São Paulo, sábado, 01 de junho de 2002

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TERRORISMO

Para Jean-Louis Bruguière, haverá um ataque na Europa em breve

Especialista francês prevê atentado

PAULO DANIEL FARAH
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Apesar de avanços na cooperação internacional e de medidas preventivas, pode haver um grande atentado na Europa em breve. A opinião é de um dos maiores especialistas europeus no combate ao terrorismo, o juiz francês Jean-Louis Bruguière, 59, que, desde 1981, viaja sob proteção, pois já sofreu atentados.
A seguir, trechos da entrevista que ele concedeu à Folha em Brasília, onde participou de um seminário sobre terrorismo no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Folha - Qual é a definição de terrorismo?
Jean-Louis Bruguière -
Não existe nenhuma. São tantos os elementos que, juridicamente, não há uma definição universal de terrorismo. Na França, não definimos o terrorismo, mas incriminamos as atividades terroristas e adotamos um mecanismo de agravamento da pena. Infrações que em geral são classificadas como menores, como o roubo de veículos e a falsificação de papéis, se forem praticadas em um contexto terrorista, também têm sua pena agravada.

Folha - O que o sr. achou da ofensiva no Afeganistão?
Bruguière -
Essa ação era necessária, levando em conta os elementos trágicos do 11 de setembro, o que sabíamos sobre o envolvimento da Al Qaeda e o fato de que houve uma aliança operacional entre o Taleban e a Al Qaeda, entre o mulá Omar e Osama bin Laden -a Al Qaeda se tornou quase um fenômeno de Estado.
A resposta militar foi imposta. Essa operação foi necessária, mas não suficiente para erradicar o islamismo sunita radical. Não basta eliminar a Al Qaeda. Os eventos de setembro são o ponto de partida de uma nova era, de ameaça grave. É importante ficar alerta.

Folha - Quais são as divergências mais expressivas entre a França e os EUA na luta antiterror?
Bruguière -
Não há divergência de apreciação no que concerne à necessidade de combater o terrorismo. Isso é um ponto forte. Mas há dificuldades verdadeiras, como a questão da pena de morte e o problema dos tribunais de exceção instituídos após 11 de setembro. A França e outros países europeus já disseram que não podem extraditar terroristas em risco de serem condenados à morte.

Folha - Os atentados contra os EUA o surpreenderam?
Bruguière -
Sim e não. Quem poderia imaginar o que aconteceu? A partir de 1996, os grupos em torno da Al Qaeda reorientaram claramente sua posição contra os EUA, que substituíram um pouco a França como alvo preferencial.
Nós trabalhamos um pouco no deserto. Mas creio que havia sinais muito fortes de que haveria um atentado. O governo americano me pediu para ser um especialista, sobretudo sobre conspirações. Minha convicção forte era que algo aconteceria. As análises que fizemos, os elementos e a experiência que tínhamos nos davam a entender que, infelizmente, havia algo de novo, que os EUA poderiam ser atingidos. É lógico que não imaginávamos que seria o 11 de setembro. Depois, aumentamos sensivelmente o nível e a intensidade da cooperação.

Folha - O sr. acredita que os EUA não levaram a sério as ameaças?
Bruguière -
Não quero entrar nessa polêmica, forte neste momento, mas digo o que penso.

Folha - Os EUA vêm falando em ameaças de terrorismo com bastante frequência...
Bruguière -
É importante sensibilizar a população, mas não se deve fragilizá-la gratuitamente. O que ela pode fazer? Não muita coisa. Estar alerta, apoiar os políticos, mas não se deve fragilizá-la, pois é uma forma de ataque psicológico.

Folha - O sr. crê na possibilidade de um grande atentado em breve?
Bruguière -
Sim, com certeza. Estou extremamente preocupado. A probalidade de uma ação na Europa é muito grande.

Folha - Quais seriam as motivações para um atentado?
Bruguière -
Infelizmente, isso é bastante simples. A vontade de promover a guerra santa. Nesse domínio, os EUA são considerados o alvo preferencial porque, simbolicamente, representam a Descrença, com D maiúsculo, o que justifica, segundo essa leitura anômala das Escrituras, o recurso à luta armada por todos os meios.

Folha - A política externa dos EUA tem alguma influência?
Bruguière -
Há fatores de agravamento da ameaça, como a situação no Oriente Médio.

Folha - É possível traçar um perfil dos grupos terroristas?
Bruguière -
A ameaça da Al Qaeda e a de organizações tradicionais como o Hamas e o Jihad Islâmico são bem diferentes. As últimas não oferecem maiores problemas, atuam em um setor limitado e ligado à questão palestina.

Folha - O sr. vê perigo na tríplice fronteira do Brasil?
Bruguière -
Há uma comunidade de risco, com possíveis aderências no campo cultural, ideológico, político. É preciso estar alerta. Há uma necessidade de resolver o problema na fronteira, como observei quando estive lá [o juiz preferiu não informar em que ano".

Folha - O que a França está fazendo para reduzir atos contra judeus?
Bruguière -
Nossas autoridades deram uma resposta bastante forte a essas ações.



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