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MEMÓRIA
O hoje coronel Steve Hasty, 53, travou o que é considerado o derradeiro confronto norte-americano no Vietnã
"Último marine" foi salvo por um temporal
PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK
Era pouco depois do meio-dia
do dia 29 de abril de 1975 quando
o telefone do consulado de Can
Tho, no delta do rio Mekong, tocou. Os helicópteros já haviam
começado o resgate que ficou famoso na Embaixada dos Estados
Unidos em Saigon, e a ordem era
de evacuação imediata. Aos 23
anos, Steve Hasty comandava o
grupo de seis marines que defendia o consulado e travou o que é
considerado o último confronto
americano no atoleiro vietnamita.
Trinta anos depois, o hoje coronel Hasty, 53, conta que foi salvo
pela chuva, no trecho mais perigoso do trajeto de 15 horas rio
abaixo. ""Tínhamos saído há poucas horas, quando sofremos uma
emboscada, com lança-granadas
e muitos tiros. Mas estávamos
muito bem armados, não acho
que eles esperavam, e conseguimos fugir", relata.
"Quando nos aproximávamos
da parte mais estreita do rio, em
que estaríamos em grande perigo
novamente, de repente o céu se fechou e começou uma chuva tão
intensa que você não podia ver a
frente do barco se estivesse na
parte de trás. O inimigo não podia
nos ver, e o som da chuva batendo
no rio era tão alto que encobriu o
som do nosso motor", conta.
"Encobertos pelo temporal"
"Então conseguimos passar pela parte mais perigosa da viagem
encobertos pelo temporal. Na hora que a chuva parou, já estávamos no trecho mais aberto, bem
mais seguro. Não havia repórteres
lá em baixo em Can Tho como havia em Saigon, então muito poucas pessoas sabem dessa história",
diz. Além dos seis marines, estavam 12 diplomatas norte-americanos e cerca de 300 vietnamitas
em fuga dos comunistas.
"Infelizmente em Saigon perdemos dois marines mortos e um ferido", afirma Hasty, que chegou
ao Vietnã em 1972, quando a
guerra já entrava no ponto crítico
para os EUA.
Passadas a emboscada e a chuva, o barco navegou até as três horas da manhã do dia 30 de abril,
quando chegou a um navio comercial, que os transportou e depois os entregou a uma embarcação da Marinha dos EUA. Ontem
essa fuga completou 30 anos.
Desde o Vietnã, Hasty já esteve
em mais de dez guerras ou confrontos, como intervenção na Somália (1993) e as duas guerras do
Iraque. Formado em relações internacionais pela Universidade
George Washington e com mestrado em segurança interna e estudos estratégicos, o coronel não
vê o Vietnã como uma lição, minimiza os efeitos da guerra no
imaginário norte-americano e fala que, "se as pessoas não querem
se ajudar, você não pode fazer isso
por elas".
Sem traumas
"Eu até tenho alguns traumas,
mas não específicos, estive muito
na guerra desde então. Algumas
pessoas superestimam o impacto
que o Vietnã teve nos EUA".
Com a linguagem típica dos filmes de guerra, ele fez uma reprimenda quando questionado sobre o Exército: "Na América, nunca confunda um marine [fuzileiro
naval] com um soldado. O soldado ficará muito feliz se for chamado de marine. Mas o marine ficará
furioso".
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