São Paulo, sábado, 01 de novembro de 2008

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USA>>Por Kathleen Parker

O indeciso


"Quem são esses eleitores?" É uma pergunta que causa especial perplexidade nesta eleição, quando o que está em jogo é tão claro e nítido. Ninguém poderia confundir Barack Obama com John McCain

UMA DAS criaturas mais estranhas do eleitorado americano -se bem que é reconhecidamente difícil decidir-se por apenas uma- é a espécie conhecida como "os indecisos".
Esses são eleitores que não sabem quem apóiam até o último instante antes de depositarem seu voto na urna. Isso, apesar de uma temporada eleitoral que já dura quase dois anos. Os americanos de vez em quando se apressam para entrar em guerra, mas não têm pressa de ir às urnas.
Pela última contagem, os indecisos formavam 8% dos eleitores. Vistos tipicamente como eleitores "pendulares", eles tendem a receber muita atenção perto do final da campanha. Fazemos força para não imaginar que essa timidez tardia possa guardar relação, digamos, com um histórico de rejeição em algum momento de seu passado? Tão pouco tempo que resta, tanta atenção exigida...
Embora os eleitores pendulares sejam importantes, não se prevê que eles mudem toda a configuração da eleição desta vez.
Mesmo assim, não podemos deixar de nos perguntar: "Quem são esses eleitores? O que eles querem realmente?".
É uma pergunta que provoca perplexidade especial nesta eleição, quando o que está em jogo é tão claro e nítido. Ninguém poderia confundir Barack Obama com John McCain. Entretanto... hm...
Os candidatos devem estar igualmente perplexos enquanto cortejam esse grupo tão volúvel. Que ordem mágica, ou que grão de sujeira, serão capazes de fazer o indeciso mudar de opinião?
Em vista da dianteira de Obama nas horas finais, os republicanos estão fazendo hora extra para achar alguma coisa que deponha contra Obama -qualquer coisa. Nos últimos dias, um jornal britânico divulgou que encontrou a tia paterna de Obama vivendo num alojamento público na zona sul de Boston. Eureca! Uma fonte nova de escândalo.
Pode ser. Mas será que é?
Se ela de fato é sua tia ainda não foi determinado ao certo, mas, no ciclo diário e contínuo de notícias, isso praticamente não tem importância. Mais do que nunca na história americana, talvez, as pessoas acreditam no que querem acreditar, e essa história soa verdadeira para aqueles que são indiferentes à magia de Obama.
Tirando isso, a campanha de McCain continua a levar para seus comícios a mensagem de que Obama vai conduzir os americanos para um Estado comunista, ou ao menos socialista. Uma reportagem de uma revista conservadora identificou suas raízes comunistas no colo de sua mãe. Obama, diz o autor do artigo, foi um "bebê de fraldas vermelhas".
Bem, valeu a tentativa, embora a maior parte da turma de mais de 50 anos de idade nos EUA, hoje a base conservadora do país, tenha passado boa parte de sua juventude mentindo sobre ter estado em Woodstock. Os jovens liberais freqüentemente viram adultos iguais a seus pais e mães refratárias a mudanças.
Das muitas teorias sobre os indecisos, há uma até hoje não considerada suficientemente. Segundo ela, eles não são indecisos -são relutantes. "Infelizes" talvez seja uma classificação mais apropriada.
Obama é demasiado liberal, desconhecido demais. Seu desembaraço e sua calma não são tão tranqüilizadores quanto perturbadores. Será que ele é de verdade? McCain é estranho demais -já deixou de ser o herói que as pessoas conheciam no passado, o homem de pulso. Impulsivo e irregular, em que princípio acabará por desembarcar? E, finalmente, há Sarah Palin. Dizer o quê? Ueba! Talvez os indecisos não sejam tão esdrúxulos assim.

Tradução de CLARA ALLAIN

KATHLEEN PARKER é colunista do "Washington Post" e comentarista da NBC; ela escreveu esta coluna para a Folha



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