|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasileiro está entre os feridos no ataque
MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO
Um brasileiro está entre os feridos do atentado de ontem no refeitório da Universidade Hebraica de Jerusalém. Ele estava dentro do local na hora de explosão e teria sido protegido por uma parede, que abafou o impacto.
Ele trabalha na faculdade, teve
um ferimento leve em razão de estilhaços da bomba e foi levado ao
hospital. Segundo a Folha apurou, ele passava bem e já descansava em casa na noite de ontem.
Seus amigos disseram que, traumatizado com o ocorrido, ele preferia não dar entrevistas nem ter o
seu nome revelado.
O acaso também salvou ontem
a paulistana Ruth Waitzberg, 22,
formada em ciências políticas pela Universidade Hebraica e que
trabalha como assistente de pesquisa no campus. Ela havia marcado um almoço com um amigo
no horário do atentado, mas se
atrasou. "Resolvi fazer fotocópias
e estava indo para lá. Por sorte, resolvi ir ao banheiro no caminho,
caso contrário teria chegado lá
antes da explosão", contou ela,
por telefone, de Jerusalém.
"Fiquei em pânico porque meu
amigo devia estar me esperando
lá. Mas ele também levou mais
tempo do que esperava para chegar e escapou", acrescentou. "Eu
estava um lance de escadas abaixo
da lanchonete. Escutei uma bomba muito forte, um "boom" seguido de barulho de vidros quebrando e mesas caindo."
Segundo Ruth, que imigrou a
Israel há quatro anos, essa foi a
quinta vez que ela escuta o ruído
de um atentado em Jerusalém. Ela
mora no centro ocidental da cidade, próximo à rua Ben Yehuda, local de uma série de ações suicidas
palestinas no passado.
"Houve dois atentados de sábado à noite que fizeram meu apartamento tremer", lembra ela.
Cansada da violência da Intifada,
ela está de mudança para a Espanha, onde deve passar um ano e
"esperar a situação acalmar".
Outro estudante brasileiro, que
não quis ter seu nome revelado,
estudava na biblioteca da universidade, a cerca de dois minutos de
caminhada do refeitório. "Escutei
um barulho oco, como se estivesse explodido um balão em um lugar fechado. Saí logo em seguida.
O clima ficou muito pesado, pessoas telefonando, ambulâncias
chegando, um caos total."
Ex-estudante da Universidade
de São Paulo, ele vive nas moradias estudantis da Universidade
Hebraica. À Folha, destacou: "Em
geral, se ignora o fato de que há
uma vida civil aqui. Muitos pensam que Israel é um país só de soldados com metralhadoras. Mas
há muita gente, muitos estudantes, como eu, que tentam levar vida normal e estão sendo afetados
pelo que está acontecendo".
Vida normal não é exatamente
o que a jornalista Juliana Portenoy, 23, tem tido na capital israelense. Ela fará mestrado em sociologia na Universidade Hebraica e
começa hoje um curso de hebraico no prédio atingido. "Eu deveria
estar lá hoje (ontem), era dia de
matrícula, mas a minha carta de
inscrição na faculdade atrasou e
acabei não indo. Mas a vida continua. Amanhã tenho aula, e estarei
lá todos os dias."
Desde que se mudou de São
Paulo a Jerusalém, no início do
ano, ela evita comer fora ou andar
de ônibus. Acostumou-se a fazer
longas caminhadas para driblar
os frequentes ataques suicidas
contra os meios de transporte.
Assim como outros brasileiros
no país, ela tem de lidar também
com a apreensão dos familiares.
"Quando sei que houve um atentado em Jerusalém, telefono para
os meus pais no Brasil antes mesmo que eles saibam, para que não
fiquem preocupados", contou.
Juliana trabalha numa ONG que
promove o diálogo entre palestinos e israelenses. Segundo ela, cada novo ataque reforça o preconceito e o ódio. "Após o atentado
na universidade, peguei um táxi e
a primeira coisa que o motorista
[judeu] falou foi: "Isso é o que dá
deixar os árabes estudarem em
nossas escolas"."
Texto Anterior: Oriente Médio: Terror mata 7 em universidade de Jerusalém Próximo Texto: Campus tem ambiente tolerante Índice
|