São Paulo, Sexta-feira, 01 de Outubro de 1999
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DESAFIOS

Prioridade é acumular suprimentos em Dili (capital) no próximo final de semana, segundo ONU

Timor enfrenta falta de comida e transporte

RICARDO BONALUME NETO
enviado especial a Darwin

Falta de comida e falta de transporte para a comida. Esses são os dois desafios que a comunidade internacional deverá enfrentar nos próximos dias em Timor Leste, ex-colônia portuguesa, ocupada pela Indonésia desde 1975, e que optou pela independência em 30 de agosto passado em referendo organizado pela ONU.
Para a ONU, a prioridade é acumular suficientes suprimentos em Dili, capital do território, no próximo final de semana.
O pessoal da ONU, cuja base de operações fica em Darwin, norte da Austrália, está voltando aos poucos a Timor Leste. Uma força militar internacional liderada pelos australianos assumiu o controle da região, após a destruição generalizada causada pelos paramilitares a favor da continuidade da ocupação indonésia.
Mas a tropa interventora nem sempre consegue chegar a todos os pontos vitais. Só ontem que um comboio de alimentos com 29 veículos foi para Lospalos, no leste de Timor Leste, sob escolta.
O leste da ilha ainda é um campo de batalha entre os grupos pró-Indonésia e a guerrilha independendista. A guerrilha estima que pelo menos 70 mil pessoas deverão procurar refúgio e alimento em Dili nos próximos dias.
No longo prazo, teme-se que a chegada em breve da estação chuvosa torne bem mais difícil o abastecimento de regiões mais afastadas de Dili, já que as estradas estarão em piores condições.
E também falta transporte. Segundo a ONU, a falta de caminhões é um dos maiores empecilhos à distribuição de alimentos e remédios -"suprimentos humanitários"- à população timorense. A falta de caminhões também afeta a distribuição de água, um fator essencial para amenizar o risco de transmissão de doenças.
Muitos desses caminhões foram levados para o oeste da ilha de Timor, território indonésio onde ainda há milhares de refugiados.
A política de terra arrasada adotada pelas milícias com apoio de parte do Exército indonésio fez com que não só a distribuição de água e eletricidade fosse afetada, mas também as acomodações. Mais de metade das casas de Dili foi destruída, e o percentual é ainda maior em outras cidades.
A força multinacional enviada para Timor Leste ainda não controla efetivamente a maior parte do território. Limita-se, em certas áreas, a "reconhecimentos aéreos" - uma breve visita feita por pessoal a bordo de helicópteros, que nem sempre pousam.
Isso tende a limitar o raio de ação da ajuda humanitária.
O contingente de 51 militares brasileiros que irá a Timor Leste termina amanhã seu período de aclimatação, que incluiu esperar a produção de imunidade após a vacinação contra doenças típicas da região, como a encefalite japonesa.
Os brasileiros ainda estão em Townsville, nordeste da Austrália. Na mesma base se encontra um número semelhante de pára-quedistas italianos. Na noite de quarta, houve um jogo de futebol beneficente, com renda para Timor Leste, entre os dois grupos. Os brasileiros ganharam de 6 a 0.


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