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CONTAGEM
Famílias devem esconder filhos fora da "cota"
Seis milhões de pessoas realizam na China o maior censo da história
CALUM E LIJIA MCLEOD
DO "THE INDEPENDENT", EM PEQUIM
Um exército de 6 milhões de recenseadores entrou em ação na
meia-noite de ontem para chegar
a um total mais preciso da população da República Popular da
China. Até 10 de novembro, vão
vasculhar os povoados e os arranha-céus do país para compilar o
maior censo da história.
Mas até funcionários do governo admitem que os números do
censo podem ficar milhões de
pessoas aquém da cifra real, já que
muitos pais preferem ocultar a
existência de um segundo ou
mesmo terceiro filho dos draconianos planejadores familiares.
A contagem de cabeças já começou nas regiões mais frias. Os recenseadores no planalto tibetano
e nas regiões setentrionais da
Mongólia Interior e de Heilongjiang começaram mais cedo seu
esforço para contatar as massas,
atravessando montanhas, pradarias, desertos e nevascas.
Mas os acidentes geográficos e o
mau tempo não constituem os
maiores desafios enfrentados pelo quinto recenseamento realizado na China desde 1949. O adversário mais implacável dos recenseadores é a desonestidade.
"Na economia planejada, não
havia privacidade. Agora vivemos
numa economia de mercado, e as
pessoas querem proteger seus segredos", diz o diretor de população do Birô Nacional de Estatísticas chinês, Zhang Weimin.
Os segredos de Liu Zongwei estão jogando baralho no quarto de
dormir da família, que também
faz as vezes de depósito e fica nos
fundos da minúscula loja dele. Liu
Fang e Liu Fei, 8 e 7 anos de idade,
figuram entre as pelo menos 18
mil chamadas "crianças negras"
da capital chinesa, cujo número
chega a mais de 5 milhões em todo o país. O apelido se aplica a toda criança não registrada.
Quando os recenseadores chegarem a Mentougou, na periferia
de Pequim, Liu vai esconder Fang
e Fei e declarar apenas a irmã
mais velha das crianças, Liu Xiaoli, 12, que vive com sua avó no povoado natal de Liu, na Província
de Shandong. "Por que eu as declararia? Seria um convite a problemas."
Para o estatístico Zhang Weimin, trabalhadores migrantes como Liu e nascimentos "excedentes", ou ilegais, são grandes dores
de cabeça. Desde o fim da década
de 1980, a sociedade chinesa vem
se tornando mais móvel e difícil
de controlar -e contabilizar.
Os primeiros resultados do censo serão divulgados em fevereiro
de 2001. A previsão é que ele indique a existência de pouco menos
de 1,3 bilhão de pessoas -22% da
população mundial, que a China
tem de alimentar com 7% das terras aráveis do mundo.
Tradução de Clara Allain
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