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Rússia deixa tratado de armas da Europa
A dois dias das eleições parlamentares, Putin ratifica medida popular internamente, mas com forte rechaço externo
Acordo assinado no rastro do colapso soviético limita disposição militar dentro do continente; para muitos russos, texto feria soberania
IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU
O presidente russo, Vladimir
Putin, aproveitou o último dia
da campanha eleitoral para o
pleito parlamentar de amanhã
e tomou uma medida altamente popular, mas que traz implicações externas: assinou o decreto tirando temporariamente a Rússia do Tratado de Forças Convencionais na Europa.
A assinatura é a ratificação de
uma decisão de julho e vem em
tempo para agradar o eleitorado. De forma geral, a opinião
pública russa considera o tratado uma concessão feita no apagar das luzes da União Soviética
que fere sua soberania.
Pelo tratado, assinado em
1990 em Paris, todos os países
da Otan (aliança militar ocidental) e do então Pacto de
Varsóvia (seu similar comunista) limitariam seus equipamentos ofensivos do Atlântico Norte aos montes Urais, onde acaba a Rússia européia.
Com isso, foram destruídos
ou retirados para fora das fronteiras do tratado milhares de
tanques, peças de artilharia,
veículos blindados e helicópteros de ataque. "Esse acordo não
tinha mais sentido, era algo do
espaço da Guerra Fria. De todo
modo, não temos hoje o equipamento para ultrapassar seus
limites, então o Ocidente pode
ficar tranqüilo", ironizou Ruslan Pukhov, diretor do Centro
para Análise de Estratégias e
Tecnologia, de Moscou.
O governo Putin sempre considerou o tratado obsoleto por
não respeitar o fato de que a
Otan seguiu existindo e hoje
engole seus ex-aliados do Pacto
de Varsóvia. Mas a decisão para
a retirada só veio após a insistência dos EUA em criar um
sistema de defesa anti-mísseis
usando bases européias. Washington alega que precisa do
escudo para se defender de
mísseis de países como Irã, mas
a Rússia vê potencial ofensivo.
O acordo abarcou novas restrições em 1999, mas só Rússia,
Ucrânia, Belarus e Cazaquistão
o ratificaram. EUA e países da
Otan rejeitaram, alegando que
Moscou deveria tirar suas tropas da Geórgia e de Moldova
-o que se nega a fazer.
Festa antecipada
O movimento de jovens Nashi ("Os nossos"), apoiado pelo
Kremlin, divulgou ontem um
comunicado declarando as
eleições de domingo vencidas
pelo presidente. "Em 2 de dezembro, os russos elegeram o
presidente Putin como líder
nacional da Rússia", diz o texto,
que felicita a votação maciça do
Rússia Unida, de Putin -dois
dias antes do pleito.
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