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AMÉRICA LATINA
Regime de Fidel liberta cinco dissidentes em dois dias; governo espanhol diz que sua tática foi "eficiente"
Poeta dissidente Raúl Rivero é solto em Cuba
DA REDAÇÃO
O poeta e jornalista Raúl Rivero, um dos mais importantes dissidentes cubanos, foi libertado
ontem da prisão pelo regime do
ditador Fidel Castro.
Com isso, somam cinco os casos
de dissidentes soltos nos últimos
dois dias, no que opositores castristas avaliam como uma tentativa de Fidel de melhorar a imagem
internacional de seu regime na esfera dos direitos humanos.
O dissidente Osvaldo Alfonso
Valdés, que, quando foi preso, era
presidente do Partido Liberal Democrático, de oposição a Fidel,
também foi libertado ontem.
Rivero e Valdés faziam parte do
grupo de 75 opositores ao regime
de Fidel presos numa ampla operação em março de 2003, num
momento em que a atenção da
comunidade internacional estava
voltada para a Guerra do Iraque,
que, então, estava começando.
Na ocasião, Rivero, 59, recebeu
sentença de 20 anos de prisão sob
a acusação de colaborar com o governo dos EUA para minar o regime de Fidel e de escrever artigos
"subversivos" para a ONG francesa Repórteres sem Fronteiras.
Acusado de ser anti-revolucionário, Valdés, 39, foi condenado,
também em julgamento sumário,
a 18 anos de prisão.
"Não tenho nenhum plano para
o futuro. Ainda estou confuso",
afirmou Rivero após chegar a seu
apartamento em Havana.
A mulher de Rivero, Blanca Reyes, disse que seu marido recebeu
liberdade condicional depois de
passar por um check-up no hospital penitenciário, para onde havia sido removido na última sexta-feira. O escritor sofre de enfisema pulmonar e de cistos nos rins.
"A única vez em que estive feliz
assim foi quando meu filho nasceu", disse Reyes, ao lado de Rivero. "Minha alegria é tão grande
que não cabe nesta casa."
Anteontem, Cuba havia libertado os prisioneiros Marcelo López,
Margarito Broche e Oscar Espinosa Chepe, todos por motivos de
saúde. Todos eles receberam liberdade condicional.
Para Rivero, sua libertação e as
dos demais dissidentes são "um
gesto do governo para diminuir
as tensões um pouco". Segundo
ele, outros presos doentes devem
ser soltos em breve.
O regime de Fidel não comentou as libertações, que acontecem
dias após a retomada das relações
formais entre Cuba e o governo
socialista do premiê espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero. Após
a onda de prisões no ano passado,
a Espanha havia imposto sanções
à ilha e vinha pressionando por
uma abertura do regime cubano.
"Sinto muita gratidão pela negociação que fez o governo espanhol, uma gratidão eterna", disse
Rivero em entrevista à rádio espanhola Cadena Ser.
"Táticas eficientes"
"É um passo na direção certa.
Acreditamos que isso tenha a ver
com o governo espanhol: firmeza
nos princípios ao propor táticas
mais eficientes em suas relações
com Cuba", afirmou Javier Valenzuela, porta-voz de Zapatero, cujo
governo vem tentando reverter as
sanções européias à ilha.
"A libertação de um dissidente é
sempre motivo de alegria para
qualquer democrata", afirmou.
Mais tarde, Zapatero se disse
"muito feliz" pela libertação do
poeta cubano.
Organizações de defesa dos direitos humanos elogiaram a decisão, mas criticaram o fato de os
dissidentes terem permanecido
sob liberdade condicional.
O chanceler holandês, Bernard
Bot, cujo país preside hoje a
União Européia, disse que as libertações são "um bom sinal",
mas "não são suficientes", e instou Cuba a libertar os demais dissidentes presos.
Em Washington, o porta-voz do
Departamento de Estado, Richard Boucher, disse que os dissidentes não deveriam ter sido presos em primeiro lugar.
"Continuamos a condenar a
prisão injusta de dezenas de outros prisioneiros de consciência
em Cuba", afirmou Boucher.
Com agências internacionais
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