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IRAQUE SOB TUTELA
Soldados americanos davam doces aos garotos no momento das explosões; nenhum militar dos EUA morreu
Carros-bomba matam 35 crianças em Bagdá
DA REDAÇÃO
A explosão de três carros-bomba durante a realização de uma
cerimônia pública ontem em Bagdá da qual participavam soldados
americanos matou 35 crianças
iraquianas. Sete adultos também
morreram e 141 pessoas ficaram
feridas no atentado.
Outros dois ataques ocorreram
na capital iraquiana e uma ação
terrorista matou quatro pessoas
em Tal Afar, no norte do país.
Uma operação militar dos EUA
em Fallujah matou quatro.
As crianças que foram mortas
no ataque terrorista de ontem
participavam de uma cerimônia
de inauguração de uma estação de
tratamento de esgoto em Bagdá.
No momento das explosões,
elas estavam recebendo doces de
soldados americanos que estavam na área. Nenhum militar
americano morreu no atentado.
Dez ficaram feridos.
A ação terrorista foi a que deixou o maior número de crianças
mortas desde o início do conflito
no Iraque, há 17 meses. Há 72
crianças feridas, com idade inferior a 14 anos, disse um médico
que cuidava dos feridos.
Um comunicado divulgado pelo grupo Tawid e Jihad, comandado pelo terrorista jordaniano Abu
Musab al Zarqawi, ligado à rede
Al Qaeda reivindicou a explosão
dos três carros-bomba e a ação
suicida no complexo de Abu
Ghraib, na qual dois policiais iraquianos e um soldado americano
morreram.
Pais desesperados choravam
sobre os corpos dos filhos no necrotério do hospital. Uma mulher
puxava os próprios cabelos enquanto beijava o corpo do irmão.
Algumas crianças, que estão no
fim das férias escolares, disseram
que foram atraídas ao local da explosão por soldados americanos
oferecendo doces e balas.
"Os americanos nos chamaram,
eles pediram para que viéssemos
aqui, perguntando se queríamos
doces. Nós fomos até eles, e então
um carro explodiu", disse Abdel
Rahman Dawoud, 12, que estava
numa cama de hospital com estilhaços espalhados pelo corpo.
Muitos pais das vítimas se revoltaram contra os soldados americanos, e não contra os terroristas,
acusando os militares de terem
seduzido as crianças para o perigo, segundo o diário britânico
"The Independent".
A nova estação de tratamento
de esgoto não sofreu grandes danos. Mas a via na qual ela se localiza ficou com duas crateras. Seis
veículos ficaram destruídos. Os
sobreviventes recolhiam pedaços
dos corpos das vítimas para fazer
o funeral.
Duas explosões ocorreram bem
diante da cerimônia. Uma terceira, mais forte, ocorreu a 50 metros
de distância e atingiu muitas pessoas que fugiram das duas primeiras detonações.
Não está claro se o alvo dos ataques eram os militares americanos ou a cerimônia. Tampouco
foi informado se havia suicidas
nos carros-bomba.
A menina Rusel Abbas Obeid
estava em uma cama com ferimentos profundos no estômago e
cortes no rosto. Ela fora a uma loja
e, no momento das primeiras explosões, estava indo se juntar a
seus amigos diante dos blindados
americanos.
Limpando o sangue do rosto da
filha com o seu próprio véu,
Hamdiya Hossein Obeid disse:
"Quando a primeira explosão
ocorreu, meu coração parou. Eu
corri, mas meus vizinhos me pararam porque poderia haver novas bombas. E ocorreu uma nova
explosão. Sabia que precisava
achá-la. Demorou meia hora antes de conseguir. Nesse tempo, vi
muitas crianças mortas".
O secretário da Defesa dos EUA,
Donald Rumsfeld, afirmou ontem que a violência no Iraque está
aumentando. O número de ataques no país contra as forças da
coalizão liderada pelos EUA cresceu nos últimos meses.
Outros ataques
Horas antes do atentado na estação de tratamento de esgoto,
um suicida explodiu um carro-bomba perto do complexo de
Abu Ghraib, nas cercanias de
Bagdá, matando dois policiais iraquianos e um soldado americano.
Cerca de 60 pessoas ficaram feridos, segundo autoridades.
"Vi pessoas voando no ar e caindo no chão", disse Saad Mohsin,
que presenciou a explosão e sofreu ferimentos nas costas.
Pessoas corriam pelos prédios
ao redor do complexo gritando
pelo nome de parentes desaparecidos. Depois a maioria delas seguiu para o hospital para onde os
feridos foram levados.
Uma coluna de fumaça era avistada a alguns quilômetros de distância. A área foi isolada pelas forças americanas, que prosseguiam
combatendo insurgentes na região de Abu Ghraib.
Em Tal Afar, no norte do Iraque, um carro-bomba que tinha
como alvo o chefe de polícia da cidade matou quatro pessoas e feriu
19 -incluindo cinco policiais. O
chefe de polícia escapou.
Em Kirkuk, também no norte, o
chefe dos seguranças do prefeito
foi morto por militantes. Ação
dos EUA em Fallujah, cidade controlada por insurgentes iraquianos, matou quatro pessoas.
Parlamentares dos EUA afirmaram que o governo deve demorar
mais de um ano para utilizar os
US$ 9 bilhões previstos para serem usados nos próximos meses.
A respeito da reconstrução do
Iraque, o chanceler Celso Amorim disse à agência Associated
Press que o Brasil gostaria de tomar parte da anunciada conferência sobre o futuro iraquiano, neste
mês, mas descarta enviar tropas.
Com agências internacionais
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