São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2004

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ÁSIA

Giovanni Gao Kexian, 76, da "igreja clandestina"; estava preso havia cinco anos, em local não-informado, para "reeducação"

Vaticano anuncia morte de bispo em prisão na China

DA REPORTAGEM LOCAL

O Vaticano anunciou a morte, na prisão, de d. Giovanni Gao Kexian, 76, bispo católico chinês da diocese de Yan Thai, na Província de Shandong. Ele havia sido preso em 1999 e mantido em "reeducação" em local desconhecido.
O anúncio da morte, ocorrida em agosto, foi feito em Roma no último dia 11. O corpo do bispo foi entregue aos familiares, para sepultamento, dentro de um saco reservado a indigentes.
Gao Kexian integrava o catolicismo "clandestino", que obedece o papa e convive na China com a chamada Associação Católica Patriótica, que não tem ligações com o Vaticano, é subserviente ao regime e cujos templos são tolerados.
Gao Kexian havia sido nomeado bispo em 1993, mas sua nomeação permaneceu sigilosa para que ele não fosse exposto a novas perseguições políticas.
O Vaticano mantém em sua hierarquia bispos e cardeais nomeados "in pectori". Apenas o papa conhece a identidade desses prelados, que atuam em países em que a liberdade religiosa sofre sérias limitações.
Segundo a agência Asia News, só há três anos foi revelado que Giovanni Gao Kexian era um bispo. Homem tímido e reservado, sabe-se muito pouco sobre sua biografia, a não ser que lecionou num seminário clandestino para a formação de religiosos e que seus párocos estavam em zonas rurais, em Shandong e Hebei. Sua diocese teria hoje 30 mil católicos.
Em 2002, ao visitar Pequim, o presidente norte-americano, George W. Bush, pediu ao ex-presidente e ainda poderoso Jiang Zemin que intercedesse por sua libertação, o que não ocorreu.
Um outro bispo, Giuseppe Van Zueyan, teria sido seqüestrado e morto sob torturas em 1992.
Segundo o Vaticano, só em agosto último foram presos oito padres e dois seminaristas chineses. Estão desaparecidos os bispos Giacomo Su Zhimin, desde 1997, e Francesco An Shuxin, desde o ano anterior.
A Fundação Ignatius Kung, criada nos Estados Unidos para lutar pela liberdade religiosa na China, afirma que estão hoje em prisões quatro bispos e 21 padres. Outros seis bispos estão em prisão domiciliar. Há quatro padres desaparecidos. Pelos números do Vaticano, só na diocese de Baoding seriam 23 os padres presos.
A fundação Kung traz o nome do cardeal de Xangai, que permaneceu preso por 30 anos por se manter fiel ao papa.
O porta-voz do Vaticano, Joaquin Navarro-Valls, denunciou no início de setembro uma nova onda de perseguição oficial contra católicos na China, "numa grave violação da liberdade religiosa, que é um direito humano fundamental", disse ele, segundo a agência Reuters.
O Vaticano, que não reconhece a China continental -relaciona-se apenas com Taiwan- fez no mês passado sua terceira crítica no ano ao regime de Pequim.
No caso do catolicismo, as estimativas são de que existam de 8 milhões a 12 milhões de fiéis "clandestinos" e de 4 milhões a 5 milhões de católicos da igreja "patriótica". O país tem 1,3 bilhão de habitantes.


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