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WATERGATE
Fonte do repórter Bob Woodward no escândalo que derrubou o presidente Richard Nixon é Mark Felt, ex-número 2 do FBI
Após 33 anos, "Garganta Profunda" se revela
DA REDAÇÃO
Acabou ontem o maior mistério da política americana nas últimas décadas. "Garganta Profunda", a principal fonte de informação do jornalista Bob Woodward
nas reportagens do "Washington
Post" que revelaram a ligação do
governo de Richard Nixon (1969-1974) com o escândalo Watergate,
é W. Mark Felt, o número 2 do
FBI nos anos 70.
Felt, hoje com 91 anos, assumiu
a identidade em um texto assinado pelo advogado John D. O'Connor e publicado ontem pela revista "Vanity Fair". Mas a razão que
fez do ex-agente "Garganta Profunda", no entanto, é citada apenas vagamente no texto: o filho de
Felt, Mark Jr., disse ao advogado
que o pai se referira certa vez ao
informante na terceira pessoa e
dissera que ele "fez o que fez porque era o único modo de lidar
com a corrupção na Casa Branca e
no Departamento da Justiça".
Woodward, Carl Bernstein (co-autor das reportagens sobre o
Watergate), Ben Bradlee (editor-chefe do jornal na época) e o
"Post" confirmaram que Felt foi a
fonte das informações que culminaram na renúncia de Nixon, em
1974. Oficialmente, os três eram
os únicos a conhecer a identidade.
"W. Mark Felt era "Garganta
Profunda" e nos ajudou de modo
incomensurável na cobertura do
Watergate. Mas (...) muitas outras
fontes e membros do governo nos
ajudaram", escreveram os jornalistas. Woodward mantinha um
acordo com "Garganta Profunda"
para só revelar a identidade de sua
fonte após a morte dela. O apelido
(Deep Throat, no original) foi retirado do título de um filme pornográfico de sucesso na época.
O jornalista não confirmou a
O'Connor que Felt fosse seu informante. Ele questionava, segundo o advogado, se Felt gozava de
plena sanidade mental ao decidir
vir a público. A confirmação veio
apenas no fim da tarde, no comunicado divulgado pelo "Post".
O'Connor diz na "Vanity Fair"
que conheceu Felt por meio do
neto do ex-agente, Nick, que era
amigo de faculdade de sua filha.
O assunto emergiu em um jantar em 2002, quando O'Connor
disse a Nick que seu pai trabalhara no FBI nos anos 40. Nick então
contou quem era o avô e foi indagado se sabia se tratar de "Garganta Profunda". A resposta foi
que a família sempre duvidara da
suspeita -Felt era corriqueiramente citado como possível fonte
de Woodward-, mas que ultimamente a via com atenção.
O'Connor, ex-promotor federal
e hoje advogado na Califórnia,
tornou-se representante legal da
família. Felt mantivera a identidade sob segredo a vida toda, mas
mais recentemente decidiu confirmá-la à família e a amigos próximos. Já cientes, Nick e sua mãe,
Joan, queriam resguardá-lo legalmente para que viesse a público.
Mas Felt -que fora condenado
em 1980 por autorizar invasões
ilegais quando trabalhava no FBI
e depois recebera o perdão do
presidente Ronald Reagan em
1981- continuava relutante.
Com a deterioração de sua saúde, a revelação se tornou premente para seus familiares. Segundo
O'Connor, Joan teria convencido
o pai usando como argumento o
fato de que ele, e não apenas
Woodward, deveria experimentar em vida o status de herói.
Celebrizado nas páginas do
"Post", "Garganta Profunda" foi
imortalizando em "Todos os Homens do Presidente" (1974), livro
de Woodward e Bernstein sobre o
Watergate, e no filme homônimo,
de 1976, na pele de Hal Holbrook.
O argumento derradeiro, segundo O'Connor: a glória advinda de seu papel na revelação do
Watergate renderia a Felt dinheiro para a educação dos netos.
Leia a reportagem da "Vanity Fair" na www.folha.com.br/051511
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