|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lobby pró-Israel volta ao debate nos EUA
Autor de tese que atribui fracassos da Casa Branca à aliança com Estado judeu fica frente a frente com críticos
GUSTAVO CHACRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE NOVA YORK
Seis meses após a controvérsia provocada por um artigo
acadêmico que atacava o lobby
pró-Israel nos EUA, a "London
Review of Books", que publicou
o texto, decidiu colocar os dois
lados da disputa frente a frente.
O debate ocorreu na última
quinta-feira em um auditório
de Nova York, diante de mil
pessoas que pagaram US$ 20
cada. Sem a presença de ativistas radicais e em meio a um
enorme aparato de segurança.
O artigo, dos professores
John Mearsheimer, da Universidade de Chicago, e Stephen
Walt, de Harvard, afirma que a
política americana para o
Oriente Médio é fruto do lobby
pró-Israel, e que isso coloca em
risco "não apenas a segurança
dos EUA, como também a do
resto do mundo".
De um lado do debate, críticos ferozes do artigo, como
Martin Indyk, ex-embaixador
dos EUA em Israel e ligado à Aipac (principal entidade do
lobby pró-Israel), Shlomo Ben-Ami, ex-chanceler de Israel, e
Dennis Ross, um dos principais
negociadores para o Oriente
Médio nos governos de George
Bush (pai) e Bill Clinton.
Do outro, Rachid Khalidi, diretor do Instituto de Oriente
Médio da Universidade Columbia e principal voz acadêmica
pró-palestinos nos EUA, o britânico Tony Judt, professor da
Universidade de Nova York, e,
claro, Mearsheimer.
O debate começou com uma
pergunta direta de Anne-Marie
Slaughter, mediadora e diretora da Escola de Relações Internacionais de Princeton: "Professor Mearsheimer, seu artigo
foi anti-semita?".
"Não, só escrevi sobre a força
do lobby. E não acho errado que
exista o lobby. Tampouco afirmei que os judeus governam o
mundo. Apenas acho que devemos discutir a relação dos EUA
com Israel, que não é positiva
para os americanos", disse um
constrangido Mearsheimer.
Indyk contra-atacou, acusando diretamente o artigo de
anti-semita. Ressaltou, porém,
que criticar Israel não pode ser
considerado anti-semitismo.
Ben-Ami disse que não havia rigor acadêmico no trabalho.
O professor de Chicago se defendeu dizendo que nunca falou em conspiração. Disse apenas que o lobby existe e citou o
advogado Alan Dershowitz,
professor de Harvard e um dos
principais defensores de Israel
nos EUA, que escreveu que os
judeus "conseguiram organizar
o mais eficiente lobby do país".
Indyk e Ben-Ami ainda acusaram Mearsheimer de ser tendencioso porque ele escreveu
que o lobby foi responsável pela
Guerra do Iraque. Para Indyk,
outros fatores, como o lobby do
petróleo e de governos árabes,
como a Arábia Saudita, tiveram
importância ainda maior.
O ex-ministro israelense foi
mais longe e disse que em Israel a opinião pública preferia
uma guerra contra o Irã, não
contra o Iraque. Ross acrescentou que o governo George W.
Bush é o responsável pela guerra. Ele lembrou que o lobby
sempre foi mais próximo do democrata Al Gore, derrotado por
Bush em 2000 e que, "se eleito,
não teria ido à guerra".
Mearsheimer respondeu que
o lobby queria guerra contra Síria, Irã e Iraque, não importando a ordem. E afirmou que, sem
a pressão do lobby, Bush não
teria atacado o Iraque.
Khalidi disse que o mais grave não é a influência do lobby
na política externa americana,
mas sim em outros setores, como a mídia e o Congresso. "Os
legisladores americanos se dividem em relação a aborto, homossexualismo, China e quase
todos os assuntos. Mas, quando
o assunto é Israel, há unanimidade", disse Khalidi, que ocupa
a simbólica cadeira de Estudos
Árabes que pertenceu a Edward Said em Columbia.
Para Ben-Ami, é um erro grave achar que o lobby governa a
política externa dos EUA. Para
ele, muitas vezes há diferenças
entre Israel e os EUA, como
agora. "Os EUA defendem a democratização no Oriente Médio. Para Israel, essa política
apenas provoca instabilidade."
Texto Anterior: Igreja Católica e Kirchner medem forças nas urnas Próximo Texto: Terror: Índia acusa Paquistão de atacar Mumbai Índice
|