São Paulo, quarta-feira, 01 de dezembro de 2004

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AMÉRICA LATINA

Regime de Fidel liberta cinco dissidentes em dois dias; governo espanhol diz que sua tática foi "eficiente"

Poeta dissidente Raúl Rivero é solto em Cuba

DA REDAÇÃO

O poeta e jornalista Raúl Rivero, um dos mais importantes dissidentes cubanos, foi libertado ontem da prisão pelo regime do ditador Fidel Castro.
Com isso, somam cinco os casos de dissidentes soltos nos últimos dois dias, no que opositores castristas avaliam como uma tentativa de Fidel de melhorar a imagem internacional de seu regime na esfera dos direitos humanos.
O dissidente Osvaldo Alfonso Valdés, que, quando foi preso, era presidente do Partido Liberal Democrático, de oposição a Fidel, também foi libertado ontem.
Rivero e Valdés faziam parte do grupo de 75 opositores ao regime de Fidel presos numa ampla operação em março de 2003, num momento em que a atenção da comunidade internacional estava voltada para a Guerra do Iraque, que, então, estava começando.
Na ocasião, Rivero, 59, recebeu sentença de 20 anos de prisão sob a acusação de colaborar com o governo dos EUA para minar o regime de Fidel e de escrever artigos "subversivos" para a ONG francesa Repórteres sem Fronteiras.
Acusado de ser anti-revolucionário, Valdés, 39, foi condenado, também em julgamento sumário, a 18 anos de prisão.
"Não tenho nenhum plano para o futuro. Ainda estou confuso", afirmou Rivero após chegar a seu apartamento em Havana.
A mulher de Rivero, Blanca Reyes, disse que seu marido recebeu liberdade condicional depois de passar por um check-up no hospital penitenciário, para onde havia sido removido na última sexta-feira. O escritor sofre de enfisema pulmonar e de cistos nos rins.
"A única vez em que estive feliz assim foi quando meu filho nasceu", disse Reyes, ao lado de Rivero. "Minha alegria é tão grande que não cabe nesta casa."
Anteontem, Cuba havia libertado os prisioneiros Marcelo López, Margarito Broche e Oscar Espinosa Chepe, todos por motivos de saúde. Todos eles receberam liberdade condicional.
Para Rivero, sua libertação e as dos demais dissidentes são "um gesto do governo para diminuir as tensões um pouco". Segundo ele, outros presos doentes devem ser soltos em breve.
O regime de Fidel não comentou as libertações, que acontecem dias após a retomada das relações formais entre Cuba e o governo socialista do premiê espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero. Após a onda de prisões no ano passado, a Espanha havia imposto sanções à ilha e vinha pressionando por uma abertura do regime cubano.
"Sinto muita gratidão pela negociação que fez o governo espanhol, uma gratidão eterna", disse Rivero em entrevista à rádio espanhola Cadena Ser.

"Táticas eficientes"
"É um passo na direção certa. Acreditamos que isso tenha a ver com o governo espanhol: firmeza nos princípios ao propor táticas mais eficientes em suas relações com Cuba", afirmou Javier Valenzuela, porta-voz de Zapatero, cujo governo vem tentando reverter as sanções européias à ilha.
"A libertação de um dissidente é sempre motivo de alegria para qualquer democrata", afirmou.
Mais tarde, Zapatero se disse "muito feliz" pela libertação do poeta cubano.
Organizações de defesa dos direitos humanos elogiaram a decisão, mas criticaram o fato de os dissidentes terem permanecido sob liberdade condicional.
O chanceler holandês, Bernard Bot, cujo país preside hoje a União Européia, disse que as libertações são "um bom sinal", mas "não são suficientes", e instou Cuba a libertar os demais dissidentes presos.
Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, disse que os dissidentes não deveriam ter sido presos em primeiro lugar.
"Continuamos a condenar a prisão injusta de dezenas de outros prisioneiros de consciência em Cuba", afirmou Boucher.


Com agências internacionais

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