São Paulo, quarta, 1 de julho de 1998

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ATAQUE NO GOLFO
Caça atira após ter sido rastreado; secretário de Defesa dos EUA diz que episódio é isolado
Avião dos EUA dispara míssil contra Iraque

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

Após confirmar que um de seus caças F-16 havia disparado um míssil sobre uma estação de radares no sul do Iraque, o secretário de Defesa dos EUA, William Cohen, tentou minimizar o ocorrido.
"Não creio que devamos tomar decisões com base nesse episódio específico", afirmou Cohen, defendendo o prosseguimento da retirada, iniciada este mês, das forças adicionais que os EUA haviam enviado ao golfo Pérsico em 1997.
O governo do Iraque denunciou o ataque como "injustificável" e "prova da agressividade dos americanos". Segundo os iraquianos, o míssil dos EUA tinha como alvo depósitos de água de uma área residencial, mas não causou danos a nenhuma instalação.
O Departamento de Defesa fez ainda uma avaliação precisa dos efeitos que o míssil pode ter provocado em solo iraquiano.
Na versão dos EUA e do Reino Unido, quatro aviões de patrulha britânicos foram enquadrados por radares do Iraque, o que é considerado indício de disposição de disparo do sistema de defesa antiaérea. Pela versão do Iraque, todos os seus radares na área do incidente estavam desativados quando o ataque ocorreu.
O vice-presidente norte-americano, Al Gore, reconheceu não dispor de provas de que havia intenção agressiva da parte do Iraque. Mas disse que o procedimento de retaliar quando aviões aliados são enquadrados por radares inimigos é "rotineiro". Gore também classificou o episódio como isolado e disse não ter informação de mobilizações de tropas do Iraque indicativas de novas ações.
O presidente Bill Clinton, que está na China, foi informado do ataque oito horas após ele ter acontecido. Em geral, o chefe de governo dos EUA é notificado de ações militares de seu país imediatamente. A Casa Branca, sede do governo norte-americano, não deu explicações para o hiato ocorrido ontem.
Os aviões dos EUA e do Reino Unido participavam de missão rotineira de patrulhamento de uma das zonas de exclusão aérea impostas ao Iraque após a Guerra do Golfo, em 1991.
A zona de exclusão aérea sobre o sul do Iraque visa proteger os iraquianos xiitas que vivem naquela área e que tentaram se sublevar contra o governo de Saddam Hussein em 1991. Essa zona abarca toda a área abaixo do paralelo 33º.
A zona de exclusão aérea sobre o norte do Iraque, acima do paralelo 36º, visa proteger a minoria curda, que se opõe ao regime.
O Conselho de Segurança da ONU, embora não tenha jamais autorizado a criação dessas zonas, as considera um desdobramento natural da Guerra do Golfo.
Aviões de EUA, Reino Unido e França têm feito o patrulhamento dessas zonas, e incidentes como o de ontem ocorreram algumas vezes desde que foram impostas.
Em setembro de 1996, o presidente Saddam Hussein, durante a crise envolvendo as missões inspetoras de armas da ONU no Iraque, disse que não respeitaria mais as zonas de exclusão aérea. Mas ele nunca as desafiou depois disso.
A tensão entre EUA e Iraque estava diminuindo nos últimos meses, desde que se chegou a acordo para restabelecer o trabalho das missões inspetoras de armas da ONU, que verificam se o Iraque destruiu, como diz, seus arsenais nucleares, biológicos e químicos.
O acordo de cessar-fogo da Guerra do Golfo determina que as sanções econômicas impostas pela ONU ao Iraque só poderão ser suspensas depois de comprovado que o país acabou com seus armamentos de destruição em massa. O Iraque acusa os EUA de manter sem razão objetiva essas punições.



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