São Paulo, segunda-feira, 01 de julho de 2002

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ELEIÇÕES

Presidente deve ser definido pelo Congresso entre populista e liberal; líder cocaleiro surpreende e pode chegar em terceiro

Boca-de-urna aponta indefinição na Bolívia

Associated Press
Boliviana em trajes típicos, acompanhada de seu filho, vota na escola Tupac Katari, em La Paz


RODRIGO UCHÔA
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ

Os candidatos Manfred Reyes Villa e Gonzalo Sanchez de Lozada disputavam a primeira colocação nas eleições bolivianas de ontem, segundo resultados contraditórios de boca-de-urna.
Para o instituto Usted Elije, o liberal Sanchez de Lozada, 71, obteria 22,7% contra 22,3% para Reyes Villa, 47. O instituto PAT-Grupo Fides, no entanto, apontava Reyes Villa como primeiro colocado, com 21,97%, contra 20,86% para Sanchez de Lozada.
Sanchez de Lozada foi presidente entre 1993 e 97 e é dono de uma das maiores mineradoras do país. Reyes Villa é um ex-militar populista de direita.
O candidato Evo Morales, 42, representante dos plantadores de coca e das comunidades indígenas, poderia chegar em terceiro, à frente do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-93), 61. Ambos disputam a terceira colocação, com cerca de 15% dos votos.
Como nenhum dos candidatos deve alcançar mais da metade dos votos válidos, o Congresso eleito ontem, com 130 deputados e 27 senadores, escolherá o presidente entre os dois primeiros. Não há data para o 2º turno indireto.
Reyes Villa é, em princípio, favorito na votação no Congresso ainda que não obtenha a primeira colocação na eleição popular. O motivo é que deve obter o apoio do eventual quarto colocado, Paz Zamora, que é inimigo político de Sánchez de Lozada.
A campanha foi marcada por propostas de maior intervenção estatal na economia, apesar da reduzida capacidade de investimento do governo, e promessas de combate à corrupção.
A Bolívia é um dos países mais pobres da América Latina, mas possui as maiores reservas de gás natural do continente. O Brasil é o principal importador do gás boliviano, usado principalmente em indústrias e usinas termelétricas.
Cerca de metade dos mais de 8 milhões de bolivianos estão registrados para votar. Até o início da noite de ontem, não havia dados sobre comparecimento.
Além do presidente que for escolhido, o outro grande vencedor deve ser o líder cocaleiro Evo Morales, que poderá eleger uma bancada de 12 a 20 deputados e até cinco senadores.
Eleito deputado em 1997, com 70% dos votos da região de Chapare, tradicional plantadora de coca, foi cassado dois anos depois, acusado de incentivar a violência em um conflito de trabalhadores rurais com a polícia, que deixou três soldados mortos. Agora, deve ressuscitar politicamente.
Ontem, Morales obteve uma boa votação apesar de declarações do embaixador dos EUA na Bolívia, Manuel Rocha, que ameaçou com sanções contra o país caso ele fosse eleito presidente.
Para os EUA, a defesa que Morales faz dos plantadores de coca -planta que serve de base para a fabricação da cocaína- equivale a manter relações com o narcotráfico. Para o líder indígena, o cultivo das folhas de coca é uma tradição boliviana que não está necessariamente relacionada à produção de drogas.
Rocha negou ter a intenção de interferir na liberdade de escolha dos bolivianos, mas que reafirmava a política dos EUA de combate ao narcotráfico e ao terrorismo.


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