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ÁSIA
Rapidez do acordo surpreende; reunião de famílias separadas pela guerra pode apressar reunificação dos dois países
Coréias acertam encontro de famílias
RICHARD LLOYD PARRY
DO "THE INDEPENDENT", EM SEUL
Em mais um sinal da notável
boa vontade que está surgindo
entre as Coréias do Norte e do Sul,
os dois países assinaram ontem
um acordo para reunir famílias
separadas pelos 50 anos de tensão
decorrente da Guerra Fria.
Dois grupos de cem pessoas vão
viajar em 15 de agosto, 55º aniversário da libertação da Coréia do
domínio japonês, ao final da Segunda Guerra Mundial (1939-45),
para quatro dias de reuniões familiares em Seul e Pyongyang.
Numa concessão importante
por parte de Seul, espiões norte-coreanos detidos no Sul também
serão autorizados a voltar para casa, algumas semanas mais tarde.
O acordo foi alcançado após
quatro dias de conversações entre
representantes da Cruz Vermelha
de ambos os países.
Representa o primeiro resultado concreto da cúpula do mês
passado entre o presidente sul-coreano, Kim Dae-jung, e o líder comunista da Coréia do Norte, Kim
Jong-il. Apesar das divergências
iniciais sobre detalhes, as conversações avançaram com surpreendente facilidade, dado o histórico
de hostilidade diplomática, disputas e malabarismos políticos.
Um acordo desse tipo teria sido
inimaginável três meses atrás. Cada grupo será acompanhado por
30 funcionários do governo e 20
jornalistas.
"Ambos os lados reviram suas
propostas e reduziram as divergências", disse Park Ki-ryun, chefe da delegação sul-coreana.
Os dois lados tinham mantido
apenas uma reunião de famílias
no passado, um encontro que teve
lugar no posto fronteiriço de Panmunjom, em 1985. Mas o plano de
realizar outras reuniões foi abandonado depois devido às tensões
na zona desmilitarizada que separa as duas Coréias.
Supondo que não ocorram problemas semelhantes este ano, os
contatos familiares vão fortalecer
ainda mais as esperanças de que
os dois países divididos possam se
reunificar num prazo menor do
que qualquer parte imaginava.
No caos que se seguiu à Segunda
Guerra, um número desconhecido de coreanos foi separado de
seus parentes mais próximos.
Uma estimativa frequentemente
citada é de que mais de 7 milhões
de sul-coreanos teriam parentes
na Coréia do Norte.
Com a divisão da península entre o Norte comunista e o Sul respaldado pelos EUA e a Guerra da
Coréia, de 1950 a 1953, as linhas de
comunicação entre os dois países
se romperam por completo.
Não existem comunicações telefônicas ou postais diretas e, até
pouco tempo atrás, mesmo visitar
sites norte-coreanos era ilegal para os sul-coreanos.
Na Coréia do Norte, ouvir transmissões radiofônicas estrangeiras
é crime.
Os representantes da Cruz Vermelha concordaram em discutir
mais tarde a possível criação de
"casas de reunião" permanentes,
onde encontros entre parentes separados seriam realizados de maneira regular. Seul concordou em
repatriar em setembro cerca de 50
espiões norte-coreanos capturados e encarcerados no Sul.
Dentro em pouco as atenções se
voltarão às outras áreas de cooperação acordadas entre os dois líderes na cúpula de junho, incluindo a criação de uma linha telefônica militar direta e a reabertura
das linhas ferroviárias que atravessam a zona desmilitarizada
que divide a península.
Até o mês passado, a Coréia do
Norte era um dos países mais fechados e imprevisíveis do mundo, uma ditadura stalinista baseada no culto a Kim Jong-il e seu pai,
o "Grande Líder" fundador do
país, Kim Il-sung.
Até o primeiro dia da cúpula,
quando saudou Kim Dae-jung no
aeroporto de Pyongyang, Kim
Jong-il tinha aparecido pouquíssimo em público. Mas o caráter
caloroso do encontro entre os
dois líderes e a rapidez com que se
chegou ao acordo de ontem sugerem, cada vez mais, que possa estar ocorrendo uma mudança radical na política dos dois países.
Tradução de Clara Allain
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