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TERRORISMO
Para Jean-Louis Bruguière, haverá um ataque na Europa em breve
Especialista francês prevê atentado
PAULO DANIEL FARAH
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Apesar de avanços na cooperação internacional e de medidas
preventivas, pode haver um grande atentado na Europa em breve.
A opinião é de um dos maiores especialistas europeus no combate
ao terrorismo, o juiz francês Jean-Louis Bruguière, 59, que, desde
1981, viaja sob proteção, pois já
sofreu atentados.
A seguir, trechos da entrevista
que ele concedeu à Folha em Brasília, onde participou de um seminário sobre terrorismo no STJ
(Superior Tribunal de Justiça).
Folha - Qual é a definição de terrorismo?
Jean-Louis Bruguière - Não existe nenhuma. São tantos os elementos que, juridicamente, não
há uma definição universal de terrorismo. Na França, não definimos o terrorismo, mas incriminamos as atividades terroristas e
adotamos um mecanismo de
agravamento da pena. Infrações
que em geral são classificadas como menores, como o roubo de
veículos e a falsificação de papéis,
se forem praticadas em um contexto terrorista, também têm sua
pena agravada.
Folha - O que o sr. achou da ofensiva no Afeganistão?
Bruguière - Essa ação era necessária, levando em conta os elementos trágicos do 11 de setembro, o que sabíamos sobre o envolvimento da Al Qaeda e o fato
de que houve uma aliança operacional entre o Taleban e a Al Qaeda, entre o mulá Omar e Osama
bin Laden -a Al Qaeda se tornou
quase um fenômeno de Estado.
A resposta militar foi imposta.
Essa operação foi necessária, mas
não suficiente para erradicar o islamismo sunita radical. Não basta
eliminar a Al Qaeda. Os eventos
de setembro são o ponto de partida de uma nova era, de ameaça
grave. É importante ficar alerta.
Folha - Quais são as divergências
mais expressivas entre a França e
os EUA na luta antiterror?
Bruguière - Não há divergência
de apreciação no que concerne à
necessidade de combater o terrorismo. Isso é um ponto forte. Mas
há dificuldades verdadeiras, como a questão da pena de morte e
o problema dos tribunais de exceção instituídos após 11 de setembro. A França e outros países europeus já disseram que não podem extraditar terroristas em risco de serem condenados à morte.
Folha - Os atentados contra os
EUA o surpreenderam?
Bruguière - Sim e não. Quem poderia imaginar o que aconteceu?
A partir de 1996, os grupos em
torno da Al Qaeda reorientaram
claramente sua posição contra os
EUA, que substituíram um pouco
a França como alvo preferencial.
Nós trabalhamos um pouco no
deserto. Mas creio que havia sinais muito fortes de que haveria
um atentado. O governo americano me pediu para ser um especialista, sobretudo sobre conspirações. Minha convicção forte era
que algo aconteceria. As análises
que fizemos, os elementos e a experiência que tínhamos nos davam a entender que, infelizmente,
havia algo de novo, que os EUA
poderiam ser atingidos. É lógico
que não imaginávamos que seria
o 11 de setembro. Depois, aumentamos sensivelmente o nível e a
intensidade da cooperação.
Folha - O sr. acredita que os EUA
não levaram a sério as ameaças?
Bruguière - Não quero entrar
nessa polêmica, forte neste momento, mas digo o que penso.
Folha - Os EUA vêm falando em
ameaças de terrorismo com bastante frequência...
Bruguière - É importante sensibilizar a população, mas não se
deve fragilizá-la gratuitamente. O
que ela pode fazer? Não muita coisa. Estar alerta, apoiar os políticos,
mas não se deve fragilizá-la, pois é
uma forma de ataque psicológico.
Folha - O sr. crê na possibilidade
de um grande atentado em breve?
Bruguière - Sim, com certeza.
Estou extremamente preocupado. A probalidade de uma ação na
Europa é muito grande.
Folha - Quais seriam as motivações para um atentado?
Bruguière - Infelizmente, isso é
bastante simples. A vontade de
promover a guerra santa. Nesse
domínio, os EUA são considerados o alvo preferencial porque,
simbolicamente, representam a
Descrença, com D maiúsculo, o
que justifica, segundo essa leitura
anômala das Escrituras, o recurso
à luta armada por todos os meios.
Folha - A política externa dos EUA
tem alguma influência?
Bruguière - Há fatores de agravamento da ameaça, como a situação no Oriente Médio.
Folha - É possível traçar um perfil
dos grupos terroristas?
Bruguière - A ameaça da Al Qaeda e a de organizações tradicionais como o Hamas e o Jihad Islâmico são bem diferentes. As últimas não oferecem maiores problemas, atuam em um setor limitado e ligado à questão palestina.
Folha - O sr. vê perigo na tríplice
fronteira do Brasil?
Bruguière - Há uma comunidade de risco, com possíveis aderências no campo cultural, ideológico, político. É preciso estar alerta.
Há uma necessidade de resolver o
problema na fronteira, como observei quando estive lá [o juiz preferiu não informar em que ano".
Folha - O que a França está fazendo para reduzir atos contra judeus?
Bruguière - Nossas autoridades
deram uma resposta bastante forte a essas ações.
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