São Paulo, domingo, 01 de maio de 2005

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REINO UNIDO

Pesquisas indicam vitória trabalhista, mas analistas não crêem que premiê terá força para concluir mandato

Desgastado, Blair caminha para reeleição

ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

Se as pesquisas eleitorais não falharem terrivelmente, Tony Blair conduzirá o Partido Trabalhista britânico a outra vitória inédita ao se eleger primeiro-ministro pela terceira vez consecutiva na próxima quinta-feira. O grande tema dos bastidores da campanha, no entanto, é por quanto tempo o premiê, cuja imagem pessoal está cada vez mais desgastada, conseguirá se manter no poder em seu terceiro mandato.
Depois de verem sua vantagem em relação ao partido Conservador cair bastante há um mês, os trabalhistas se recuperaram e têm se mantido na dianteira por sete a nove pontos percentuais.
Nem uma notícia bombástica vazada para a imprensa na última quarta-feira à noite chegou a ter efeito negativo nesse resultado que, segundo pesquisas divulgadas anteontem, continuava estável. Foi divulgado o conteúdo de um parecer escrito pelo procurador-geral do país, Lord Goldsmith, e endereçado a Blair, em sete de março de 2003, em que o jurista defendia que uma segunda resolução do Conselho de Segurança da ONU -que não foi aprovada- seria o respaldo ideal para um ataque ao Iraque.
O documento nunca foi mostrado ao Parlamento e, dias depois, Lord Goldsmith emitiu outro parecer em que dizia, mostrando uma mudança de opinião, que a invasão seria justificável, mesmo sem uma nova resolução.
O barulho causado por isso certamente trouxe dor de cabeça a Blair, que teve na última quinta-feira seu pior dia de campanha. Mas, para analistas, isso não arrancará a vitória dele, já que o episódio tende a ser considerado "mais do mesmo".
"Acho que isso não terá efeito significativo. Os britânicos já fizeram suas cabeças em relação à guerra do Iraque há algum tempo", disse Tim Bale, professor de política da universidade Sussex.

Thatcher viaja
Os conservadores parecem ter perfeita consciência de que devem perder. Segundo o jornal "The Times", a ex-primeira ministra Margareth Thatcher deixou o país rumo a Veneza na última quinta-feira. A baronesa estaria deprimida com a iminente nova derrota de seu partido e, por isso, em vez de sair em campanha, como havia feito em 2001, teria optado por férias e só voltará ao país na véspera da eleição.
Michael Howard, candidato dos conservadores, também demonstra já sentir o peso da derrota. Em um ato considerado de desespero por analistas, partiu para o ataque pessoal a Blair, chamando o premiê de mentiroso por conta da guerra no Iraque, insulto considerado inaceitável pelas regras de etiqueta da política britânica.
"Esse tipo de linguagem não é usada pelos políticos aqui. Se você chama alguém de mentiroso no Parlamento, por exemplo, tem de se desculpar" disse Matthew Symonds, editor de política da revista "The Economist".
Um dos problemas dos conservadores é não poder lucrar muito com o tema da guerra no Iraque, já que apoiaram a decisão de Blair na época do ataque.
Ainda que eles se recuperem, precisarão de uma vantagem de cerca de nove pontos percentuais no voto popular para voltar ao poder, já que a atual distribuição de assentos e votos -num regime eleitoral distrital por maioria simples- favorece os trabalhistas.
A população, no entanto, parece desencantada com Blair. E o pós-guerra no Iraque -com as revelações de que o país não tinha armas de destruição em massa- parece ter contado substancialmente para isso. A popularidade do primeiro-ministro tem seguido rota decrescente.

Voto pelo bolso
De onde viria o fôlego, então, para a vitória por um terceiro mandato? Da economia. É a resposta unânime dos especialistas.
"Os eleitores daqui tendem a decidir seu voto de acordo com sua situação econômica, e eles sentem que estão melhores hoje do que há oito anos", afirmou George Jones, professor do departamento de Governo da LSE (London School of Economics and Political Science).
Em relação a 2001, ano das últimas eleições, o crescimento econômico passou de 2,2% para 3,1%, no ano passado. No mesmo período, o desemprego caiu de 3,2% para 2,7%.
O crédito dos bons resultados vai para Gordon Brown, o poderoso ministro da Fazenda. Por isso, as especulações entre políticos, analistas e jornalistas, atualmente, são sobre quanto tempo mais levará para Blair se afastar, abrindo espaço para Brown.
O primeiro-ministro garante que cumprirá o terceiro mandato até o fim, se eleito. Mas ninguém parece acreditar nisso.
Segundo especialistas, o comparecimento dos eleitores no dia da votação e o tamanho da vantagem trabalhista darão uma primeira medida do tempo que resta a Blair no poder.
Hoje, o partido de Blair tem maioria de 157 cadeiras no Parlamento. Uma vantagem sobre os conservadores menor que 60 cadeiras seria ruim para a força do premiê dentro do partido.


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