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Brasil pede a Zelaya que aja para distensão
Governo vê cenário mais propício a acordo, e Amorim incentiva deposto a não fazer declarações que prejudiquem diálogo
Chanceler quer reduzir o protagonismo brasileiro na crise hondurenha e aposta nas gestões da OEA para que se assine Acordo de San José
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Como o Brasil identificou
uma guinada a favor de uma
saída negociada para Honduras
nas últimas 48 horas, o chanceler Celso Amorim telefonou
ontem para o presidente deposto, Manuel Zelaya, que continua na embaixada brasileira,
com um apelo para que ele colabore no sentido da distensão,
dialogando e evitando provocações e convocações para a radicalização de zelaystas nas ruas.
Apesar disso, Amorim recusa
o termo "apelo" e diz que o telefonema foi "de incentivo": "Eu
incentivei o presidente Zelaya a
evitar qualquer manifestação
que possa prejudicar as tentativas de diálogo e entendimento.
Ele recebeu bem", disse o ministro à Folha.
O incentivo não inclui a desistência de manifestações populares, desde que dentro de limites não considerados agressivos: "Até aqui, os manifestantes não recorreram a violência,
apenas usaram um direito internacionalmente reconhecido
de defender suas ideias".
Na avaliação brasileira, o regime de Roberto Micheletti recuou da radicalização depois
do cerco externo e interno, já
que os organismos internacionais rechaçam sua posição e
mesmo seus apoiadores hondurenhos reagiram mal à suspensão de garantias constitucionais e à intervenção numa
rádio e numa TV locais.
Daí o recuo e o início de conversações, inclusive com apoio
de altas patentes militares e de
setores empresariais comprometidos com Micheletti.
O que está na mesa é o chamado Acordo de San José, com
a volta de Zelaya ao poder, mas
com garantias de que não insistirá em uma consulta popular
sobre a realização de uma Assembleia Constituinte que foi
considerada ilegal pela Justiça
e o Congresso hondurenhos e
que ele pretendia realizar no
dia em que foi deposto.
Amorim deixou claro que todo o empenho do governo brasileiro continua sendo apenas
numa direção, a de Zelaya, já
que não reconhece o governo
Micheletti: "Admitimos que o
Micheletti é um ator efetivo do
processo. Só que há outros interlocutores para tentar fazer a
mediação com ele, não nós".
O Brasil aposta suas fichas
nas gestões da OEA (Organização dos Estados Americanos),
que já tem um representante
chileno em Tegucigalpa, enviará uma missão precursora
amanhã e uma missão de elite
na quarta. Mas não quer assumir liderança nenhuma.
Segundo Amorim, o Brasil
não deverá ter representantes
na primeira missão, integrada
por funcionários da OEA, e deverá enviar Ruy Casaes, embaixador brasileiro no órgão, à segunda. O ministro julga dispensável a sua presença e diz
que o Brasil quer evitar acusações de forçar um protagonismo na crise e na região.
"O Brasil já está com um perfil alto demais, não precisa elevar ainda mais esse perfil", disse Amorim, defendendo as posições brasileiras na crise.
"Os fatos vão demonstrar
que tomamos as decisões corretas", disse o ministro, avaliando que havia um impasse
-as eleições convocadas para
29 de novembro não seriam
aceitas pela comunidade internacional e a crise se estenderia
por tempo indeterminado.
Agora, ao contrário, a solução
pode ser "mais rápida". "Todo
o nosso empenho, neste momento, é para sair do impasse
sem mais delongas. Mas qualquer solução passa pela volta
de Zelaya ao poder", disse.
Desde o dia 21, o Itamaraty
criou um "núcleo de acompanhamento da crise" no Departamento de América Central e
Caribe: um rodízio de diplomatas, 24 horas por dia, para
acompanhar pela internet, receber ligações da embaixada
em Tegucigalpa e centralizar as
informações sobre a situação
em Honduras para repassar para o gabinete do ministro Celso
Amorim, via linha hierárquica.
Mário da Graça Roiter, que já
estava designado para assumir
a embaixada em Honduras antes do golpe, começa a se preparar para enfim chegar ao
país, quando houver solução.
Vai substituir Brian Neele, que
foi chamado de volta ao Brasil
após o golpe e irá para Antígua
e Barbuda.
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