São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

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Lobby pró-Israel volta ao debate nos EUA

Autor de tese que atribui fracassos da Casa Branca à aliança com Estado judeu fica frente a frente com críticos

GUSTAVO CHACRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE NOVA YORK


Seis meses após a controvérsia provocada por um artigo acadêmico que atacava o lobby pró-Israel nos EUA, a "London Review of Books", que publicou o texto, decidiu colocar os dois lados da disputa frente a frente. O debate ocorreu na última quinta-feira em um auditório de Nova York, diante de mil pessoas que pagaram US$ 20 cada. Sem a presença de ativistas radicais e em meio a um enorme aparato de segurança.
O artigo, dos professores John Mearsheimer, da Universidade de Chicago, e Stephen Walt, de Harvard, afirma que a política americana para o Oriente Médio é fruto do lobby pró-Israel, e que isso coloca em risco "não apenas a segurança dos EUA, como também a do resto do mundo".
De um lado do debate, críticos ferozes do artigo, como Martin Indyk, ex-embaixador dos EUA em Israel e ligado à Aipac (principal entidade do lobby pró-Israel), Shlomo Ben-Ami, ex-chanceler de Israel, e Dennis Ross, um dos principais negociadores para o Oriente Médio nos governos de George Bush (pai) e Bill Clinton.
Do outro, Rachid Khalidi, diretor do Instituto de Oriente Médio da Universidade Columbia e principal voz acadêmica pró-palestinos nos EUA, o britânico Tony Judt, professor da Universidade de Nova York, e, claro, Mearsheimer.
O debate começou com uma pergunta direta de Anne-Marie Slaughter, mediadora e diretora da Escola de Relações Internacionais de Princeton: "Professor Mearsheimer, seu artigo foi anti-semita?".
"Não, só escrevi sobre a força do lobby. E não acho errado que exista o lobby. Tampouco afirmei que os judeus governam o mundo. Apenas acho que devemos discutir a relação dos EUA com Israel, que não é positiva para os americanos", disse um constrangido Mearsheimer.
Indyk contra-atacou, acusando diretamente o artigo de anti-semita. Ressaltou, porém, que criticar Israel não pode ser considerado anti-semitismo. Ben-Ami disse que não havia rigor acadêmico no trabalho.
O professor de Chicago se defendeu dizendo que nunca falou em conspiração. Disse apenas que o lobby existe e citou o advogado Alan Dershowitz, professor de Harvard e um dos principais defensores de Israel nos EUA, que escreveu que os judeus "conseguiram organizar o mais eficiente lobby do país".
Indyk e Ben-Ami ainda acusaram Mearsheimer de ser tendencioso porque ele escreveu que o lobby foi responsável pela Guerra do Iraque. Para Indyk, outros fatores, como o lobby do petróleo e de governos árabes, como a Arábia Saudita, tiveram importância ainda maior.
O ex-ministro israelense foi mais longe e disse que em Israel a opinião pública preferia uma guerra contra o Irã, não contra o Iraque. Ross acrescentou que o governo George W. Bush é o responsável pela guerra. Ele lembrou que o lobby sempre foi mais próximo do democrata Al Gore, derrotado por Bush em 2000 e que, "se eleito, não teria ido à guerra".
Mearsheimer respondeu que o lobby queria guerra contra Síria, Irã e Iraque, não importando a ordem. E afirmou que, sem a pressão do lobby, Bush não teria atacado o Iraque.
Khalidi disse que o mais grave não é a influência do lobby na política externa americana, mas sim em outros setores, como a mídia e o Congresso. "Os legisladores americanos se dividem em relação a aborto, homossexualismo, China e quase todos os assuntos. Mas, quando o assunto é Israel, há unanimidade", disse Khalidi, que ocupa a simbólica cadeira de Estudos Árabes que pertenceu a Edward Said em Columbia.
Para Ben-Ami, é um erro grave achar que o lobby governa a política externa dos EUA. Para ele, muitas vezes há diferenças entre Israel e os EUA, como agora. "Os EUA defendem a democratização no Oriente Médio. Para Israel, essa política apenas provoca instabilidade."


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