São Paulo, quinta-feira, 02 de janeiro de 2003

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VIZINHO EM CRISE

Em Brasília, presidente diz que paralisação é golpe; alguns oposicionistas sugerem a desobediência civil

Oposição fala em suspender greve geral na Venezuela

DA REDAÇÃO

A greve geral da Venezuela completa um mês hoje, e alguns líderes oposicionistas sugeriram que ela fosse suspensa, com uma campanha de desobediência civil tomando seu lugar.
Consultado sobre a nova estratégia planejada para finalizar a paralisação, um dos líderes grevistas, Américo Martin, disse que "a greve é uma estratégia como muitas outras". "Se a desobediência civil é uma soma ou se é uma substituição à greve, isso é algo que deve ser decidido na hora certa. Pode-se sim substituir a greve pela desobediência civil."
O discurso apaziguador, porém, não foi consenso. Carlos Ortega, presidente da CTV (Confederação de Trabalhadores da Venezuela), disse que a greve prosseguirá com fôlego cada vez maior.
Ele responsabilizou o governo por "favorecer um quadro de violência generalizada para interromper o caminho da normalidade democrática".
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, foi a Brasília para assistir à posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Procurou, ao cumprir esse compromisso externo, segundo seus partidários, demonstrar não temer uma quartelada durante sua ausência do território venezuelano.
Ele declarou ontem que a Venezuela "está sofrendo um golpe de Estado disfarçado de greve geral" e qualificou os que querem afastá-lo de "elite empresarial e sindical corrupta". Acusou seus opositores de "minorias envenenadas pela violência" e acusou a imprensa venezuelana de "falta de ética e de partidarismo".
Do lado das lideranças empresariais, Carlos Fernández, presidente da Fedecámaras, disse, ao discursar para uma multidão reunida em Caracas, que Chávez "é um triste acidente na história desta nação". Encerrou seu discurso desejando um feliz 2003 e apelando para que não se dê "nem um passo atrás".
Governo e opositores procuraram dar uma demonstração de força com manifestações paralelas, em Caracas, que comemoraram a chegada de 2003.
Os partidários de Chávez reuniram-se ao redor de um telão, no qual acompanharam a mensagem de fim de ano do presidente e foram estimulados a prosseguir na defesa da Constituição.
"Deveremos nos preparar para dificuldades ainda maiores no primeiro trimestre do novo ano", disse Chávez. Conclamou os venezuelanos a resistir àqueles que "estão querendo nos asfixiar por meio de uma tentativa de golpe". Qualificou-os de "sabotadores" e de "maus filhos da pátria".
Chávez também evocou Jesus Cristo, a quem chamou de "meu comandante", e exibiu um crucifixo prateado e o modelo de uma bomba de óleo para ilustrar seu esforço para interromper a greve, iniciada em 2 de dezembro.
A festa dos chavistas, com dezenas de milhares de pessoas, terminou em baile, com uma banda de gaitas e canções populares.
A concentração da oposição também reuniu dezenas de milhares de manifestantes. Com apitos, bandeiras e um espetáculo de fogos de artifício, os adversários do governo voltaram a pedir o afastamento de Chávez e prometeram manter a greve até que o objetivo seja alcançado.
Seus participantes ouviram discursos nos quais o presidente, eleito em 1998, foi novamente acusado de estimular o ódio e de querer para a Venezuela um comunismo de modelo cubano.
A oposição quer a convocação para 2 de fevereiro de um referendum sobre o prosseguimento do mandato presidencial. A consulta seria só indicativa. Mesmo se derrotado, o presidente não seria obrigado a renunciar.
Chávez diz aceitar o referendum, mas apenas em agosto, com a metade de seu mandato já cumprido e a possibilidade legal, segundo o governo, de tal consulta.
Apesar de aparentemente não estar enfraquecido, Chávez vê sua sustentação popular diminuir com a crise provocada pela greve, que paralisou a indústria do petróleo. A Venezuela é o quinto maior exportador do produto.
O petróleo representa um terço das riquezas venezuelanas e 70% de suas exportações. A produção não foi plenamente retomada, mesmo depois que Chávez demitiu diretores da estatal do setor. Pela primeira vez, em 40 anos, o país precisou importar gasolina.


Com agências internacionais e com a Sucursal de Brasília


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