São Paulo, quarta-feira, 01 de maio de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Kofi Annan pensa em desmantelar equipe após gabinete de Israel aprovar lista de exigências para a investigação

ONU cogita cancelar a missão de Jenin

DA REDAÇÃO

Enfrentando fortes objeções de Israel, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, cogita cancelar a missão que deveria investigar o que ocorreu durante a ofensiva israelense no campo de refugiados palestinos de Jenin (Cisjordânia).
O gabinete do premiê Ariel Sharon decidiu não cooperar com a missão da ONU até que ela atenda a seis exigências divulgadas ontem, como o direito de Israel a rejeitar pedidos da missão para investigar funcionários e soldados e ter acesso a documentos oficiais.
"O secretário-geral [da ONU" está pensando em desmantelar a equipe", disse Kieran Prendergast, subsecretário-geral de Assuntos Políticos da entidade. "Nada será possível sem a cooperação de Israel", acrescentou o diplomata no Conselho de Segurança. Prendergast salientou que, com o passar dos dias, "se tornará mais difícil verificar o que aconteceu".
Os palestinos afirmam que centenas de civis foram mortos na ofensiva israelense contra o campo de Jenin (de 3 a 11 de abril), no que classificaram de "massacre". Israel diz que o campo foi palco da mais dura batalha entre israelenses e palestinos, na qual morreram 23 soldados israelenses e 50 palestinos. O país diz ainda que o campo era uma "fábrica de homens-bomba", de onde saíram 26 terroristas suicidas.
O embaixador dos EUA junto à ONU, John Negroponte, disse que nenhuma decisão foi tomada sobre o futuro da missão e que o país respeitará a decisão de Annan. Os EUA e Israel apoiaram a resolução do Conselho de Segurança que criou a missão.
Na ocasião, em 19 de abril, Washington recebeu aval dos israelenses -que dizem nada ter a esconder- para patrocinar uma resolução de conteúdo mais moderado que aquele de proposta que seria levada a votação formulada pela Síria.
Apesar da retórica favorável ao envio da missão para esclarecer o que ocorreu em Jenin, entretanto, o governo de Sharon passou a colocar obstáculos ao início de suas atividades. A cada nova exigência israelense atendida pela ONU -como, por exemplo, a inclusão de especialistas militares e de combate ao terrorismo- Israel se diz insatisfeito e convoca nova reunião de gabinete para discutir o assunto.

Annan reclama
Annan afirmou que a ONU "realmente fez de tudo para que eles [os israelenses" não tivessem preocupações", acrescentando que os ministros israelenses das Relações Exteriores, Shimon Peres, e da Defesa, Benyamin Ben Eliezer, disseram que ela seria bem-vinda e que seu país não tinham nada a esconder.
"Israel está pronto para qualquer investigação, desde que as mãos estejam completamente limpas. Os palestinos, baseado no que eles próprios dizem, transformaram o campo de Jenin em um centro de terror e assassinatos, de onde foram lançados vários atentados", disse Peres ontem.
O ministro da Informação palestino, Iasser Abed Rabbo, disse que a decisão israelense de vetar a missão demonstra que Israel cometeu crimes de guerra e deve ficar sujeito a sanções da ONU.
Ahmed Abdul Rahman, secretário do gabinete da Autoridade Nacional Palestina (ANP), foi mais enfático, afirmando que a possibilidade do cancelamento da missão em Jenin é um "choque a todos os palestinos e a todos os que acreditam nos direitos humanos".
Já o embaixador do Egito junto à ONU, Ahmed Aboul Gheit, disse que os países árabes devem pedir ao Conselho de Segurança uma dura resposta.
Eles devem utilizar o capítulo 7 da legislação da ONU, segundo o qual, dizem os árabes, Israel é obrigado a aceitar a missão ou então se coloca em uma situação de violação das diretrizes do Conselho. Porém, segundo autoridades dos EUA, principais aliados de Israel, isso não é possível, pois a missão está sob a tutela de Annan, não ficando sujeita a esse tipo de penalidade.

Arafat
Especialistas em segurança dos EUA e do Reino Unido estiveram ontem em Jericó (Cisjordânia), onde visitaram a prisão em que seis palestinos procurados por Israel devem ser mantidos presos. Sua transferência faz parte do acordo para a livre circulação do presidente da ANP, Iasser Arafat, que permanecia cercado por tanques israelenses em seu quartel-general em Ramallah (Cisjordânia), apesar de Israel ter concordado em libertá-lo.
Segundo um alto funcionário palestino, Israel impediu a entrada no palácio presidencial de negociadores palestinos que discutiram os detalhes para o fim do cerco ao local, o que pode adiar a implementação do acordo..
A incursão israelense em Hebron acabou ontem, após dois dias, com nove pessoas mortas e 250 presas. Em nova ação na madrugada de hoje em Rafah, na faixa de Gaza, pelo menos um palestino morreu e oito ficaram feridos após disparos de blindados israelenses.
Israel prendeu dois israelenses que estariam planejando ataques contra árabes.


Com agências internacionais


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