São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004

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Voto feminino pode ser o fator decisivo no pleito

DE NOVA YORK

Há uma boa chance de a eleição americana ser decidida pelo voto das mulheres.
Elas são a maioria do eleitorado, guiam sua decisão pelas questões econômicas e costumavam preferir os candidatos democratas. Neste ano, no entanto, esse quadro mudou, e George W. Bush e John Kerry estão disputando o grupo voto a voto.
"As mulheres estão com medo de que Kerry não seja forte o suficiente", resume Ethel Klein, estrategista política, analista e autora de "Gender Politics" (a política dos sexos). Para ela, essa é a principal razão de o eleitorado feminino estar mais dividido agora.
Uma pesquisa com 2.412 eleitores registrados divulgada há dois dias pelo "Washington Post" mostra que, entre as mulheres, 52% preferem Kerry, e 46%, Bush -entre os homens, Bush tem 50% dos votos, e Kerry, 47%.
Mas o quadro muda se levados em conta apenas os eleitores prováveis. Um levantamento com 1.206 membros desse grupo divulgado quinta pela Zogby mostra que, das mulheres, 46,9% preferem Bush e 45,5%, Kerry. Em ambos os casos, a margem de erro é de três pontos percentuais em ambas as direções.
"Nunca vi nada parecido com esses números", diz Klein, que estuda há anos o chamado "gender gap" -a diferença entre o voto feminino e o masculino que, eventualmente, decide a eleição.
Segundo a analista, as mulheres não se decidem com base nos valores morais defendidos por cada candidato -mesmo quando se importam com eles. Mais tolerantes, elas não estão tão imersas na guerra cultural que tomou os Estados Unidos como os homens. Esse comportamento permanece como era em outras eleições.
O que mudou foi outra coisa. Tradicionalmente mais preocupadas com a economia e com o caráter do candidato, elas agora priorizam a segurança.
Sob esse aspecto, o discurso de Bush produziu dois efeitos. Enquanto os homens absorvem com maior facilidade a retórica da guerra ao terror, as mulheres se dividem entre as que reagem com medo -e aceitam o discurso do presidente- e as que reagem com raiva -e o rejeitam.
O primeiro grupo anda bastante em voga nas análises eleitorais: são as "security moms", as mulheres com filhos em idade escolar para as quais a segurança -seja a sua, a de sua família ou a do país- está acima de tudo, e as quais pesquisadores apontam como causa da possível reversão na tendência de voto feminino.
Não fosse isso, a maioria delas tenderia a votar em Kerry, diz Klein. Isso ocorre por causa das propostas econômicas -as do democrata atraem mais os que têm menor segurança financeira. E, nesse grupo, novamente, as mulheres predominam -sobretudo as solteiras.
"Elas também são maioria entre os mais pobres. E agora, diferentemente do que no passado, quando eram poupadas por ganharem menos, estão sofrendo com as demissões tanto quanto os homens", afirma Klein.
É esse cabo-de-guerra que persistirá nesses últimos dias da disputa, e é nisso que os candidatos, se quiserem conquistar o voto feminino, devem investir.
"Se eu fosse estrategista do Kerry, eu focaria só a economia. Diria que a eleição pode estar centrada na segurança, mas que o que realmente importa é que você não tem dinheiro para pagar sua hipoteca, o seu seguro-saúde não cobre mais seus filhos, seu marido foi demitido", afirma Klein. E se fosse Bush? "Continuaria fazendo o mesmo. Repetindo sem parar que Kerry não é apto para ser um comandante-em-chefe." (LC)


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