São Paulo, quarta-feira, 01 de dezembro de 2004

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"Deixo a prisão sem grandes ódios", afirma escritor libertado

DA REDAÇÃO

Considerado um dos maiores poetas cubanos de sua geração, Raúl Rivero começou a sua luta contra o regime de Fidel Castro após deixar a imprensa oficial, em 1988, e, até ser preso no ano passado, dedicava-se a denunciar a falta de liberdades civis na ilha.
Em 1995, Rivero fundou a agência de notícias independente Cuba Press. Seis anos depois, participou da criação da primeira associação de jornalistas independentes do país. Em fevereiro último, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) lhe concedeu o prêmio Guillermo Caño de Liberdade de Imprensa.
Pouco depois de ser libertado ontem, após 20 meses na prisão, Rivero improvisou uma coletiva de imprensa em seu apartamento, em Havana, em que afirmou não guardar ódio nem ter planos imediatos de sair do país. "Saio [da prisão] sem fúria, não é uma posição beligerante, e sim construtiva. Não tenho ódios ou, pelo menos, não grandes ódios", disse.
Sobre a possibilidade de deixar Cuba, o jornalista respondeu: "Não tenho porquê sair, nunca quis sair. Este é meu país".
Mas acrescentou: "O que não posso é trabalhar permanentemente com a espada de Dâmocles sobre a cabeça, podendo ser preso outra vez, não somente por mim, mas pela minha família. Quero seguir fazendo jornalismo".
"Se puder trabalhar com normalidade em meu país, poderia permanecer aqui." Rivera disse, porém, que vai "avaliar" sua situação e a de Cuba nos próximos meses para decidir "se definitivamente tenho de ir a outro país".
Apesar de ter ganho liberdade apenas condicional devido a sua saúde debilitada, Rivero afirmou não ter recebido indicações sobre sua liberdade de movimento. Questionado sobre as sanções econômicas impostas sobre a ilha e o embargo por parte dos EUA, Rivero disse que "os gestos diplomáticos duros e as pressões severas nunca funcionam bem".
"Por isso foi inteligente a negociação dos políticos espanhóis nos últimos meses. Foi mais útil que as posições duras", afirmou.
Editoras na França e na Espanha devem publicar em breve o livro de poemas "Coração sem fúria", escrito por Rivera na prisão.
"Tenho muitos outros livros em mente", disse o escritor, que afirmou estar preparando um texto sobre seu período na prisão.


Com agências internacionais

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