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ATAQUE NO GOLFO
Caça atira após ter sido rastreado; secretário de Defesa dos EUA diz que episódio é isolado
Avião dos EUA dispara míssil contra Iraque
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington
Após confirmar que um de seus
caças F-16 havia disparado um
míssil sobre uma estação de radares no sul do Iraque, o secretário
de Defesa dos EUA, William Cohen, tentou minimizar o ocorrido.
"Não creio que devamos tomar
decisões com base nesse episódio
específico", afirmou Cohen, defendendo o prosseguimento da retirada, iniciada este mês, das forças adicionais que os EUA haviam
enviado ao golfo Pérsico em 1997.
O governo do Iraque denunciou
o ataque como "injustificável" e
"prova da agressividade dos americanos". Segundo os iraquianos,
o míssil dos EUA tinha como alvo
depósitos de água de uma área residencial, mas não causou danos a
nenhuma instalação.
O Departamento de Defesa fez
ainda uma avaliação precisa dos
efeitos que o míssil pode ter provocado em solo iraquiano.
Na versão dos EUA e do Reino
Unido, quatro aviões de patrulha
britânicos foram enquadrados por
radares do Iraque, o que é considerado indício de disposição de
disparo do sistema de defesa antiaérea. Pela versão do Iraque, todos os seus radares na área do incidente estavam desativados
quando o ataque ocorreu.
O vice-presidente norte-americano, Al Gore, reconheceu não
dispor de provas de que havia intenção agressiva da parte do Iraque. Mas disse que o procedimento de retaliar quando aviões aliados são enquadrados por radares
inimigos é "rotineiro". Gore
também classificou o episódio como isolado e disse não ter informação de mobilizações de tropas
do Iraque indicativas de novas
ações.
O presidente Bill Clinton, que
está na China, foi informado do
ataque oito horas após ele ter
acontecido. Em geral, o chefe de
governo dos EUA é notificado de
ações militares de seu país imediatamente. A Casa Branca, sede do
governo norte-americano, não
deu explicações para o hiato ocorrido ontem.
Os aviões dos EUA e do Reino
Unido participavam de missão rotineira de patrulhamento de uma
das zonas de exclusão aérea impostas ao Iraque após a Guerra do
Golfo, em 1991.
A zona de exclusão aérea sobre o
sul do Iraque visa proteger os iraquianos xiitas que vivem naquela
área e que tentaram se sublevar
contra o governo de Saddam Hussein em 1991. Essa zona abarca toda a área abaixo do paralelo 33º.
A zona de exclusão aérea sobre o
norte do Iraque, acima do paralelo
36º, visa proteger a minoria curda,
que se opõe ao regime.
O Conselho de Segurança da
ONU, embora não tenha jamais
autorizado a criação dessas zonas,
as considera um desdobramento
natural da Guerra do Golfo.
Aviões de EUA, Reino Unido e
França têm feito o patrulhamento
dessas zonas, e incidentes como o
de ontem ocorreram algumas vezes desde que foram impostas.
Em setembro de 1996, o presidente Saddam Hussein, durante a
crise envolvendo as missões inspetoras de armas da ONU no Iraque,
disse que não respeitaria mais as
zonas de exclusão aérea. Mas ele
nunca as desafiou depois disso.
A tensão entre EUA e Iraque estava diminuindo nos últimos meses, desde que se chegou a acordo
para restabelecer o trabalho das
missões inspetoras de armas da
ONU, que verificam se o Iraque
destruiu, como diz, seus arsenais
nucleares, biológicos e químicos.
O acordo de cessar-fogo da
Guerra do Golfo determina que as
sanções econômicas impostas pela
ONU ao Iraque só poderão ser
suspensas depois de comprovado
que o país acabou com seus armamentos de destruição em massa. O
Iraque acusa os EUA de manter
sem razão objetiva essas punições.
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