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EUA abrem negociações com Irã sob ceticismo
Washington, Paris e Londres cogitam 4ª leva de sanções
DA SUCURSAL DO RIO
Os EUA participam hoje em
Genebra da primeira negociação direta com o Irã desde o
rompimento das relações bilaterais, há 30 anos, em meio ao
ceticismo quanto à possibilidade de um acordo que evite o desenvolvimento da bomba nuclear iraniana.
Os EUA enviaram o subsecretário de Estado para Assuntos Políticos, William Burns,
para Genebra. Cumprindo promessa de campanha de Barack
Obama, será a primeira vez que
um representante americano
de alto nível se juntará pessoalmente ao chamado P5+1, formado pelas cinco potências nucleares do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha.
O P5+1 negocia com o Irã
desde 2003, depois que o país
foi acusado de construir secretamente instalações de enriquecimento de urânio.
Mas, no governo de George
W. Bush (2001-2009), que incluiu o Irã no "eixo do mal"
-um dos incentivos para que
os iranianos cultivassem a dubiedade sobre a natureza do
programa-, a participação direta americana foi condicionada à interrupção do enriquecimento. Essa suspensão é exigida por três resoluções da ONU.
Em artigos nos últimos dias e
em entrevistas à Folha, especialistas americanos avaliaram
que o melhor acordo possível, a
esta altura, é um que permita
ao Irã enriquecer urânio, direito previsto no Tratado de Não
Proliferação, desde que abra
suas instalações a inspeções
mais intrusivas da AIEA
(Agência Internacional de
Energia Atômica).
As inspeções, em tese, garantiriam que o urânio seja enriquecido para abastecer usinas
de energia, e não para armas.
Problemas
Mas três ingredientes conspiram contra isso: a recente revelação de que o Irã construiu
dentro de uma montanha nova
usina de enriquecimento que,
para especialistas ocidentais,
teria fins militares; divergências entre as potências nucleares sobre se é conveniente ceder na questão do enriquecimento; e o endurecimento do
regime iraniano depois da contestada reeleição de Mahmoud
Ahmadinejad, em maio.
"Para Ahmadinejad, que fundiu o programa nuclear com o
nacionalismo e criticou os reformistas por serem muito
abertos a demandas ocidentais,
será difícil chegar a um compromisso na frente nuclear",
escreveu Ray Takeyh, do Council on Foreign Relations.
Não se espera que o Irã chegue com propostas novas hoje.
EUA, França e Reino Unido já
falam em adotar a quarta leva
de sanções. Entre os três não há
unanimidade: Obama indicou
que está disposto a esperar até
o fim do ano, enquanto britânicos pedem mais pressa. A Rússia e a China, do seu lado, dificilmente concordariam com
sanções duras como as citadas
pelos outros três, incluindo um
embargo à venda de combustível (produtor de petróleo, o Irã
compra 20% de suas necessidades do produto refinado).
Blake Hounshell, coeditor da
revista "Foreign Policy", e Gary
Sick, professor da Universidade
Columbia que serviu no Conselho de Segurança Nacional,
acham que o Irã não vai parar
enquanto não chegar ao limiar
da bomba -a capacidade de tê-la em tempo curto.
"Pode ser que isso seja suficiente para fazer com que o país
se sinta seguro e a comunidade
internacional possa afirmar
que evitou um problema de
proliferação", disse Hounshell.
A dúvida, ponderou, é se esse
desfecho seria aceito por Israel,
potência nuclear da região, alvo
de ameaças de Ahmadinejad e
que em 2008 chegou a pedir aos
EUA bombas especiais para um
ataque às instalações iranianas.
(CA)
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