São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004

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Pleito pode fortalecer comunidade latina

Roberto Schmidt/France Presse
Eleitores do democrata John Kerry conversam com cubano que diz apoiar o presidente George W. Bush num bairro latino de Miami


Imigrantes da primeira geração são disputados como nunca e poderão ver seu peso político ampliado ao final da campanha

ANDRES OPPENHEIMER

Independentemente do resultado da eleição americana de amanhã, são grandes as chances de que um dos maiores vencedores venha a ser o bloco crescente de imigrantes latino-americanos.
Se a eleição for tão apertada quanto tudo indica que seja, a participação dos imigrantes latino-americanos de primeira geração, que se prevê seja recorde, pode acabar constituindo um fator muito importante para decidir o resultado e pode acabar por aumentar de maneira significativa o peso político dos 39 milhões de hispânicos residentes nos EUA, tanto em termos de assuntos nacionais quanto internacionais.
É verdade que boa parte do que se disse no passado sobre a importância crescente do voto hispânico não passou de especulação. Mas, se olharmos para o dinheiro gasto pelo presidente Bush e o senador democrata John Kerry na mídia de língua espanhola, fica claro que ambos consideram o voto hispânico crucial.
Um estudo conduzido pelo Projeto Eleitor Hispânico da Universidade Johns Hopkins revela que as campanhas de Bush e Kerry e seus respectivos grupos de apoio já gastaram US$ 13 milhões na mídia de língua espanhola nesta eleição, contra US$ 4 milhões na eleição de 2000.
A maior parte desse dinheiro foi usada em anúncios na TV de língua espanhola, anúncios esses que atingiram muitos imigrantes latino-americanos de primeira geração. Cerca de 50% dos eleitores hispânicos nos EUA nasceram na América Latina ou em Porto Rico, e metade deles se cadastrou como eleitores desde 1990, segundo as pesquisas.
"O dinheiro fala. Quando as campanhas põem dinheiro na mesa, a gente sabe que estão falando a sério", comentou Sergio Bendixen, que conduz pesquisas para o Partido Democrata e é especializado no eleitorado hispânico americano.

Hispânicos indecisos
Algumas das razões dessa atenção repentina voltada aos imigrantes latino-americanos são:
1) os especialistas eleitorais estão prevendo um comparecimento recorde de eleitores hispânicos às urnas, possivelmente cerca de 7,5 milhões de eleitores, ou seja, mais de 6% dos eleitores do país. Considerando-se que as pesquisas apontam para um virtual empate, é uma cifra muito grande. Em 2000, cerca de 5,9 milhões de hispânicos votaram;
2) os responsáveis pelas pesquisas de intenção de voto dizem que um número significativo de eleitores hispânicos está indeciso ou se dispõe a votar em candidatos presidenciais e parlamentares de um ou outro partido.
Em 2000, por exemplo, a maioria dos eleitores hispânicos da Flórida central apoiou o candidato democrata, Al Gore, e, em 2002, o governador republicano Jeb Bush. Por essa razão, estrategistas republicanos e democratas acham que uma parte considerável dos eleitores hispânicos ainda está indecisa;
3) existe uma concentração enorme de eleitores hispânicos nos principais Estados em que a disputa está pau a pau. Na eleição de 2000, Bush conquistou a Flórida por 537 votos e Al Gore venceu no Novo México por 366 votos.

Andres Oppenheimer é colunista do "Miami Herald". A íntegra deste texto foi publicada no "Miami Herald" na última quinta-feira.

Tradução de Clara Allain


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