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Após eleição, republicanos repensarão sua identidade
Independentemente do resultado, partido terá de se reconciliar e achar rumo
Troca de acusações por problemas de campanha já começou, e Palin é o pivô;
agremiação escolherá que bandeira deve empunhar
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
Muito dividido internamente, em especial após a escolha
de Sarah Palin como vice de sua
chapa presidencial, o Partido
Republicano sairá das eleições
deste ano diretamente para o
divã -mesmo que o candidato
John McCain contrarie as pesquisas e seja o vencedor do pleito de terça-feira.
A discussão sobre qual posição assumir no futuro já ferve.
O momento é de aproximar-se
dos anseios de assistência da
população mais pobre? Ou de
tentar voltar às raízes da era
Ronald Reagan (1981-1989), de
conservadorismo moral, fiscal
e grandeza militar?
"São muitas as propostas de
mudança, algumas delas opostas, mas, sendo governo ou
oposição, o partido terá de se
reposicionar, simplesmente
porque hoje não há como definir onde ele está", disse à Folha
Thomas Patterson, analista político da Universidade Harvard.
Uma boa medida do debate
sobre os rumos aparece nas
pré-candidaturas ao comando
do Comitê Nacional Republicano. Katon Dawson, diretor do
partido na Carolina do Sul, tem
como bandeira garantir que a
agremiação esteja atenta a suas
raízes conservadoras mesmo
que McCain (tido como centrista em questões morais e
quase progressista em outras,
como imigração), governe.
Já outro postulante ao comitê, James Greer, que lidera o
partido na Flórida, diz que o
momento é de se aproximar
dos desejos do eleitorado hispânico e negro, ambos em geral
de renda mais baixa e mais interessados em investimentos
do governo em saúde e educação pública, por exemplo. "A
primeira mensagem deve ser:
"Quero ouvir mais do que falar.
Como eleitor, o que o Partido
Republicano tem feito de certo
e de errado?", exemplificou
Greer à imprensa americana.
Para Thomas Patterson, não
haverá guinada radical. "Comprar a briga contra ou a favor
dos imigrantes ilegais, por
exemplo, faria o partido perder
votos de qualquer maneira. O
que acho mais provável é uma
mudança suave, com menor
ênfase à agenda da direita religiosa [como a proibição do
aborto] para não se indispor
com eleitores moderados e voltando-se mais à defesa de corte
de impostos, com distanciamento do enorme gasto público da era George W. Bush."
O efeito Palin
A tensão no partido se intensifica com indícios de que a escolha da governadora Sarah Palin (Alasca) como vice de
McCain tenha sido um mau negócio, o que a coloca como principal alvo na hora de escolher
um bode expiatório para o desempenho aquém do esperado.
Depois da conclusão inicial
de que ela havia energizado a
base republicana com seu discurso conservador e perfil de
"mulher do povo", hoje a insegurança ao responder questões
sobre governo (especialmente
de política internacional) arranha com força sua imagem.
Pesquisa do jornal "New
York Times" e rede CBS News
mostra que 59% dos eleitores
não a consideram preparada
para ser vice. No início de outubro, o percentual era de 50%.
O levantamento ouviu 1.439
eleitores entre sábado e quarta-feira. A margem de erro é de
três pontos percentuais para
mais ou para menos.
Nessa mesma pesquisa, Obama tem 51% da preferência nacional, contra 40% de McCain.
Na média nacional, contudo, a
diferença é de apenas seis pontos percentuais, o que desperta
a dúvida: por que, mesmo com
tanto descontentamento sobre
a campanha e a rejeição a Bush,
a vitória do Partido Democrata
está longe de estar garantida?
Para Patterson, Obama tem
um vento forte a seu favor (o
descontentamento com Bush),
mas outro também intenso
contra ele. "Não podemos esquecer que a raça é uma questão muito forte dentro dos Estados Unidos. Se Obama vencer, como eu acho que ele vai,
terá desafiado a rejeição de
grande parte do eleitorado por
ser negro. Hillary Clinton [derrotada por ele nas prévias democratas] estaria tendo mais
facilidade em um contexto tão
favorável para a oposição, especialmente pelo agravamento da
crise econômica", diz ele.
Os EUA elegem seu presidente no Colégio Eleitoral.
Nesse sistema, a vitória em cada Estado (à exceção de Maine
e Nebraska) dá ao candidato
um pacote fechado de votos,
proporcional à população local.
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