São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2008

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Ex-fascista vai presidir a Câmara na Itália

Gianfranco Fini, que reformulou partido dos herdeiros de Mussolini, defende linha dura contra imigrantes

DA REDAÇÃO

Gianfranco Fini, 56, ex-saudosista do fascismo e hoje líder da direitista Aliança Nacional, foi ontem eleito presidente da Câmara dos Deputados italiana. Na segunda-feira, Gianni Alemanno, do mesmo partido, se elegera prefeito de Roma, o que dá a essa corrente conservadora, aliada do futuro primeiro-ministro Silvio Berlusconi, proeminência institucional inédita desde o final da Segunda Guerra.
Fini, que é visto como o provável sucessor político de Berlusconi, reuniu ontem, na quarta votação em plenário, o apoio de 355 dos 611 deputados eleitos em 13 e 14 de abril.
Ele mudou o rumo de seu partido, procurando dissociá-lo do fascismo e dos saudosos do ditador Benito Mussolini (1922-1943). Militante desde os 17 anos, em 1987 ele sucedeu Giorgio Almirante na presidência do neofascista MSI (Movimento Social Italiano).
Em 1994, o partido foi dissolvido, com a criação em seu lugar da atual Aliança Nacional, que se apresenta como um partido republicano da direita, defensor do pluripartidarismo e sem o ranço anti-semita.
Ainda ontem, em seu primeiro discurso, ele apelou aos povos do Mediterrâneo -judeus, cristãos e muçulmanos- ao mútuo respeito de suas diferentes identidades, como forma de evitar os extremismos.
Também elogiou o papa Bento 16, "guia espiritual da maioria dos italianos" e anunciou que instalaria na Câmara uma sala para fumantes. Ele próprio é um fumante compulsivo.
Fini foi ministro das Relações Exteriores entre 2004 e 2006, no último governo Berlusconi, derrubado pelas legislativas que deram lugar ao efêmero governo de centro-esquerda de Romano Prodi.
Em visita a Israel, em 2003, ele qualificou o fascismo de "a expressão do mal absoluto" e criticou as leis de discriminação racial adotadas na Itália para seguir o exemplo da Alemanha de Hitler. Também afirmou ter mudado de idéia com relação a Mussolini, por ele designado, dez anos antes, como "o maior estadista italiano do século 20".
Durante a campanha legislativa, a Aliança Nacional atribuiu o aumento da criminalidade à política de tolerância com os imigrantes. Seus dirigentes chegaram a defender a derrubada com tratores, em cidades italianas, dos acampamentos de ciganos vindos da Romênia.
A Reuters lembrou ontem que, ainda na semana passada, em campanha por Alemanno à Prefeitura de Roma, Fini interpelou imigrantes numa feira em praça pública, forçando-os a mostrar papéis de residente.
Paradoxalmente, Fini passa por um moderado diante de outro aliado de Berlusconi. Umberto Bossi, líder da Liga Norte, chegou a defender recentemente o uso de armas de fogo para forçar os imigrantes ilegais a deixarem a Itália.
A eleição do início de abril deu maioria à coalizão de Berlusconi no Parlamento. A centro-esquerda liderada pela Partido Democrático, última versão do outrora poderoso Partido Comunista Italiano, ficou em minoria. A esquerda e os verdes não conseguiram o percentual mínimo de votos para ter representação parlamentar.


Com agências internacionais


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