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Brasil corta programas bilaterais; Amorim vê situação "insustentável"
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A TRÍPOLI (LÍBIA)
O Itamaraty sacou uma lista
de programas de cooperação
com Honduras para sair das palavras à ação na ameaça de retaliação contra o golpe em Honduras. Até a recondução do presidente Manuel Zelaya ao poder, esses programas estarão
em "banho-maria".
Os programas são concentrados em duas áreas: energia e
saúde. Como Brasília não reconhece o governo do presidente
interino Roberto Micheletti, a
ordem é para que as negociações das áreas técnicas dos dois
países sejam interrompidas por
prazo indeterminado.
Fica suspenso, por exemplo,
o projeto do Brasil com os EUA
para a produção triangular de
biocombustível em Honduras.
Outro programa na área de
energia é entre a Petrobras e o
governo hondurenho, para a
construção de uma fábrica de
lubrificantes no país.
Na área de saúde, estavam
em andamento um programa
de combate ao mal de Chagas e
três projetos pelo menos: implantação de um sistema de
sangue e hemoderivados; treinamento para manejo de bancos de leite humano e construção de um centro de traumatologia na capital, Tegucigalpa.
Com um PIB (Produto Interno Bruto) de apenas US$ 25 bilhões e uma taxa de desemprego estimada em 28%, Honduras
tem 50% de sua população vivendo em níveis considerados
abaixo da linha de pobreza.
Exportador de café, banana,
camarão e lagosta, 70% do seu
comércio está pendurado nos
EUA, o que, na avaliação brasileira, torna insustentável a situação do novo governo, pois
Washington lidera a lista dos
países que condenam o golpe.
Com o chanceler Celso Amorim acompanhando Lula em
viagem à Líbia, quem está à
frente das negociações para
neutralizar o golpe em Honduras é o secretário-geral do Itamaraty, embaixador Samuel
Pinheiro Guimarães, representante brasileiro na reunião de
ontem da OEA (Organização
dos Estados Americanos).
Na Líbia
Em Trípoli, Amorim afirmou
que o novo governo hondurenho é "insustentável" e defendeu a adoção de "medidas enérgicas" para que Zelaya possa ser
reconduzido ao poder.
Para o ministro, o isolamento
internacional dos golpistas indica que sua sobrevivência no
governo será curta.
"Eu acho que essa situação
vai se resolver rapidamente.
Acho insustentável um governo que todos os países do continente, que as Nações Unidas,
que a OEA e que o Grupo do Rio
condenam."
O chanceler reiterou que o
Brasil não colaborará com o novo governo e disse que medidas
de pressão devem ser decididas
no âmbito da OEA.
"Espero que a OEA possa tomar medidas enérgicas. Que
medidas ela vai tomar, eu não
sei, mas elas têm de ser tomadas por consenso", defendeu.
"O governo está na contramão
da história. Não é nem governo,
é uma autoridade que deu um
golpe em Honduras e que não
tem condições de sobreviver
por muito tempo."
O presidente Lula também
reafirmou a posição do Brasil
ao chegar à capital líbia para
participar da cúpula da União
Africana, que começa hoje.
"O Brasil está lutando em
Honduras contra um golpe militar desnecessário, feito em cima de um governo democrático. Nós tínhamos [em Honduras] um presidente eleito democraticamente que foi retirado de sua casa às 5 horas da manhã. O que nós queremos é que
se restabeleça a normalidade."
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