São Paulo, sábado, 01 de dezembro de 2007

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Rússia deixa tratado de armas da Europa

A dois dias das eleições parlamentares, Putin ratifica medida popular internamente, mas com forte rechaço externo

Acordo assinado no rastro do colapso soviético limita disposição militar dentro do continente; para muitos russos, texto feria soberania

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

O presidente russo, Vladimir Putin, aproveitou o último dia da campanha eleitoral para o pleito parlamentar de amanhã e tomou uma medida altamente popular, mas que traz implicações externas: assinou o decreto tirando temporariamente a Rússia do Tratado de Forças Convencionais na Europa.
A assinatura é a ratificação de uma decisão de julho e vem em tempo para agradar o eleitorado. De forma geral, a opinião pública russa considera o tratado uma concessão feita no apagar das luzes da União Soviética que fere sua soberania.
Pelo tratado, assinado em 1990 em Paris, todos os países da Otan (aliança militar ocidental) e do então Pacto de Varsóvia (seu similar comunista) limitariam seus equipamentos ofensivos do Atlântico Norte aos montes Urais, onde acaba a Rússia européia.
Com isso, foram destruídos ou retirados para fora das fronteiras do tratado milhares de tanques, peças de artilharia, veículos blindados e helicópteros de ataque. "Esse acordo não tinha mais sentido, era algo do espaço da Guerra Fria. De todo modo, não temos hoje o equipamento para ultrapassar seus limites, então o Ocidente pode ficar tranqüilo", ironizou Ruslan Pukhov, diretor do Centro para Análise de Estratégias e Tecnologia, de Moscou.
O governo Putin sempre considerou o tratado obsoleto por não respeitar o fato de que a Otan seguiu existindo e hoje engole seus ex-aliados do Pacto de Varsóvia. Mas a decisão para a retirada só veio após a insistência dos EUA em criar um sistema de defesa anti-mísseis usando bases européias. Washington alega que precisa do escudo para se defender de mísseis de países como Irã, mas a Rússia vê potencial ofensivo.
O acordo abarcou novas restrições em 1999, mas só Rússia, Ucrânia, Belarus e Cazaquistão o ratificaram. EUA e países da Otan rejeitaram, alegando que Moscou deveria tirar suas tropas da Geórgia e de Moldova -o que se nega a fazer.

Festa antecipada
O movimento de jovens Nashi ("Os nossos"), apoiado pelo Kremlin, divulgou ontem um comunicado declarando as eleições de domingo vencidas pelo presidente. "Em 2 de dezembro, os russos elegeram o presidente Putin como líder nacional da Rússia", diz o texto, que felicita a votação maciça do Rússia Unida, de Putin -dois dias antes do pleito.


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