São Paulo, Sábado, 01 de Maio de 1999
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FHC critica "uso unilateral da força" da Otan contra Iugoslávia

WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso criticou ontem a Otan por ter buscado "uma estratégia de solução baseada no uso unilateral da força" para atuar no conflito em Kosovo, sem que, para isso, tivesse apoio do Conselho de Segurança da ONU.
FHC também disse que, apesar de condenar a forma de ação da Otan, o Brasil não podia "aceitar as violações sistemáticas de direitos humanos" ocorridas em Kosovo.
"Que, nesse caso, atingem níveis que evocam algumas das memórias mais tristes e obscuras de nosso século", afirmou o presidente.
Essa aparente contradição das afirmações, feitas ontem durante discurso no Palácio do Itamaraty na formatura de 35 novos diplomatas, se repetiu nas declarações de FHC na Alemanha e no Reino Unido, há duas semanas.
No encontro com o chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schroeder, o presidente apoiou a proposta dele de submeter ao Conselho de Segurança as ações de ataque da Otan. O mesmo foi dito ao premiê britânico, Tony Blair.
Essa incoerência entre discurso e ação havia sido revelada no início do conflito, quando o Itamaraty divulgou nota criticando o ataque da Otan e, logo depois, o representante do Brasil no Conselho de Segurança votou a favor da ofensiva.
O chanceler Luiz Felipe Lampreia disse que, "apesar de a ação da Otan se realizar por ponderáveis motivações humanitárias (...), ela é atestado preocupante de que as instituições e o direito internacional ainda não se conseguiram impor definitivamente".
Para Lampreia, "em última instância", a ordem mundial tem sido regida "pelo exercício do poder econômico e militar". "E, ao Brasil e à grande maioria das nações, não interessa tal estado de coisas. Faz sentido, portanto, que trabalhemos por mudanças."


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