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GUERRA SEM LIMITES
Zaeef passou quatro anos na prisão
Ex-porta-voz do Taleban comenta tempo que passou detido pelos EUA
CARLOTTA GALL
DO "NEW YORK TIMES", EM CABUL
Abdul Salam Zaeef foi um representante do Taleban e se tornou um dos rostos mais conhecidos do governo islâmico afegão
após o 11 de Setembro, quando
passou a conceder entrevistas coletivas diárias à imprensa, defendendo a determinação do Taleban de combater, em lugar de entregar Osama bin Laden.
Agora, quatro anos mais tarde,
boa parte deles passados encarcerado sob custódia dos EUA,
Zaeef, 37, está de volta ao Afeganistão. Mais discreto, deixou de
usar seu título de mulá, mas ainda
conserva o turbante negro e a barba longa, que são característicos
dos membros do Taleban.
Zaeef estava vivendo na capital
paquistanesa, Islamabad, quando
foi preso, em janeiro de 2002. Desde então, contou, ele já ficou detido no Paquistão, passou uma semana numa cela num navio de
guerra americano, alguns meses
em bases aéreas americanas no
Afeganistão e, finalmente, mais
de três anos no campo da baía de
Guantánamo, em Cuba. Ele foi libertado no início de setembro.
Em entrevista concedida num
local seguro garantido pelo governo em Cabul, ele contou que seus
guardas americanos em Guantánamo lhe disseram que ele já não
era visto como risco. "Eles falaram: "Você não é culpado, e o fato
de estar preso há tanto tempo não
está certo'", comentou.
O porta-voz principal das forças
dos EUA no Afeganistão, James
Yonts, confirmou a libertação de
Zaeef no início de setembro.
O assessor de Segurança Nacional dos EUA, Stephen Hadley,
disse que Zaeef foi preso porque
constava da lista compilada pelo
governo americano de pessoas
procuradas por terrorismo. Hadley afirmou que a libertação de
Zaeef e outros vem sendo decidida caso a caso, dependendo do
papel que cada um exerceu no Taleban, da extensão de sua cooperação com o combate ao terror e
do efeito que sua volta terá no
sentido de atrair outras pessoas
para o processo de reconciliação.
Sebaghatullah Mojadeddi, chefe
da Comissão de Paz e Reconciliação do governo afegão, disse que,
durante o período que passou encarcerado em Guantánamo, Zaeef
não foi acusado de nada. "Na minha opinião, ele não pecou", disse
Mojadeddi. "E, se foi culpado, ele
já passou tempo suficiente ali."
Mojadeddi disse que as forças
americanas estão pouco a pouco
libertando os 102 detentos afegãos
remanescentes em Guantánamo.
Zaeef está vivendo na capital
afegã com suas despesas custeadas pelo governo. Ele se reencontrou com sua família -duas esposas e oito filhos- e está sendo
protegido por guardas do governo. "Ele poderá permanecer
quanto tempo quiser, mas está livre", disse Mojadeddi.
Ministro dos Transportes antes
dos dois anos que passou como
enviado do Taleban ao Paquistão,
Zaeef é um dos mais importantes
representantes do Taleban a retornar ao Afeganistão dentro do
quadro do programa de reconciliação promovido pelo governo.
Zaeef não tem certeza do que fará a seguir. "Estou cansado", falou. "Só quero ficar com minha
família e ver meus filhos." Ele não
tem planos de voltar para sua província natal, Candahar, nem de
ajudar o governo a convencer outros integrantes do Taleban a desistir de combater, embora seja favorável a esse esforço.
Em seu papel de embaixador,
Zaeef foi visto como principal canal de contato com a liderança do
Taleban após o 11 de Setembro.
Mas também era visto como figura moderada, apesar das diatribes
que lançava diariamente desde o
balcão da embaixada, acusando
as forças americanas de cometer
genocídio no Afeganistão.
Ele contou que, durante esse período, manteve contatos com representantes paquistaneses e
americanos e chegou a conversar
ao telefone com Hamid Karzai, o
atual presidente do Afeganistão.
Além disso, organizou várias delegações de clérigos de alto nível
para fazer consultas com o líder
do Taleban, o mulá Muhammad
Omar, para tentar evitar a guerra.
Sua missão fracassou, disse,
porque era demasiado difícil um
país pobre e sem poder, como o
Afeganistão, chegar a um entendimento com uma superpotência
que ele descreveu como "muito
emotiva" em relação ao uso da
força. "Os afegãos não são os inimigos naturais dos EUA", disse
ele. "Tínhamos um problema de
extremismo, mas a guerra não é
solução para isso."
Zaeef disse que autoridades
americanas e paquistanesas chegaram a lhe oferecer dinheiro para que rompesse com o mulá
Omar e fundasse seu partido político próprio e moderado. Isso poderia tê-lo poupado de passar
quatro anos preso, mas ele disse
que em nenhum momento levou
a hipótese em consideração.
Mesmo hoje, Zaeef hesita em
afirmar que Osama bin Laden tenha sido responsável pelos ataques ao World Trade Center.
"Não sei quem cometeu esses ataques, mas, quando aconteceram,
eu os condenei", disse ele. "Acredito na segurança e na paz."
Tradução de Clara Allain
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