São Paulo, quinta-feira, 01 de outubro de 2009

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Brasil pede a Zelaya que aja para distensão

Governo vê cenário mais propício a acordo, e Amorim incentiva deposto a não fazer declarações que prejudiquem diálogo

Chanceler quer reduzir o protagonismo brasileiro na crise hondurenha e aposta nas gestões da OEA para que se assine Acordo de San José


ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Como o Brasil identificou uma guinada a favor de uma saída negociada para Honduras nas últimas 48 horas, o chanceler Celso Amorim telefonou ontem para o presidente deposto, Manuel Zelaya, que continua na embaixada brasileira, com um apelo para que ele colabore no sentido da distensão, dialogando e evitando provocações e convocações para a radicalização de zelaystas nas ruas.
Apesar disso, Amorim recusa o termo "apelo" e diz que o telefonema foi "de incentivo": "Eu incentivei o presidente Zelaya a evitar qualquer manifestação que possa prejudicar as tentativas de diálogo e entendimento. Ele recebeu bem", disse o ministro à Folha.
O incentivo não inclui a desistência de manifestações populares, desde que dentro de limites não considerados agressivos: "Até aqui, os manifestantes não recorreram a violência, apenas usaram um direito internacionalmente reconhecido de defender suas ideias".
Na avaliação brasileira, o regime de Roberto Micheletti recuou da radicalização depois do cerco externo e interno, já que os organismos internacionais rechaçam sua posição e mesmo seus apoiadores hondurenhos reagiram mal à suspensão de garantias constitucionais e à intervenção numa rádio e numa TV locais.
Daí o recuo e o início de conversações, inclusive com apoio de altas patentes militares e de setores empresariais comprometidos com Micheletti.
O que está na mesa é o chamado Acordo de San José, com a volta de Zelaya ao poder, mas com garantias de que não insistirá em uma consulta popular sobre a realização de uma Assembleia Constituinte que foi considerada ilegal pela Justiça e o Congresso hondurenhos e que ele pretendia realizar no dia em que foi deposto.
Amorim deixou claro que todo o empenho do governo brasileiro continua sendo apenas numa direção, a de Zelaya, já que não reconhece o governo Micheletti: "Admitimos que o Micheletti é um ator efetivo do processo. Só que há outros interlocutores para tentar fazer a mediação com ele, não nós".
O Brasil aposta suas fichas nas gestões da OEA (Organização dos Estados Americanos), que já tem um representante chileno em Tegucigalpa, enviará uma missão precursora amanhã e uma missão de elite na quarta. Mas não quer assumir liderança nenhuma.
Segundo Amorim, o Brasil não deverá ter representantes na primeira missão, integrada por funcionários da OEA, e deverá enviar Ruy Casaes, embaixador brasileiro no órgão, à segunda. O ministro julga dispensável a sua presença e diz que o Brasil quer evitar acusações de forçar um protagonismo na crise e na região.
"O Brasil já está com um perfil alto demais, não precisa elevar ainda mais esse perfil", disse Amorim, defendendo as posições brasileiras na crise.
"Os fatos vão demonstrar que tomamos as decisões corretas", disse o ministro, avaliando que havia um impasse -as eleições convocadas para 29 de novembro não seriam aceitas pela comunidade internacional e a crise se estenderia por tempo indeterminado. Agora, ao contrário, a solução pode ser "mais rápida". "Todo o nosso empenho, neste momento, é para sair do impasse sem mais delongas. Mas qualquer solução passa pela volta de Zelaya ao poder", disse.
Desde o dia 21, o Itamaraty criou um "núcleo de acompanhamento da crise" no Departamento de América Central e Caribe: um rodízio de diplomatas, 24 horas por dia, para acompanhar pela internet, receber ligações da embaixada em Tegucigalpa e centralizar as informações sobre a situação em Honduras para repassar para o gabinete do ministro Celso Amorim, via linha hierárquica.
Mário da Graça Roiter, que já estava designado para assumir a embaixada em Honduras antes do golpe, começa a se preparar para enfim chegar ao país, quando houver solução. Vai substituir Brian Neele, que foi chamado de volta ao Brasil após o golpe e irá para Antígua e Barbuda.


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