São Paulo, sábado, 01 de novembro de 2008

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Após eleição, republicanos repensarão sua identidade

Independentemente do resultado, partido terá de se reconciliar e achar rumo

Troca de acusações por problemas de campanha já começou, e Palin é o pivô; agremiação escolherá que bandeira deve empunhar

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

Muito dividido internamente, em especial após a escolha de Sarah Palin como vice de sua chapa presidencial, o Partido Republicano sairá das eleições deste ano diretamente para o divã -mesmo que o candidato John McCain contrarie as pesquisas e seja o vencedor do pleito de terça-feira.
A discussão sobre qual posição assumir no futuro já ferve. O momento é de aproximar-se dos anseios de assistência da população mais pobre? Ou de tentar voltar às raízes da era Ronald Reagan (1981-1989), de conservadorismo moral, fiscal e grandeza militar?
"São muitas as propostas de mudança, algumas delas opostas, mas, sendo governo ou oposição, o partido terá de se reposicionar, simplesmente porque hoje não há como definir onde ele está", disse à Folha Thomas Patterson, analista político da Universidade Harvard.
Uma boa medida do debate sobre os rumos aparece nas pré-candidaturas ao comando do Comitê Nacional Republicano. Katon Dawson, diretor do partido na Carolina do Sul, tem como bandeira garantir que a agremiação esteja atenta a suas raízes conservadoras mesmo que McCain (tido como centrista em questões morais e quase progressista em outras, como imigração), governe.
Já outro postulante ao comitê, James Greer, que lidera o partido na Flórida, diz que o momento é de se aproximar dos desejos do eleitorado hispânico e negro, ambos em geral de renda mais baixa e mais interessados em investimentos do governo em saúde e educação pública, por exemplo. "A primeira mensagem deve ser: "Quero ouvir mais do que falar. Como eleitor, o que o Partido Republicano tem feito de certo e de errado?", exemplificou Greer à imprensa americana.
Para Thomas Patterson, não haverá guinada radical. "Comprar a briga contra ou a favor dos imigrantes ilegais, por exemplo, faria o partido perder votos de qualquer maneira. O que acho mais provável é uma mudança suave, com menor ênfase à agenda da direita religiosa [como a proibição do aborto] para não se indispor com eleitores moderados e voltando-se mais à defesa de corte de impostos, com distanciamento do enorme gasto público da era George W. Bush."

O efeito Palin
A tensão no partido se intensifica com indícios de que a escolha da governadora Sarah Palin (Alasca) como vice de McCain tenha sido um mau negócio, o que a coloca como principal alvo na hora de escolher um bode expiatório para o desempenho aquém do esperado.
Depois da conclusão inicial de que ela havia energizado a base republicana com seu discurso conservador e perfil de "mulher do povo", hoje a insegurança ao responder questões sobre governo (especialmente de política internacional) arranha com força sua imagem.
Pesquisa do jornal "New York Times" e rede CBS News mostra que 59% dos eleitores não a consideram preparada para ser vice. No início de outubro, o percentual era de 50%.
O levantamento ouviu 1.439 eleitores entre sábado e quarta-feira. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
Nessa mesma pesquisa, Obama tem 51% da preferência nacional, contra 40% de McCain. Na média nacional, contudo, a diferença é de apenas seis pontos percentuais, o que desperta a dúvida: por que, mesmo com tanto descontentamento sobre a campanha e a rejeição a Bush, a vitória do Partido Democrata está longe de estar garantida?
Para Patterson, Obama tem um vento forte a seu favor (o descontentamento com Bush), mas outro também intenso contra ele. "Não podemos esquecer que a raça é uma questão muito forte dentro dos Estados Unidos. Se Obama vencer, como eu acho que ele vai, terá desafiado a rejeição de grande parte do eleitorado por ser negro. Hillary Clinton [derrotada por ele nas prévias democratas] estaria tendo mais facilidade em um contexto tão favorável para a oposição, especialmente pelo agravamento da crise econômica", diz ele.
Os EUA elegem seu presidente no Colégio Eleitoral. Nesse sistema, a vitória em cada Estado (à exceção de Maine e Nebraska) dá ao candidato um pacote fechado de votos, proporcional à população local.


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