São Paulo, terça, 1 de julho de 1997.



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Britânicos não sabem o que fazer se acordo for descumprido

PAULO HENRIQUE BRAGA
de Londres

O Reino Unido deixa Hong Kong com duas questões que ainda estão sem resposta: 1) a China vai cumprir o acordo que permitiu a retomada do território?; 2) o que fazer se isso não acontecer?
Por enquanto, membros da administração britânica têm tentado manter o tom otimista.
O Reino Unido, segundo um ministro da chancelaria britânica, quer que Hong Kong seja "uma ponte, não uma barreira" para o relacionamento com Pequim.
O governo britânico, apesar de se comprometer a monitorar a situação dos direitos humanos e das liberdades civis no território, diz acreditar que a pressão mais efetiva deve vir não de nações isoladas, como o próprio Reino Unido e os EUA, mas da comunidade internacional como um todo.
A chancelaria britânica reluta em discutir a possibilidade de violação do acordo por Pequim. Os oficiais preferem falar dos interesses comuns dos dois países, da perspectiva de cooperação nas áreas de comércio, controle de armas, meio ambiente e das responsabilidades comuns, como membros do Conselho de Segurança da ONU.
Declaração assinada em 1984, fruto de negociações entre o líder chinês Deng Xiaoping e a então primeira-ministra, Margaret Thatcher, prevê que a China não altere as instituições políticas e judiciais de Hong Kong por pelo menos 50 anos.
Caso Pequim não cumpra o acordo, porém, Londres não terá muito a fazer, além de protestar.
"Não podemos fingir que vamos bombardear a China. Não podemos enviar navios de guerra", diz um oficial da chancelaria do Reino Unido. O país terá de contar apenas com o temor chinês de que a eventual supressão das liberdades em HK resulte em publicidade ruim para o governo de Pequim.
O maior teste para o chineses deve vir no ano que vem, quando Pequim promete realizar eleições para substituir o Legislativo provisório (escolhido pela China) que assumiu hoje.
Segundo o chefe do Executivo de Hong Kong, Tung Chee-hwa, o pleito ocorrerá em maio.
Ao mesmo tempo, o governo trabalhista britânico, mesmo com cautela, chegou muito perto de dizer que o acordo de devolução poderia ter enfatizado mais a preservação das liberdades no território.
O primeiro-ministro Tony Blair deve procurar se distanciar do acordo assinado pelo governo conservador caso a fórmula "um país, dois sistemas" não dê certo.
O governo britânico também procurou se distanciar nos últimos dias da figura do ex-governador Chris Patten, que teve inúmeros confrontos com os chineses na preparação para a entrega de HK.
Thatcher, por sua vez, afirma não se arrepender dos termos da declaração sino-britânica. Na época, não havia o precedente do massacre de Tiananmen (1989) para o Reino Unido duvidar do cumprimento do acordo, argumenta.
A ex-primeira-ministra pediu que a comunidade internacional "dê uma chance à China". Ela lamentou, entretanto, o fato de, pela primeira vez na história, o Reino Unido entregar a administração de uma colônia com o território passando a desfrutar de um ambiente menos democrático do que o vivido sob domínio britânico.



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