São Paulo, sábado, 01 de julho de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ÁSIA
Rapidez do acordo surpreende; reunião de famílias separadas pela guerra pode apressar reunificação dos dois países
Coréias acertam encontro de famílias

RICHARD LLOYD PARRY
DO "THE INDEPENDENT", EM SEUL

Em mais um sinal da notável boa vontade que está surgindo entre as Coréias do Norte e do Sul, os dois países assinaram ontem um acordo para reunir famílias separadas pelos 50 anos de tensão decorrente da Guerra Fria.
Dois grupos de cem pessoas vão viajar em 15 de agosto, 55º aniversário da libertação da Coréia do domínio japonês, ao final da Segunda Guerra Mundial (1939-45), para quatro dias de reuniões familiares em Seul e Pyongyang.
Numa concessão importante por parte de Seul, espiões norte-coreanos detidos no Sul também serão autorizados a voltar para casa, algumas semanas mais tarde.
O acordo foi alcançado após quatro dias de conversações entre representantes da Cruz Vermelha de ambos os países.
Representa o primeiro resultado concreto da cúpula do mês passado entre o presidente sul-coreano, Kim Dae-jung, e o líder comunista da Coréia do Norte, Kim Jong-il. Apesar das divergências iniciais sobre detalhes, as conversações avançaram com surpreendente facilidade, dado o histórico de hostilidade diplomática, disputas e malabarismos políticos.
Um acordo desse tipo teria sido inimaginável três meses atrás. Cada grupo será acompanhado por 30 funcionários do governo e 20 jornalistas.
"Ambos os lados reviram suas propostas e reduziram as divergências", disse Park Ki-ryun, chefe da delegação sul-coreana.
Os dois lados tinham mantido apenas uma reunião de famílias no passado, um encontro que teve lugar no posto fronteiriço de Panmunjom, em 1985. Mas o plano de realizar outras reuniões foi abandonado depois devido às tensões na zona desmilitarizada que separa as duas Coréias.
Supondo que não ocorram problemas semelhantes este ano, os contatos familiares vão fortalecer ainda mais as esperanças de que os dois países divididos possam se reunificar num prazo menor do que qualquer parte imaginava.
No caos que se seguiu à Segunda Guerra, um número desconhecido de coreanos foi separado de seus parentes mais próximos. Uma estimativa frequentemente citada é de que mais de 7 milhões de sul-coreanos teriam parentes na Coréia do Norte.
Com a divisão da península entre o Norte comunista e o Sul respaldado pelos EUA e a Guerra da Coréia, de 1950 a 1953, as linhas de comunicação entre os dois países se romperam por completo.
Não existem comunicações telefônicas ou postais diretas e, até pouco tempo atrás, mesmo visitar sites norte-coreanos era ilegal para os sul-coreanos.
Na Coréia do Norte, ouvir transmissões radiofônicas estrangeiras é crime.
Os representantes da Cruz Vermelha concordaram em discutir mais tarde a possível criação de "casas de reunião" permanentes, onde encontros entre parentes separados seriam realizados de maneira regular. Seul concordou em repatriar em setembro cerca de 50 espiões norte-coreanos capturados e encarcerados no Sul.
Dentro em pouco as atenções se voltarão às outras áreas de cooperação acordadas entre os dois líderes na cúpula de junho, incluindo a criação de uma linha telefônica militar direta e a reabertura das linhas ferroviárias que atravessam a zona desmilitarizada que divide a península.
Até o mês passado, a Coréia do Norte era um dos países mais fechados e imprevisíveis do mundo, uma ditadura stalinista baseada no culto a Kim Jong-il e seu pai, o "Grande Líder" fundador do país, Kim Il-sung.
Até o primeiro dia da cúpula, quando saudou Kim Dae-jung no aeroporto de Pyongyang, Kim Jong-il tinha aparecido pouquíssimo em público. Mas o caráter caloroso do encontro entre os dois líderes e a rapidez com que se chegou ao acordo de ontem sugerem, cada vez mais, que possa estar ocorrendo uma mudança radical na política dos dois países.


Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: América Latina: Narcotráfico afeta as eleições no México
Próximo Texto: Internet: EUA autorizam assinatura eletrônica
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.