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REINO UNIDO
Pesquisas indicam vitória trabalhista, mas analistas não crêem que premiê terá força para concluir mandato
Desgastado, Blair caminha para reeleição
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
Se as pesquisas eleitorais não falharem terrivelmente, Tony Blair
conduzirá o Partido Trabalhista
britânico a outra vitória inédita ao
se eleger primeiro-ministro pela
terceira vez consecutiva na próxima quinta-feira. O grande tema
dos bastidores da campanha, no
entanto, é por quanto tempo o
premiê, cuja imagem pessoal está
cada vez mais desgastada, conseguirá se manter no poder em seu
terceiro mandato.
Depois de verem sua vantagem
em relação ao partido Conservador cair bastante há um mês, os
trabalhistas se recuperaram e têm
se mantido na dianteira por sete a
nove pontos percentuais.
Nem uma notícia bombástica
vazada para a imprensa na última
quarta-feira à noite chegou a ter
efeito negativo nesse resultado
que, segundo pesquisas divulgadas anteontem, continuava estável. Foi divulgado o conteúdo de
um parecer escrito pelo procurador-geral do país, Lord Goldsmith, e endereçado a Blair, em sete de março de 2003, em que o jurista defendia que uma segunda
resolução do Conselho de Segurança da ONU -que não foi
aprovada- seria o respaldo ideal
para um ataque ao Iraque.
O documento nunca foi mostrado ao Parlamento e, dias depois, Lord Goldsmith emitiu outro parecer em que dizia, mostrando uma mudança de opinião,
que a invasão seria justificável,
mesmo sem uma nova resolução.
O barulho causado por isso certamente trouxe dor de cabeça a
Blair, que teve na última quinta-feira seu pior dia de campanha.
Mas, para analistas, isso não arrancará a vitória dele, já que o episódio tende a ser considerado
"mais do mesmo".
"Acho que isso não terá efeito
significativo. Os britânicos já fizeram suas cabeças em relação à
guerra do Iraque há algum tempo", disse Tim Bale, professor de
política da universidade Sussex.
Thatcher viaja
Os conservadores parecem ter
perfeita consciência de que devem perder. Segundo o jornal
"The Times", a ex-primeira ministra Margareth Thatcher deixou
o país rumo a Veneza na última
quinta-feira. A baronesa estaria
deprimida com a iminente nova
derrota de seu partido e, por isso,
em vez de sair em campanha, como havia feito em 2001, teria optado por férias e só voltará ao país
na véspera da eleição.
Michael Howard, candidato dos
conservadores, também demonstra já sentir o peso da derrota. Em
um ato considerado de desespero
por analistas, partiu para o ataque
pessoal a Blair, chamando o premiê de mentiroso por conta da
guerra no Iraque, insulto considerado inaceitável pelas regras de
etiqueta da política britânica.
"Esse tipo de linguagem não é
usada pelos políticos aqui. Se você
chama alguém de mentiroso no
Parlamento, por exemplo, tem de
se desculpar" disse Matthew
Symonds, editor de política da revista "The Economist".
Um dos problemas dos conservadores é não poder lucrar muito
com o tema da guerra no Iraque,
já que apoiaram a decisão de Blair
na época do ataque.
Ainda que eles se recuperem,
precisarão de uma vantagem de
cerca de nove pontos percentuais
no voto popular para voltar ao
poder, já que a atual distribuição
de assentos e votos -num regime eleitoral distrital por maioria
simples- favorece os trabalhistas.
A população, no entanto, parece
desencantada com Blair. E o pós-guerra no Iraque -com as revelações de que o país não tinha armas de destruição em massa-
parece ter contado substancialmente para isso. A popularidade
do primeiro-ministro tem seguido rota decrescente.
Voto pelo bolso
De onde viria o fôlego, então,
para a vitória por um terceiro
mandato? Da economia. É a resposta unânime dos especialistas.
"Os eleitores daqui tendem a
decidir seu voto de acordo com
sua situação econômica, e eles
sentem que estão melhores hoje
do que há oito anos", afirmou
George Jones, professor do departamento de Governo da LSE
(London School of Economics
and Political Science).
Em relação a 2001, ano das últimas eleições, o crescimento econômico passou de 2,2% para
3,1%, no ano passado. No mesmo
período, o desemprego caiu de
3,2% para 2,7%.
O crédito dos bons resultados
vai para Gordon Brown, o poderoso ministro da Fazenda. Por isso, as especulações entre políticos,
analistas e jornalistas, atualmente,
são sobre quanto tempo mais levará para Blair se afastar, abrindo
espaço para Brown.
O primeiro-ministro garante
que cumprirá o terceiro mandato
até o fim, se eleito. Mas ninguém
parece acreditar nisso.
Segundo especialistas, o comparecimento dos eleitores no dia
da votação e o tamanho da vantagem trabalhista darão uma primeira medida do tempo que resta
a Blair no poder.
Hoje, o partido de Blair tem
maioria de 157 cadeiras no Parlamento. Uma vantagem sobre os
conservadores menor que 60 cadeiras seria ruim para a força do
premiê dentro do partido.
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