São Paulo, quarta-feira, 01 de maio de 2002

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VENEZUELA

Presidente afirma que impôs 4 condições a golpistas, que foram recusadas; Caracas tem hoje atos a favor e contra Chávez

Chávez diz que fez exigências para renunciar

Reuters
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, durante cerimônia de instalação da comissão de diálogo


DA REDAÇÃO

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse em entrevista publicada ontem por um jornal da República Dominicana que fez quatro exigências para os militares golpistas que o tiraram da Presidência na madrugada do dia 12 de abril, em troca de sua renúncia, mas que não foram aceitas. "Havia quatro condições, que eles não aceitaram. Então disse a eles que preferia ser prisioneiro", afirmou o presidente ao jornal "Listín".
Chávez foi derrubado após uma megamanifestação contra ele em Caracas, no dia 11, que deixou 17 mortos e dezenas de feridos. Dois dias depois, porém, ele retomou o posto após protestos de simpatizantes e pela ação de militares leais a ele.
Entre as exigências, estavam a garantia de vida aos funcionários do governo e o respeito à Constituição, que exigia que, em caso de renúncia do presidente, o cargo fosse assumido pelo vice. Após a consumação do golpe, o cargo foi assumido pelo líder empresarial Pedro Carmona, que dissolveu a Assembléia Nacional e suspendeu a Constituição, antes de ser obrigado a entregar o cargo que ocupou por menos de 48 horas.
As outras exigência de Chávez eram poder fazer um pronunciamento em cadeia de rádio e TV para explicar os motivos de sua saída e a permissão para a saída ao exterior dos membros do governo que quisessem se exilar.
Segundo ele, os golpistas teriam apresentado a ele um manuscrito com o texto de renúncia para que assinasse, o que ele recusou. "Deram esse decreto para que assinasse. Eles já o haviam enviado por fax, já o conhecia, e lhes disse: "Olhem, eu poderia ao menos considerar a possibilidade de renunciar se forem cumpridas ao menos as seguintes condições, e defini quatro condições'", disse.
Chávez afirmou na entrevista ter ordenado a mobilização de tanques e tropas para proteger o palácio na noite do dia 11 para "dissuadir qualquer força militar que tentasse atacar o palácio". "Como militar, estive por esses caminhos e me dei conta de que vinha um golpe de Estado", disse.
Ele disse ter aceitado a possibilidade de renunciar "diante da perspectiva de que se iniciassem enfrentamentos que poderiam ter enchido o país de sangue". "Tínhamos informações de que estavam organizando grupos para vir ao palácio quando amanhecesse, e isso poderia ter gerado uma guerra civil", disse.

Diálogo
Advertindo que alguns opositores continuam tentando tirá-lo do poder, Chávez instalou ontem oficialmente uma comissão de diálogo para tentar reduzir a tensão após o golpe frustrado.
"Há atores que podem estar pensando em insistir em buscar uma via inconstitucional", afirmou Chávez. "Há tensões vivas. Faço um chamado para que todos ponhamos a maior de nossas capacidades, de nossa vontade, para desativar os geradores do mal, do perigo, da ameaça", disse.
A comissão, com 39 membros, será liderada pelo novo vice-presidente, indicado domingo, José Vicente Rangel, considerado o "operador político" de Chávez.

Manifestações
O presidente deve enfrentar hoje a primeira grande manifestação da oposição desde o megaprotesto no dia anterior ao golpe. A marcha de 1º de Maio, convocada pela oposicionista CTV (Confederação de Trabalhadores da Venezuela), deverá passar a apenas 400 metros de distância de outra marcha, convocada pela oficialista FBT (Força Bolivariana de Trabalhadores) em apoio a Chávez.
Segundo o presidente da CTV, Carlos Ortega, houve um acordo com a FBT para monitorar os dois atos para evitar que eles se encontrem e que haja incidentes graves.

Com agências internacionais

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