São Paulo, sexta-feira, 01 de maio de 2009

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Ante surto, governo do México para país

Presidente recomenda que cidadãos fiquem em casa e que serviços não essenciais fechem as portas para evitar disseminação de gripe

Depois de atraso inicial em testes, governo eleva para 312 os casos confirmados; economia do país pena com impacto de vírus e do pânico

Henry Romero/Reuters
Militares patrulham o aeroporto da Cidade do México, quase deserta; indústria turística é uma das mais afetadas por paralisia

JONATHAN ROEDER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DA CIDADE DO MÉXICO

O presidente do México, Felipe Calderón, recomendou a seus cidadãos que fiquem em casa, pediu o fechamento temporário de empresas e ordenou a suspensão de serviços públicos não essenciais, praticamente paralisando o país. Ontem o governo subiu para 312 os casos confirmados de gripe suína -um salto em relação aos 99 da véspera e aos 97 computados pela Organização Mundial da Saúde. Entre esses, há 12 mortes (a OMS conta 7). "Não há lugar mais seguro para se protegerem do contágio da gripe suína que em suas próprias residências", disse o conservador em rede nacional de TV na noite de anteontem, madrugada de ontem no Brasil. As medidas devem quase parar um país cuja economia já está claramente abalada pelo surto de gripe. Medir o rombo, no entanto, ainda é difícil. O governo Calderón, que já havia suspendido as aulas em todo o país até quarta-feira, pediu que permaneçam em funcionamento apenas negócios como supermercados, hospitais e farmácias. Entre os servidores públicos, trabalharão só aqueles incumbidos de serviços essenciais, como os policiais. O governo da Cidade do México foi ainda mais longe. Determinou que baixassem as portas os estabelecimentos comerciais, bares e praticamente qualquer lugar capaz de reunir grandes grupos de pessoas.
O Banco do México prevê que o PIB mexicano possa se contrair em até 4,8% neste ano, mas avisa que essa previsão não leva em conta o impacto negativo do surto -este é estimado a princípio em uma retração adicional de ao menos 0,5 ponto. "A economia já se encontra em recessão, e agora está caindo numa recessão mais profunda", disse Alfredo Coutiño, economista da Moody's em Westchester, Pensilvânia. Ele previu que o surto da doença possa subtrair até um ponto percentual do PIB anual mexicano. Conforme indicam as previsões pessimistas, a situação do México já estava crítica. A recessão nos EUA, que compra 80% das exportações mexicanas, levou a uma queda vertiginosa na produção industrial e reduziu o fluxo de remessas de trabalhadores mexicanos nos EUA a parentes que ficaram.
Ao mesmo tempo, a produção de petróleo vem caindo consideravelmente, assim como os preços do produto -o petróleo e as remessas são as duas maiores fontes de renda do México, seguidas pelo turismo, atingido em cheio pelo pânico provocado pela gripe. Praias e aviões estão vazios, e turistas e agências de viagens vêm cancelando viagens previstas ao México. Gonzalo Brockmann, diretor do Conselho de Turismo da Cidade do México, diz que 70% dos quartos de hotel na capital estão vazios, enquanto vários outros serviços, desde aluguel de carros até restaurantes, perdem milhões de dólares ao dia.
Se a epidemia tiver sido controlada até 6 de maio, a data prevista para o reinício das aulas, conforme o esperado, "vamos sentir os efeitos por uma ou duas semanas, mas poderemos superar as dificuldades rapidamente", disse Brockmann. Se ela durar mais tempo, o sofrimento será maior.

Casos antigos
O salto no número de casos anunciados pelo governo mexicano ontem não se deve a novas contaminações. Ele resulta do processamento de testes que esperavam para passar pelos laboratórios desde que o surto foi registrado, no meio de abril. Isso porque o material de pacientes mexicanos está sendo enviado a EUA e Canadá, com maior capacidade laboratorial. O governo Calderón defende que as medidas de contenção e restrição de circulação têm tido sucesso e provocaram o estancamento das contaminações. Na capital mexicana, as ruas normalmente apinhadas de transeuntes estão incomumente calmas, com os moradores assustados preferindo ficar em casa. Muitas das pessoas que se aventuram a sair usam máscaras cirúrgicas e evitam cumprimentos de praxe, como apertos de mão e beijos no rosto. Tradução de CLARA ALLAIN


Com agências internacionais


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