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AMÉRICA LATINA
Crescimento do poder dos traficantes e denúncias de ligações com autoridades atingem candidato do governo
Narcotráfico afeta as eleições no México
MARCIO AITH
ENVIADO ESPECIAL AO MÉXICO
Na fracionada memória que os
eleitores mexicanos têm do PRI
(Partido Revolucionário Institucional), partido que governa o
país há 71 anos, os anos 90 ficarão
provavelmente marcados pela
corrupção e pela ligação do governo com o narcotráfico.
Os fantasmas da violência e do
conluio entre políticos importantes do PRI com traficantes transformaram-se nos dois maiores temas das eleições presidenciais e
parlamentares que se realizam
amanhã. O tema afeta diretamente o candidato do PRI, Francisco
Labastida Ochoa, que, segundo as
pesquisas, está empatado com o
candidato oposicionista Vicente
Fox Quesada, do PAN (Partido da
Ação Nacional).
Labastida é acusado por seus
opositores de ter fechado um
acordo com chefes do tráfico
quando, há dez anos, governava o
Estado de Sinaloa, na costa do Pacífico, o mais violento e a sede do
tráfico de cocaína do México.
Um relatório da CIA (serviço secreto dos EUA) divulgado há dois
meses pelo jornal "The Washington Times" diz: "Labastida negou
ter recebido propinas dos traficantes, mas, de maneira privada,
reconhece que teve de chegar a
acordos e fazer vistas grossas para
algumas de suas atividades".
Labastida nega e menciona os
dois atentados que sofreu como
prova de que combateu o cartel da
cocaína mexicano. "Meu carro foi
metralhado duas vezes. Numa delas, eu estava com minha mulher e
escapei por pouco".
Labastida também teve um contato próximo com o assunto drogas, como ministro do Interior,
controlando a polícia federal e negociando nacionalmente o programa de combate ao tráfico.
Labastida à parte, as ligações do
crime organizado com o PRI já
entraram para a história.
Salinas
Elas ficaram escancaradas com
a derrocada do presidente Carlos
Salinas de Gortari (1988-1994), o
político que dormiu como "queridinho" da comunidade internacional por implementar reformas
liberais e acordou em desgraça
por causa da crise financeira do
país, em 1994, e da descoberta de
que seu irmão mais velho, Raúl
Salinas, havia instalado uma sucursal do narcotráfico dentro de
"Los Pinos", o palácio presidencial mexicano.
Raúl Salinas está preso, acusado
de corrupção, lavagem de dinheiro das drogas e assassinato. Carlos
auto-exilou-se em Dublin, na Irlanda do Norte.
Na última década, um governador do PRI perdeu o cargo depois
de provado seu envolvimento
com o narcotráfico. Outro, também ligado aos traficantes, simplesmente desapareceu, tendo fugido ou sido assassinado por quadrilhas que lhe pagavam salários
mensais de US$ 1 milhão.
"Está claro que, depois de duas
décadas em conluio com o narcotráfico, o PRI não tem as mínimas
condições de combatê-lo", disse à
Folha o candidato Vicente Fox
Quesada, com chances reais de
vencer Labastida no domingo.
O candidato das esquerdas,
Cuauhtémoc Cárdenas, terceiro
colocado na disputa, tem ido mais
longe nas acusações ao PRI. "O
dinheiro da campanha do PRI é o
dinheiro das drogas", repete ele
em seus comícios.
Corrupção
Segundo relatórios do governo
dos EUA, as quadrilhas de drogas
mexicanas dedicam cerca de 60%
dos US$ 7 bilhões a US$ 10 bilhões
que arrecadam todo ano para corromper autoridades.
"Como os policiais mexicanos
ganham, por mês, US$ 300 a US$
500 de salários, a corrupção torna-se irresistível", afirmou à Folha Pamela Starr, pesquisadora
do Itam (Instituto Tecnológico
Autônomo do México), um dos
mais respeitados centros de pesquisa do país.
Os traficantes mexicanos deixaram de ser apenas um trampolim
de entrada da cocaína colombiana nos EUA. Nas palavras de Thomas Constantine, diretor da DEA
(a agência antidrogas dos EUA),
"eles eclipsaram o crime organizado colombiano e transformaram-se na principal ameaça externa norte-americana".
Seis dos doze chefes do narcotráfico mais procurados pelo governo dos EUA são mexicanos.
Eles possuem seu próprio sistema
de distribuição dentro dos EUA e
compram drogas diretamente do
Peru e da Bolívia, sem pedir permissão aos colombianos.
A influência das quadrilhas de
drogas não pouparam nem o governo de Ernesto Zedillo, um político alçado à Presidência em
1994 por um evento trágico, também relacionado às drogas.
Zedillo foi escolhido candidato
do PRI depois que o candidato
oficial de Salinas, Luis Donaldo
Colosio, foi assassinado durante
um comício na cidade de Tijuana,
na fronteira com os EUA.
Embora a morte de Colosio
nunca tenha sido esclarecida totalmente, a causa mais provável
continua sendo a sua disposição
de afastar do governo a influência
de Raúl Salinas, o irmão do ex-presidente.
Em 1997, o chefe da polícia federal escolhido por Zedillo para limpá-la das influências das drogas,
Juan Pablo de Tavira, foi envenenado poucas horas antes de um
encontro em que anunciaria o
afastamento dos comandantes
sob a acusação de envolvimento
do cartel das drogas. Ele vive em
coma até hoje. Esse crime também não foi esclarecido.
"Nos anos 30 e 40, o PRI se notabilizou pela realização de uma das
maiores reformas agrárias da história. Nas década de 60 e 70, o partido produziu um milagre econômico. Nos anos 80, a crise da dívida. Nos anos 90, as imagens vão
certamente incluir as ligações do
partido com o narcotráfico", disse
a pesquisadora Starr.
Embora os índices de criminalidade no México tenham caído
desde 1997, quase 90% dos homicídios estão ligados ao narcotráfico. Só 3% deles são esclarecidos.
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