São Paulo, quinta-feira, 01 de outubro de 2009

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EUA abrem negociações com Irã sob ceticismo

Washington, Paris e Londres cogitam 4ª leva de sanções

DA SUCURSAL DO RIO

Os EUA participam hoje em Genebra da primeira negociação direta com o Irã desde o rompimento das relações bilaterais, há 30 anos, em meio ao ceticismo quanto à possibilidade de um acordo que evite o desenvolvimento da bomba nuclear iraniana.
Os EUA enviaram o subsecretário de Estado para Assuntos Políticos, William Burns, para Genebra. Cumprindo promessa de campanha de Barack Obama, será a primeira vez que um representante americano de alto nível se juntará pessoalmente ao chamado P5+1, formado pelas cinco potências nucleares do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha.
O P5+1 negocia com o Irã desde 2003, depois que o país foi acusado de construir secretamente instalações de enriquecimento de urânio.
Mas, no governo de George W. Bush (2001-2009), que incluiu o Irã no "eixo do mal" -um dos incentivos para que os iranianos cultivassem a dubiedade sobre a natureza do programa-, a participação direta americana foi condicionada à interrupção do enriquecimento. Essa suspensão é exigida por três resoluções da ONU.
Em artigos nos últimos dias e em entrevistas à Folha, especialistas americanos avaliaram que o melhor acordo possível, a esta altura, é um que permita ao Irã enriquecer urânio, direito previsto no Tratado de Não Proliferação, desde que abra suas instalações a inspeções mais intrusivas da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).
As inspeções, em tese, garantiriam que o urânio seja enriquecido para abastecer usinas de energia, e não para armas.

Problemas
Mas três ingredientes conspiram contra isso: a recente revelação de que o Irã construiu dentro de uma montanha nova usina de enriquecimento que, para especialistas ocidentais, teria fins militares; divergências entre as potências nucleares sobre se é conveniente ceder na questão do enriquecimento; e o endurecimento do regime iraniano depois da contestada reeleição de Mahmoud Ahmadinejad, em maio.
"Para Ahmadinejad, que fundiu o programa nuclear com o nacionalismo e criticou os reformistas por serem muito abertos a demandas ocidentais, será difícil chegar a um compromisso na frente nuclear", escreveu Ray Takeyh, do Council on Foreign Relations.
Não se espera que o Irã chegue com propostas novas hoje. EUA, França e Reino Unido já falam em adotar a quarta leva de sanções. Entre os três não há unanimidade: Obama indicou que está disposto a esperar até o fim do ano, enquanto britânicos pedem mais pressa. A Rússia e a China, do seu lado, dificilmente concordariam com sanções duras como as citadas pelos outros três, incluindo um embargo à venda de combustível (produtor de petróleo, o Irã compra 20% de suas necessidades do produto refinado).
Blake Hounshell, coeditor da revista "Foreign Policy", e Gary Sick, professor da Universidade Columbia que serviu no Conselho de Segurança Nacional, acham que o Irã não vai parar enquanto não chegar ao limiar da bomba -a capacidade de tê-la em tempo curto.
"Pode ser que isso seja suficiente para fazer com que o país se sinta seguro e a comunidade internacional possa afirmar que evitou um problema de proliferação", disse Hounshell. A dúvida, ponderou, é se esse desfecho seria aceito por Israel, potência nuclear da região, alvo de ameaças de Ahmadinejad e que em 2008 chegou a pedir aos EUA bombas especiais para um ataque às instalações iranianas. (CA)


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