centros adaptados para recebê-los.
Em janeiro, porém, o governo italiano decidiu transformar
esse centro de resgate e primeiro acolhimento em centro de
identificação e expulsão. De
uma hora para outra, as condições de abrigo dos migrantes,
até então aceitáveis para um
centro de trânsito, se tornaram
semelhantes às de Malta. Não
há condições para uma estadia
de mais longa duração. Associações locais já estão criando entraves ao início do procedimento de pedido de asilo.
Em 12 de março havia 668
pessoas presas no centro,
aguardando para ser expulsas,
amontoadas em um espaço
concebido para 380 delas. Tunisianos e marroquinos em sua
maioria; alguns já estavam ali
havia mais de 60 dias. Mesmo
que a Itália assinasse acordos
para que fossem readmitidos
em seus países de origem, estes
não estavam preparados para
ver seus emigrantes retornarem em embarcações fretadas.
Tradução de CLARA ALLAIN
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