São Paulo, quarta-feira, 01 de junho de 2005

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WATERGATE

Fonte do repórter Bob Woodward no escândalo que derrubou o presidente Richard Nixon é Mark Felt, ex-número 2 do FBI

Após 33 anos, "Garganta Profunda" se revela

DA REDAÇÃO

Acabou ontem o maior mistério da política americana nas últimas décadas. "Garganta Profunda", a principal fonte de informação do jornalista Bob Woodward nas reportagens do "Washington Post" que revelaram a ligação do governo de Richard Nixon (1969-1974) com o escândalo Watergate, é W. Mark Felt, o número 2 do FBI nos anos 70.
Felt, hoje com 91 anos, assumiu a identidade em um texto assinado pelo advogado John D. O'Connor e publicado ontem pela revista "Vanity Fair". Mas a razão que fez do ex-agente "Garganta Profunda", no entanto, é citada apenas vagamente no texto: o filho de Felt, Mark Jr., disse ao advogado que o pai se referira certa vez ao informante na terceira pessoa e dissera que ele "fez o que fez porque era o único modo de lidar com a corrupção na Casa Branca e no Departamento da Justiça".
Woodward, Carl Bernstein (co-autor das reportagens sobre o Watergate), Ben Bradlee (editor-chefe do jornal na época) e o "Post" confirmaram que Felt foi a fonte das informações que culminaram na renúncia de Nixon, em 1974. Oficialmente, os três eram os únicos a conhecer a identidade.
"W. Mark Felt era "Garganta Profunda" e nos ajudou de modo incomensurável na cobertura do Watergate. Mas (...) muitas outras fontes e membros do governo nos ajudaram", escreveram os jornalistas. Woodward mantinha um acordo com "Garganta Profunda" para só revelar a identidade de sua fonte após a morte dela. O apelido (Deep Throat, no original) foi retirado do título de um filme pornográfico de sucesso na época.
O jornalista não confirmou a O'Connor que Felt fosse seu informante. Ele questionava, segundo o advogado, se Felt gozava de plena sanidade mental ao decidir vir a público. A confirmação veio apenas no fim da tarde, no comunicado divulgado pelo "Post".
O'Connor diz na "Vanity Fair" que conheceu Felt por meio do neto do ex-agente, Nick, que era amigo de faculdade de sua filha.
O assunto emergiu em um jantar em 2002, quando O'Connor disse a Nick que seu pai trabalhara no FBI nos anos 40. Nick então contou quem era o avô e foi indagado se sabia se tratar de "Garganta Profunda". A resposta foi que a família sempre duvidara da suspeita -Felt era corriqueiramente citado como possível fonte de Woodward-, mas que ultimamente a via com atenção.
O'Connor, ex-promotor federal e hoje advogado na Califórnia, tornou-se representante legal da família. Felt mantivera a identidade sob segredo a vida toda, mas mais recentemente decidiu confirmá-la à família e a amigos próximos. Já cientes, Nick e sua mãe, Joan, queriam resguardá-lo legalmente para que viesse a público.
Mas Felt -que fora condenado em 1980 por autorizar invasões ilegais quando trabalhava no FBI e depois recebera o perdão do presidente Ronald Reagan em 1981- continuava relutante.
Com a deterioração de sua saúde, a revelação se tornou premente para seus familiares. Segundo O'Connor, Joan teria convencido o pai usando como argumento o fato de que ele, e não apenas Woodward, deveria experimentar em vida o status de herói.
Celebrizado nas páginas do "Post", "Garganta Profunda" foi imortalizando em "Todos os Homens do Presidente" (1974), livro de Woodward e Bernstein sobre o Watergate, e no filme homônimo, de 1976, na pele de Hal Holbrook.
O argumento derradeiro, segundo O'Connor: a glória advinda de seu papel na revelação do Watergate renderia a Felt dinheiro para a educação dos netos.


Leia a reportagem da "Vanity Fair" na www.folha.com.br/051511

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