São Paulo, quarta-feira, 01 de junho de 2005

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GUERRA SEM LIMITES

Para a ONG, a prisão é como gulag

Bush diz que acusação da Anistia sobre Guantánamo é "absurda"

PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK

O presidente dos EUA, George W. Bush, classificou ontem de "absurdo" um relatório da Anistia Internacional que acusou o país de colaborar para um retrocesso na defesa dos direitos humanos.
Na divulgação do relatório, há uma semana, a secretária-geral da Anistia, Irene Khan, afirmou que a base norte-americana de Guantánamo, em Cuba -para onde são levados os suspeitos de terrorismo-, é o "gulag dos tempos atuais", em uma referência aos campos de trabalhos forçados da extinta União Soviética.
Ontem, Bush afirmou que era uma "declaração absurda" e que "os Estados Unidos são um país que promove a liberdade ao redor do mundo". Na avaliação do presidente, "pareceu que eles basearam algumas de suas decisões em declarações de pessoas que estavam detidas, pessoas que odeiam a América".
Em resposta, o diretor-executivo da Anistia Internacional nos EUA, William F. Schulz, disse: "O que é absurdo é a tentativa do presidente Bush de negar as políticas deliberadas de sua administração, que deteve indivíduos sem acusação ou julgamento nas prisões em Guantánamo, Bagram [Afeganistão] e outros locais. O que é absurdo e ultrajante é a falência do governo em fazer uma investigação profunda e independente".
"Esse governo nunca acha "absurdo" quando criticamos Cuba ou a China, ou quando condenamos as violações cometida no Iraque sob o regime de Saddam Hussein", afirmou.
O relatório da Anistia foi divulgado pouco depois de uma investigação militar ter confirmado casos em que o Alcorão, livro sagrado para os seguidores do islamismo, foi profanado por interrogadores e guardas em Guantánamo. O relatório, no entanto, não confirmou que o Alcorão tivesse sido jogado em uma privada -informação dada pela revista "Newsweek" que gerou protestos em todo o mundo muçulmano. A revista se retratou, em meio a intensa pressão da Casa Branca.
Há algumas semanas, o jornal "The New York Times" relatou a história de um motorista de táxi afegão que morreu sob tortura na prisão de Bagram sob custódia dos EUA.
Além de Bush, o vice-presidente, Dick Cheney, também saiu em defesa do governo. Em entrevista à CNN, disse que se sentiu "ofendido" com o relatório. "Para a Anistia Internacional sugerir que de algum modo os EUA são violadores dos direitos humanos, eu francamente simplesmente não os levo a sério", afirmou o vice-presidente.
"Algumas vezes há alegações de maus-tratos, mas, se você for investigar, em quase todos os casos elas vieram de alguém que estava preso, foi solto e agora fica contando mentiras sobre como foi tratado", disse Cheney.
De acordo com o vice, os prisioneiros de Guantánamo "têm sido bem tratados, de maneira humana e decente".


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