São Paulo, quarta, 1 de julho de 1998

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Tecnologia cria situação cinzenta

RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha

A moderna tecnologia militar colocou o piloto americano e o operador de míssil antiaéreo iraquiano em uma situação delicada. Antes havia uma clara distinção entre mirar uma arma e atirar com ela. A eletrônica criou uma zona cinzenta entre esses dois atos.
Há radares que captam os aviões em vôo. E existem aqueles que fazem parte de sistemas de defesa antiaérea, como canhões e mísseis. "Mirar", no caso, significa ligar esse segundo tipo de radar, enviando a radiação que "pinta" o alvo, como se diz no jargão americano. O míssil antiaéreo é guiado por essa radiação. Ser "pintado" com radar é o primeiro passo. Resta apertar o botão para o disparo.
Na Guerra Fria, aviões e mísseis soviéticos e americanos se "pintavam", algo equivalente a arreganhar os dentes do cachorro.
Graças aos detectores de radar a bordo dos aviões, os dois lados criaram uma "biblioteca" de diferentes tipos de radiação.
No caso do Iraque, a situação é meio trégua, meio guerra quente. O piloto norte-americano poderia ter ignorado o radar, reportando a violação para que se fizesse um protesto. Mas se decidiu que o "mirar" já constitui um ato agressivo, pois em segundos um míssil pode ser lançado.
O míssil americano Harm (sigla em inglês para míssil anti-radiação de alta velocidade) foi projetado para eliminar a defesa antiaérea inimiga. Ele capta a emissão de radar e se dirige ao ponto de onde ela está sendo emitida. É suficientemente "inteligente" para continuar no mesmo caminho mesmo que o inimigo desligue o radar.
Mais de mil mísseis Harm foram usados durante a Guerra do Golfo em 1991. Foram um dos principais elementos na supressão da defesa antiaérea iraquiana.
Eles foram empregados especialmente pelos F-4G, versão modernizada do velho caça F-4 Phantom, o grande esteio da Força Aérea dos EUA na Guerra do Vietnã. Hoje o mais moderno caça F-16 já os usa (na versão F-16CJ).
Os caça-bombardeiros britânicos Tornado têm um míssil semelhante, o Alarm (sigla em inglês para míssil anti-radiação lançado do ar), dos quais 121 foram empregados na Guerra do Golfo.
Não foi informado se os Tornado de agora tinham o Alarm. Caso tivessem, seus pilotos foram mais contidos que o colega americano, que pelo visto sofreu de uma justificável coceira no dedo do gatilho.



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