São Paulo, sábado, 01 de dezembro de 2007

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análise

Papa desafia modernos e ateus reagem

LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O céu não está vazio, diz Bento 16 em sua nova encíclica. A frase não é apenas uma imagem singela.
"O papa desafia a sociedade moderna e pergunta: você pode oferecer uma resposta mais adequada do que a que Cristo já ofereceu?", aponta Francisco Borba, coordenador do Núcleo de Fé e Cultura da PUC-SP."Sem Deus, você é derrotado pela morte."
O papa dialoga com filósofos de diversas linhas, como Karl Marx, Theodor Adorno, Kant e Bacon. Afirma que projetos de emancipação do homem que apostaram na busca da felicidade sem Deus fracassaram: trocaram um sistema político por outro, até que o homem se esvaziou, sem valores.
Daí a citação ao livro "Irmãos Karamazov", de Fiodor Dostoievski, e a defesa do conceito de juízo final: vale a pena viver uma vida justa, porque nos últimos dias "não se sentarão à mesa, indistintamente, os malvados e as vítimas".
"Ele destaca o fato de que a ciência pode contribuir para humanizar a sociedade, mas pode também destruí-la se não for orientada por forças que estão fora dela pela consciência e pelo amor", afirma d. Filippo Santoro, bispo de Petrópolis (RJ) e presidente da edição brasileira da revista "Communio", fundada em 1972 pelo papa Ratzinger.
"Da esperança bíblica passou-se à esperança do reino do homem e agora está diante dos olhos de todos, por causa das guerras, violências urbanas, injustiças, tédio, vazio e drogas, o déficit de esperança que vive o nosso mundo."
O ateísmo seria apenas uma crítica moralista à religião que não oferece uma resposta convincente às angústias das pessoas.
O professor aposentador da Unicamp e da USP, Leôncio Martins Rodrigues, discorda do papa: "A religião provoca muito mais crimes que o ateísmo. Isso diminui a esperança. Os ateus tendem a ser tolerantes porque não têm uma verdade a defender." O italiano Raffaele Carcano, da União de Ateus e Agnósticos Racionalistas, disse à agência AFP: "Os milhões de ateus no mundo demonstram que se pode viver sem Deus, mas com a razão."
"O papa dá exemplos dos mártires cristãos para explicar como é preciso que a fé seja encarnada na vida", diz em e-mail à Folha o padre Federico Lombardi, porta-voz de Bento 16. "Eles tiveram força para suportar o sofrimento porque sabiam no que acreditavam."


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