São Paulo, quarta-feira, 01 de julho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil corta programas bilaterais; Amorim vê situação "insustentável"

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A TRÍPOLI (LÍBIA)

O Itamaraty sacou uma lista de programas de cooperação com Honduras para sair das palavras à ação na ameaça de retaliação contra o golpe em Honduras. Até a recondução do presidente Manuel Zelaya ao poder, esses programas estarão em "banho-maria".
Os programas são concentrados em duas áreas: energia e saúde. Como Brasília não reconhece o governo do presidente interino Roberto Micheletti, a ordem é para que as negociações das áreas técnicas dos dois países sejam interrompidas por prazo indeterminado.
Fica suspenso, por exemplo, o projeto do Brasil com os EUA para a produção triangular de biocombustível em Honduras.
Outro programa na área de energia é entre a Petrobras e o governo hondurenho, para a construção de uma fábrica de lubrificantes no país.
Na área de saúde, estavam em andamento um programa de combate ao mal de Chagas e três projetos pelo menos: implantação de um sistema de sangue e hemoderivados; treinamento para manejo de bancos de leite humano e construção de um centro de traumatologia na capital, Tegucigalpa.
Com um PIB (Produto Interno Bruto) de apenas US$ 25 bilhões e uma taxa de desemprego estimada em 28%, Honduras tem 50% de sua população vivendo em níveis considerados abaixo da linha de pobreza.
Exportador de café, banana, camarão e lagosta, 70% do seu comércio está pendurado nos EUA, o que, na avaliação brasileira, torna insustentável a situação do novo governo, pois Washington lidera a lista dos países que condenam o golpe.
Com o chanceler Celso Amorim acompanhando Lula em viagem à Líbia, quem está à frente das negociações para neutralizar o golpe em Honduras é o secretário-geral do Itamaraty, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, representante brasileiro na reunião de ontem da OEA (Organização dos Estados Americanos).

Na Líbia
Em Trípoli, Amorim afirmou que o novo governo hondurenho é "insustentável" e defendeu a adoção de "medidas enérgicas" para que Zelaya possa ser reconduzido ao poder.
Para o ministro, o isolamento internacional dos golpistas indica que sua sobrevivência no governo será curta.
"Eu acho que essa situação vai se resolver rapidamente. Acho insustentável um governo que todos os países do continente, que as Nações Unidas, que a OEA e que o Grupo do Rio condenam."
O chanceler reiterou que o Brasil não colaborará com o novo governo e disse que medidas de pressão devem ser decididas no âmbito da OEA.
"Espero que a OEA possa tomar medidas enérgicas. Que medidas ela vai tomar, eu não sei, mas elas têm de ser tomadas por consenso", defendeu. "O governo está na contramão da história. Não é nem governo, é uma autoridade que deu um golpe em Honduras e que não tem condições de sobreviver por muito tempo."
O presidente Lula também reafirmou a posição do Brasil ao chegar à capital líbia para participar da cúpula da União Africana, que começa hoje.
"O Brasil está lutando em Honduras contra um golpe militar desnecessário, feito em cima de um governo democrático. Nós tínhamos [em Honduras] um presidente eleito democraticamente que foi retirado de sua casa às 5 horas da manhã. O que nós queremos é que se restabeleça a normalidade."


Texto Anterior: Zelaya diz que terá companhia de Cristina e Correa na volta ao país
Próximo Texto: Golpistas exibem apoio popular na capital
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.