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Tecnologia cria situação cinzenta
RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha
A moderna tecnologia militar
colocou o piloto americano e o
operador de míssil antiaéreo iraquiano em uma situação delicada.
Antes havia uma clara distinção
entre mirar uma arma e atirar com
ela. A eletrônica criou uma zona
cinzenta entre esses dois atos.
Há radares que captam os aviões
em vôo. E existem aqueles que fazem parte de sistemas de defesa
antiaérea, como canhões e mísseis.
"Mirar", no caso, significa ligar
esse segundo tipo de radar, enviando a radiação que "pinta" o
alvo, como se diz no jargão americano. O míssil antiaéreo é guiado
por essa radiação. Ser "pintado"
com radar é o primeiro passo. Resta apertar o botão para o disparo.
Na Guerra Fria, aviões e mísseis
soviéticos e americanos se "pintavam", algo equivalente a arreganhar os dentes do cachorro.
Graças aos detectores de radar a
bordo dos aviões, os dois lados
criaram uma "biblioteca" de diferentes tipos de radiação.
No caso do Iraque, a situação é
meio trégua, meio guerra quente.
O piloto norte-americano poderia
ter ignorado o radar, reportando a
violação para que se fizesse um
protesto. Mas se decidiu que o
"mirar" já constitui um ato agressivo, pois em segundos um míssil
pode ser lançado.
O míssil americano Harm (sigla
em inglês para míssil anti-radiação de alta velocidade) foi projetado para eliminar a defesa antiaérea
inimiga. Ele capta a emissão de radar e se dirige ao ponto de onde ela
está sendo emitida. É suficientemente "inteligente" para continuar no mesmo caminho mesmo
que o inimigo desligue o radar.
Mais de mil mísseis Harm foram
usados durante a Guerra do Golfo
em 1991. Foram um dos principais
elementos na supressão da defesa
antiaérea iraquiana.
Eles foram empregados especialmente pelos F-4G, versão modernizada do velho caça F-4 Phantom, o grande esteio da Força Aérea dos EUA na Guerra do Vietnã.
Hoje o mais moderno caça F-16 já
os usa (na versão F-16CJ).
Os caça-bombardeiros britânicos Tornado têm um míssil semelhante, o Alarm (sigla em inglês
para míssil anti-radiação lançado
do ar), dos quais 121 foram empregados na Guerra do Golfo.
Não foi informado se os Tornado de agora tinham o Alarm. Caso
tivessem, seus pilotos foram mais
contidos que o colega americano,
que pelo visto sofreu de uma justificável coceira no dedo do gatilho.
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