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No ranking de buscas na internet, o presidente ganha de ídolos pop
GISELLE BEIGUELMAN
ESPECIAL PARA A FOLHA
As eleições americanas de 2004
transformaram a internet na
maior arena de debate do planeta.
Os sites dos partidos Democrata e
Republicano bateram recordes de
audiência, angariaram recursos e
gastaram US$ 2,66 milhões em
propaganda paga na web.
Não chega a 1% do que foi gasto
na TV, mas levaram o American
Museum of Moving Image a incorporar os anúncios de George
W. Bush e John F. Kerry na internet ao seu acervo de campanhas
políticas.
Os eleitores não se limitaram ao
consumo. Publicaram milhões de
páginas, majoritariamente favoráveis a Kerry, mas que, paradoxalmente, fizeram de Bush a "cibercelebridade" do momento. No
ranking de palavras mais procuradas do Yahoo, Bush está em terceiro lugar, ultrapassando ídolos
como Eminem e Britney Spears.
Uma pesquisa no Google que
tenha no campo de busca as palavras "anti" ou "pró Bush", ou "anti" ou "pró Kerry" é suficiente para concluir que "Bush" é a palavra-chave da temporada, mesmo
para aqueles que buscam sites de
apoio a Kerry.
Esses milhões de sites não-oficiais estão longe de refletir um
adensamento da discussão política na internet.
A maior parte dos sites utiliza
motes de conteúdo e layout idênticos. A tônica geral é apelar para
as cores da bandeira americana,
os monumentos pátrios mais famosos (estátua da Liberdade, Casa Branca etc.) e para a ridicularização e demonização do rival.
Paródias, cartuns, fotos e "documentários" que mostram a ignorância, a indecisão e a distância
dos candidatos em relação aos valores supostamente atávicos da
"América" dominam a cena.
Prevalece, em todos esses sites, a
personalização do debate eleitoral
e o esvaziamento da discussão sobre a importância dessas eleições
para os Estados Unidos e para o
planeta.
O presidente do mundo
Como deixa claro o Global Vote
2004, amanhã não se decidirá
quem é o presidente de um país,
mas sim quem é o presidente do
mundo. Assim, o site promove
uma eleição em que todos os não-americanos podem votar e promete divulgar os resultados hoje
(www.globalvote2004.org).
Outro que foge à regra é o Bush
Game, um jogo educativo que faz
a retrospectiva dos fatos mais
marcantes dos quatro anos de governo do presidente -como o caso Enron-, em um ambiente de
monstros e com cenário high-tech, que tem tudo para conquistar os adeptos dos morticínios
mais populares, como o Counter
Strike e afins.
Mas esses exemplos são exceções. Em vez de indicar a politização das mídias, o que a onda de sites relacionados às eleições presidenciais dos Estados Unidos demonstra de fato é muito mais a
midiatização da política.
Giselle Beiguelman é professora do
curso de pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP. Desde 1998
tem um estúdio de criação digital
(www.desvirtual.com), onde são desenvolvidos seus projetos, como os premiados "O Livro Depois do Livro" e "Egoscópio". É autora de "A República de Hemingway" (Perspectiva) e "O Livro Depois do Livro" (Fundação Peirópolis).
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