São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004

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No ranking de buscas na internet, o presidente ganha de ídolos pop

GISELLE BEIGUELMAN
ESPECIAL PARA A FOLHA

As eleições americanas de 2004 transformaram a internet na maior arena de debate do planeta. Os sites dos partidos Democrata e Republicano bateram recordes de audiência, angariaram recursos e gastaram US$ 2,66 milhões em propaganda paga na web.
Não chega a 1% do que foi gasto na TV, mas levaram o American Museum of Moving Image a incorporar os anúncios de George W. Bush e John F. Kerry na internet ao seu acervo de campanhas políticas.
Os eleitores não se limitaram ao consumo. Publicaram milhões de páginas, majoritariamente favoráveis a Kerry, mas que, paradoxalmente, fizeram de Bush a "cibercelebridade" do momento. No ranking de palavras mais procuradas do Yahoo, Bush está em terceiro lugar, ultrapassando ídolos como Eminem e Britney Spears.
Uma pesquisa no Google que tenha no campo de busca as palavras "anti" ou "pró Bush", ou "anti" ou "pró Kerry" é suficiente para concluir que "Bush" é a palavra-chave da temporada, mesmo para aqueles que buscam sites de apoio a Kerry.
Esses milhões de sites não-oficiais estão longe de refletir um adensamento da discussão política na internet.
A maior parte dos sites utiliza motes de conteúdo e layout idênticos. A tônica geral é apelar para as cores da bandeira americana, os monumentos pátrios mais famosos (estátua da Liberdade, Casa Branca etc.) e para a ridicularização e demonização do rival.
Paródias, cartuns, fotos e "documentários" que mostram a ignorância, a indecisão e a distância dos candidatos em relação aos valores supostamente atávicos da "América" dominam a cena.
Prevalece, em todos esses sites, a personalização do debate eleitoral e o esvaziamento da discussão sobre a importância dessas eleições para os Estados Unidos e para o planeta.

O presidente do mundo
Como deixa claro o Global Vote 2004, amanhã não se decidirá quem é o presidente de um país, mas sim quem é o presidente do mundo. Assim, o site promove uma eleição em que todos os não-americanos podem votar e promete divulgar os resultados hoje (www.globalvote2004.org).
Outro que foge à regra é o Bush Game, um jogo educativo que faz a retrospectiva dos fatos mais marcantes dos quatro anos de governo do presidente -como o caso Enron-, em um ambiente de monstros e com cenário high-tech, que tem tudo para conquistar os adeptos dos morticínios mais populares, como o Counter Strike e afins.
Mas esses exemplos são exceções. Em vez de indicar a politização das mídias, o que a onda de sites relacionados às eleições presidenciais dos Estados Unidos demonstra de fato é muito mais a midiatização da política.


Giselle Beiguelman é professora do curso de pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP. Desde 1998 tem um estúdio de criação digital (www.desvirtual.com), onde são desenvolvidos seus projetos, como os premiados "O Livro Depois do Livro" e "Egoscópio". É autora de "A República de Hemingway" (Perspectiva) e "O Livro Depois do Livro" (Fundação Peirópolis).


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