São Paulo, quarta-feira, 01 de novembro de 2000

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ELEIÇÃO NOS EUA
Bush ataca adversário em Estados tradicionalmente democratas; Gore concentra-se no Colégio Eleitoral
Gore e Bush adotam estratégias distintas

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Os dois principais candidatos à presidência dos EUA, o democrata Al Gore, vice-presidente dos EUA, e o republicano George W. Bush, governador do Texas, adotaram estratégias diferentes para garantir a vitória eleitoral nos seis dias que faltam para as eleições de 7 de novembro.
Em ligeira vantagem nas pesquisas nacionais (mas dentro da margem de erro, caracterizando empate técnico), Bush decidiu concentrar seu calendário de viagens e de gastos em Estados tradicionalmente democratas, como Califórnia, Washington, Oregon, Michigan e Pensilvânia, nos quais avançou nas sondagens de opinião ou até assumiu a liderança.
Com essa estratégia, pretende quebrar a coluna vertebral da campanha de Gore, derrotando-o em seu próprio terreno, ou, ao menos, confinar a campanha de seu adversário ao próprio "território" democrata.
Os esforços de Bush tiveram resultado parcial. Gore mudou seu programa e tem sido obrigado a repetir viagens que já não pretendia fazer. O democrata foi obrigado a voltar para Washington e Oregon e retorna hoje à Califórnia, o maior colégio eleitoral do país, onde os democratas realizaram sua convenção em agosto passado e no qual Gore teve sua vantagem de 10 a 20 pontos percentuais nas pesquisas reduzida pela metade em dois meses.
"Tem muita gente que ficará chocada no dia 7 de novembro, a começar por meu adversário e seus assessores, que não entendem o que está acontecendo na Califórnia", disse Bush ontem.
Apesar de a campanha de Bush ter "algemado" Gore, os democratas desenvolveram uma estratégia de emergência. Gore pretende jogar "pelo regulamento". Mesmo se perder no voto popular, ele quer a vitória no Colégio Eleitoral, que define o presidente.
Com essa estratégia, Gore procura beneficiar-se do fato de que as eleições nos EUA são indiretas. Embora os nomes dos candidatos apareçam nas cédulas que serão entregues aos eleitores, a população em cada Estado elege, na verdade, grupos estaduais de representantes, associados a cada um dos candidatos, que compõem os 538 votos do Colégio Eleitoral.
Cada unidade da federação tem um número específico de representantes. No Colégio Eleitoral, esses representantes votam em bloco para o candidato presidencial que vencer no Estado específico de cada grupo.
O presidente eleito dos EUA não é aquele que obtém o maior número de votos de eleitores em todo o país, mas aquele que obtiver pelo menos 270 votos no Colégio Eleitoral.
Estados têm diferentes pesos políticos. Os mais fortes no Colégio Eleitoral são Califórnia (54 votos), Nova York (33) e Texas (32).
Como os votos de cada unidade da federação (menos duas) caminham em bloco para quem vencer localmente, mesmo que um candidato perca para outro por apenas 10 mil votos na Califórnia, ele perde todos os 54 representantes desse Estado no Colégio Eleitoral.
Somente em Maine e Nebraska, o candidato que vencer no voto popular não levará obrigatoriamente todos os votos do Colégio Eleitoral. Nesses Estados, 5 dos 9 votos do Colégio Eleitoral serão decididos em distritos eleitorais, não com base no Estado inteiro.
Por essa razão, a campanha de Gore acredita que o avanço de Bush na Califórnia é inócuo, pois aproximaria as votações dos dois candidatos na contagem popular sem tirar a vantagem do democrata no Colégio Eleitoral.
Em eleições apertadas como a atual, esse sistema eleitoral indireto abre a possibilidade de um candidato eleger-se sem obter a maioria dos votos populares. Isso ocorreu em 1888.
Pesquisas sobre votos no Colégio Eleitoral mostram indefinição. Para a rede CNN, Gore já teria 222 votos, contra 218 de Bush. Já para a agência de notícias "Reuters", Bush estaria na frente com 217 votos, contra 214 para Gore.
A campanha de Gore não admite abertamente que desistiu da vitória no voto popular. Mas Doug Vega, assessor de Bush, reconhece que Gore não vai gastar mais recursos na Califórnia por achar que o avanço de Bush "não irá alterar a composição do colégio".
A peculiaridade do Colégio Eleitoral é um dos fatores que mantêm as eleições presidenciais norte-americanas indefinidas.
Desde o dia 4 de setembro, Gore e Bush já alternaram oito vezes na liderança da pesquisa do jornal "USA Today" e da rede de TV CNN. Três vezes, o resultado saiu da margem de erro e apontou a liderança clara de um dos dois.
Embora outras pesquisas tenham demonstrado serem menos voláteis, elas tendem a convergir. "Atualmente, todas as pesquisas mostram Bush ligeiramente na frente, mas com uma margem muito pequena para definir sua vitória tanto no voto popular como no Colégio Eleitoral", disse Terry Madonna, da Universidade de Millersville (Pensilvânia).


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