São Paulo, quarta, 1 de julho de 1998

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ANÁLISE
Bagdá quer desgastar missão

SÉRGIO MALBERGIER
da Redação

O governo dos EUA foi enfático ontem ao diminuir a importância do ataque militar no sul do Iraque. O que pode dar uma indicação das motivações por trás do incidente.
Ele ocorre num momento em que Washington está concentrando sua atuação em outras regiões do planeta. O presidente Bill Clinton visita a China, e a Otan (aliança militar ocidental liderada pelos EUA) traça planos para uma possível intervenção na Iugoslávia.
No jogo de gato e rato entre o Iraque e os EUA, o ditador Saddam Hussein pode ter calculado o momento certo para cutucar Washington ligando radares no sul do país.
Saddam se aproveita também das divisões crescentes entre os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU -EUA, Reino Unido, França, China e Rússia.
Os três últimos são cada vez mais favoráveis à idéia de suspender o embargo total imposto pelo Conselho em 1990, após a invasão do Kuait pelo Iraque.
Têm já contratos de gaveta bilionários para explorar o mercado iraquiano, uma mina de ouro após quase uma década de total isolamento.
Saddam cria sistematicamente crises com os inspetores da ONU que visitam o país para eliminar o arsenal iraquiano de destruição em massa -condição necessária para a suspensão do embargo.
Quer desgastar uma missão que já se arrasta por oito anos e é quase impossível de ser realizada. O belicoso ditador iraquiano não tem a menor intenção de se livrar de todas as suas armas e tem o país inteiro para escondê-las.
No mês passado, os inspetores da ONU descobriram ogivas de mísseis com sinais de que foram carregadas com gás que ataca o sistema nervoso antes da Guerra do Golfo (91).
Isso pouco depois de o chefe dos inspetores, Richard Butler, ter aventado a hipótese de uma rápida suspensão do embargo.
O drama parece não ter fim, para desespero dos miseráveis iraquianos pegos no fogo cruzado entre Saddam e seus poderosos inimigos.



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