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São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2003

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DIREITOS HUMANOS

Ministro da Cultura diz esperar que "essas coisas deixem de acontecer"; Caetano assina manifesto contra Fidel

Repressão em Cuba é "lamentável", diz Gil

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

O ministro da Cultura, Gilberto Gil, classificou ontem como "uma intolerância" e "lamentável" a execução por fuzilamento de três homens acusados de sequestro de um barco e condenados à morte em Cuba, no dia 11 de abril.
"Há muito tempo que a gente espera que essas intolerâncias (execução) no campo do relacionamento entre as pessoas e o Estado e os governos se abrandem e que pessoas não tenham que ser executadas por causa de problemas", disse Gil durante visita ontem à tarde a Belém (PA).
O regime do ditador Fidel Castro também vem sendo criticado por promover uma onda de repressão a opositores. Cerca de 75 dissidentes foram condenados a penas altas de prisão.
"É um alerta lamentável em relação à ocorrência disso em qualquer lugar. O que espero é que também em Cuba essas coisas possam deixar de acontecer", completou o ministro.
Questionado se pretendia assinar algum tipo de carta contra as execuções em Cuba, assim como seu amigo, o cantor e compositor Caetano Veloso, e outros artistas, Gil disse que não havia planejado nada. Ele não se manifestou sobre a carta assinada por Caetano.
O nome de Caetano aparece ao lado dos de mais de 50 artistas e intelectuais, na maioria espanhóis, numa carta que condena as execuções e a repressão em Cuba. Assinaram o documento também os cineastas Pedro Almodóvar e Fernando Trueba, o filósofo Fernando Savater, os atores Javier Bardem e Ariadna Gil e o músico Joan Manuel Serrat, entre outros.
A onda de repressão cubana também foi criticada em outro texto, assinado por 32 acadêmicos de esquerda radicados nos EUA, entre eles o palestino Edward Said, o chileno Ariel Dorfman e o americano Noam Chomsky. "Pedimos ao governo de Fidel Castro que liberte todos os presos políticos e deixe que o povo cubano fale, escreva e se organize com liberdade", diz a carta, publicada pelo jornal espanhol "La Jornada".
Numa outra mensagem publicada ontem pelo "Jornada", o escritor colombiano Gabriel García Márquez ratificou seu apoio a Fidel, dizendo que suas declarações contra a pena de morte, em resposta a críticas da escritora Susan Sontag por não ter se manifestado sobre a repressão em Cuba, haviam sido "manipuladas".
O secretário de Estado do Vaticano, cardeal Angelo Sodano, por sua vez, disse que o papa João Paulo 2º segue "confiando" em Fidel e acredita que "o diálogo contribuirá para a democratização do país".

Acordo
A Comissão Européia decidiu ontem arquivar um pedido de Cuba para ingressar no chamado Acordo de Cotonu, que integra 78 países de África, Caribe e Pacífico com a União Européia, em resposta à repressão contra dissidentes. O órgão havia anunciado em fevereiro seu apoio à entrada de Cuba no acordo, que inclui questões políticas, comerciais e assistenciais.
"Obviamente a situação mudou", disse ontem em Bruxelas um porta-voz do comissário de relações exteriores do órgão, Chris Patten. "Produziu-se uma deterioração política muito grave diante da qual a comissão não podia ficar em silêncio", disse.
O regime de Fidel conseguiu, por outro lado, uma pequena vitória política anteontem ao ser reeleito, para um mandato de mais três anos, como membro da Comissão de Direitos Humanos da ONU, presidida atualmente pela Líbia (país que também é acusado de graves violações aos direitos humanos e de apoio ao terrorismo). O governo cubano afirmou ontem que a reeleição do país para a comissão da ONU é "um reconhecimento da contribuição da ilha para os direitos humanos em todo o mundo".
Em texto publicado no jornal oficial "Granma", o governo diz que a reeleição do país é uma "vitória" que "contrasta com a embaraçosa derrota dos EUA em 2001", quando os americanos perderam seu assento na comissão de 53 membros. Os EUA acabaram voltando à comissão no ano passado. Cuba permanece no grupo desde 1989.


Com agências internacionais e "El País"


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