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ESTUDO
Sistema não resolve problemas econômicos da população e perde apoio, mas ainda é visto como vetor do desenvolvimento
AL está infeliz com democracia e mercado
DA REDAÇÃO
A democracia e a economia de
mercado estão intimamente ligadas ao desenvolvimento para a
maioria dos latino-americanos,
mas apenas uma parcela pequena
da população se diz satisfeita com
o modo como as duas coisas funcionam hoje em seu país.
Uma pesquisa conduzida entre
18 de julho e 28 de agosto deste
ano com 18.638 pessoas em 17
países e divulgada ontem pela organização Latinobarómetro, sediada no Chile, que estuda a opinião pública na região, mostra
que só 28% dos latino-americanos estão satisfeitos com a democracia, embora 53% sigam
apoiando o sistema e 64% acreditem que ele seja o único a levar ao
desenvolvimento.
Em relação à economia de mercado, o índice de satisfação é ainda menor: 16%, embora 57% a
apontem como único sistema
econômico compatível com o desenvolvimento de um país. A
grande maioria da população, diz
o estudo, não se sente incluída no
mercado e tampouco crê que ele
tenha lhe trazido benefícios.
Um dos grandes motivos da insatisfação com o mercado é o alto
índice de desemprego na região.
O problema foi apontado como o
mais grave por 29% dos entrevistados, aparecendo na frente de
itens como pobreza e corrupção.
Além disso, 54% dizem ter medo o desemprego. Nesse ranking,
o Brasil é o segundo país, com
63% da população temendo perder o emprego -a Guatemala é o
primeiro, com 66%. Outro item
relacionado é a porcentagem de
pessoas que disseram ter grandes
problemas financeiros: 23% (quase um quarto dos entrevistados).
O estudo ressalta que, embora
ainda forte no continente, o apoio
à democracia vem caindo: de
1996, o primeiro ano em que a
pesquisa foi realizada, a 2003, passou de 61% a 53%. O nível atual é
menor do que os 56% do ano passado (embora a queda esteja dentro da margem de erro da pesquisa, de 2,8% a 4,1% dependendo do
país). Além disso, nunca tanta
gente se declarou insatisfeita com
o modelo democrático: 66%, contra 60% no ano passado.
Dos entrevistados, apenas 38%
declararam apoio a seu governo, a
quem 63% deles atribuíram a responsabilidade pelos problemas
econômicos -o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva teve um dos
maiores índices de aprovação,
62%, atrás apenas do argentino
Néstor Kirchner (86%) e do colombiano Álvaro Uribe (65%).
Instabilidade
O estudo desvincula a situação
econômica da satisfação com a
democracia, mostrando que países com uma situação pior ou que
acabaram de emergir de uma crise muitas vezes apóiam mais o
modelo do que outros de situação
econômica mais estável.
"As idas e vindas econômicas e
políticas não conseguiram desmantelar a democracia na América Latina", disse Marta Mori, uma
das diretoras do Latinobarómetro. "Parece haver consenso de
que sem democracia não é possível atuar no mundo globalizado."
Entretanto o grupo chileno
aponta para uma crescente visão
da democracia ou do mercado como "incompetentes" abrindo espaço para a instabilidade política
na região.
Um exemplo contundente é o
da Bolívia, onde um levante popular que eclodiu com base na insatisfação com o mercado -a
proposta governamental de exportar gás aos EUA e ao México
usando o território chileno- e
com a democracia -queixas da
falta de representatividade indígena no gabinete, quando os índios perfazem 60% da população- resultou na queda do presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, há duas semanas.
Uma das conclusões mais preocupantes do estudo é a de que
52% da população da região, ainda que a maioria se declare favorável à democracia, não se importaria em ser submetida a um governo não-democrático contanto
que ele resolvesse os problemas
econômicos do país. Essa acepção
é especialmente forte no Brasil,
onde 65% dos entrevistados concordaram com ela -apenas o Paraguai e a Nicarágua apresentaram índice mais elevado.
O Brasil e o Paraguai são, aliás,
os únicos países em que mais da
metade da população se diz não-democrata: 55% no primeiro e
60% no segundo. Na região como
um todo o índice é de 39%.
Com agências internacionais
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