São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Soldados americanos davam doces aos garotos no momento das explosões; nenhum militar dos EUA morreu

Carros-bomba matam 35 crianças em Bagdá

DA REDAÇÃO

A explosão de três carros-bomba durante a realização de uma cerimônia pública ontem em Bagdá da qual participavam soldados americanos matou 35 crianças iraquianas. Sete adultos também morreram e 141 pessoas ficaram feridas no atentado.
Outros dois ataques ocorreram na capital iraquiana e uma ação terrorista matou quatro pessoas em Tal Afar, no norte do país. Uma operação militar dos EUA em Fallujah matou quatro.
As crianças que foram mortas no ataque terrorista de ontem participavam de uma cerimônia de inauguração de uma estação de tratamento de esgoto em Bagdá.
No momento das explosões, elas estavam recebendo doces de soldados americanos que estavam na área. Nenhum militar americano morreu no atentado. Dez ficaram feridos.
A ação terrorista foi a que deixou o maior número de crianças mortas desde o início do conflito no Iraque, há 17 meses. Há 72 crianças feridas, com idade inferior a 14 anos, disse um médico que cuidava dos feridos.
Um comunicado divulgado pelo grupo Tawid e Jihad, comandado pelo terrorista jordaniano Abu Musab al Zarqawi, ligado à rede Al Qaeda reivindicou a explosão dos três carros-bomba e a ação suicida no complexo de Abu Ghraib, na qual dois policiais iraquianos e um soldado americano morreram.
Pais desesperados choravam sobre os corpos dos filhos no necrotério do hospital. Uma mulher puxava os próprios cabelos enquanto beijava o corpo do irmão.
Algumas crianças, que estão no fim das férias escolares, disseram que foram atraídas ao local da explosão por soldados americanos oferecendo doces e balas.
"Os americanos nos chamaram, eles pediram para que viéssemos aqui, perguntando se queríamos doces. Nós fomos até eles, e então um carro explodiu", disse Abdel Rahman Dawoud, 12, que estava numa cama de hospital com estilhaços espalhados pelo corpo.
Muitos pais das vítimas se revoltaram contra os soldados americanos, e não contra os terroristas, acusando os militares de terem seduzido as crianças para o perigo, segundo o diário britânico "The Independent".
A nova estação de tratamento de esgoto não sofreu grandes danos. Mas a via na qual ela se localiza ficou com duas crateras. Seis veículos ficaram destruídos. Os sobreviventes recolhiam pedaços dos corpos das vítimas para fazer o funeral.
Duas explosões ocorreram bem diante da cerimônia. Uma terceira, mais forte, ocorreu a 50 metros de distância e atingiu muitas pessoas que fugiram das duas primeiras detonações.
Não está claro se o alvo dos ataques eram os militares americanos ou a cerimônia. Tampouco foi informado se havia suicidas nos carros-bomba.
A menina Rusel Abbas Obeid estava em uma cama com ferimentos profundos no estômago e cortes no rosto. Ela fora a uma loja e, no momento das primeiras explosões, estava indo se juntar a seus amigos diante dos blindados americanos.
Limpando o sangue do rosto da filha com o seu próprio véu, Hamdiya Hossein Obeid disse: "Quando a primeira explosão ocorreu, meu coração parou. Eu corri, mas meus vizinhos me pararam porque poderia haver novas bombas. E ocorreu uma nova explosão. Sabia que precisava achá-la. Demorou meia hora antes de conseguir. Nesse tempo, vi muitas crianças mortas".
O secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, afirmou ontem que a violência no Iraque está aumentando. O número de ataques no país contra as forças da coalizão liderada pelos EUA cresceu nos últimos meses.

Outros ataques
Horas antes do atentado na estação de tratamento de esgoto, um suicida explodiu um carro-bomba perto do complexo de Abu Ghraib, nas cercanias de Bagdá, matando dois policiais iraquianos e um soldado americano. Cerca de 60 pessoas ficaram feridos, segundo autoridades.
"Vi pessoas voando no ar e caindo no chão", disse Saad Mohsin, que presenciou a explosão e sofreu ferimentos nas costas.
Pessoas corriam pelos prédios ao redor do complexo gritando pelo nome de parentes desaparecidos. Depois a maioria delas seguiu para o hospital para onde os feridos foram levados.
Uma coluna de fumaça era avistada a alguns quilômetros de distância. A área foi isolada pelas forças americanas, que prosseguiam combatendo insurgentes na região de Abu Ghraib.
Em Tal Afar, no norte do Iraque, um carro-bomba que tinha como alvo o chefe de polícia da cidade matou quatro pessoas e feriu 19 -incluindo cinco policiais. O chefe de polícia escapou.
Em Kirkuk, também no norte, o chefe dos seguranças do prefeito foi morto por militantes. Ação dos EUA em Fallujah, cidade controlada por insurgentes iraquianos, matou quatro pessoas.
Parlamentares dos EUA afirmaram que o governo deve demorar mais de um ano para utilizar os US$ 9 bilhões previstos para serem usados nos próximos meses.
A respeito da reconstrução do Iraque, o chanceler Celso Amorim disse à agência Associated Press que o Brasil gostaria de tomar parte da anunciada conferência sobre o futuro iraquiano, neste mês, mas descarta enviar tropas.


Com agências internacionais


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